MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Como a redução do carbono pode impactar no clima de Salvador

Climatologista Carlos Nobre aponta benefícios e caminhos para o nível carbono zero na capital baiana

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Publicado em 30 de abril de 2024 às 20:08

Salvador tem o quinto maior aumento de temperatura do país, aponta estudo
Salvador Crédito: Paula Fróes/Arquivo CORREIO

A demanda global pela redução de gases na atmosfera se divide no movimento de diminuição dos gases de efeito estufa e, especificamente, pelo movimento de redução de gás carbônico. Em Salvador, assim como no resto do globo, o climatologista Carlos Nobre acredita que a mera inibição do aumento dos eventos extremos já seria uma contribuição.

“Se não deixarmos os eventos extremos aumentarem, eles podem não atingir um nível muito maior do que hoje: ondas de calor, tempestades muito severas, enxurradas, inundações, deslizamentos de encosta, tudo isso vai diminuir. Mas isso é global, não é só reduzindo as emissões de gás carbônico aqui de Salvador, porque o ar e os ventos se misturam”, pontua.

O especialista aponta que, localmente, a redução das emissões é importante para diminuir a quantidade de poluentes na atmosfera, como na queima de diesel, que leva a inúmeros problemas de saúde e muitas mortes. Contudo, defende que a redução de queima de combustíveis fósseis seria um impacto global e, para Salvador, o impacto local de relevância seria o aumento da área verde, que deve possibilitar a redução de carbono.

“Salvador tem uma área verde modesta, pequena, e, quando você aumenta muito a área verde, você baixa a temperatura, cria um microclima muito melhor para a saúde humana, porque as pessoas andam abaixo das árvores, que removem 20% a 30% dos poluentes. Então, essa é uma das soluções que todas as cidades e áreas urbanas muito grandes buscam no mundo, porque é a maneira de melhorar a qualidade do ar e melhorar o clima de cidades, principalmente das cidades tropicais, que têm fenômenos de altas ondas de calor”, destaca.

Para ele, outro aspecto que contribui para a missão de redução de CO2 é a posição de Salvador em relação ao mar. Uma vez que a cidade é litorânea, Carlos Nobre analisa que as temperaturas, apesar de contar com ondas de calor, se beneficia do controle das correntes de ar marítimas.

Outra possível solução sugerida, que inclusive já é empregada em outras cidades, é o processamento dos lixos, que faz com o metano produzido nos lixões sejam capturados e transformados em combustível, de modo a diminuir as emissões. “Tem várias maneiras de tratar os resíduos para diminuir as emissões. Salvador, para chegar em 2049 com emissões zero, tem que diminuir muito a queima de combustíveis fósseis dos veículos e também acelerar muito a infraestrutura para processar os lixões”, ressalta.

Carlos Nobre ainda defende a eletrificação dos veículos. “Na hora que eletrificar todos os ônibus, vai diminuir demais os particulados que causam sérios problemas de saúde e [vai] fazer também um processamento muito melhor de todos os resíduos, principalmente dos lixões”, finaliza.

O que Salvador deve fazer para virar cidade zero carbono?

O ponto inicial para que Salvador se torne uma cidade com carbono zero é focar na redução dos combustíveis fósseis. Segundo o climatologista Carlos Nobre, a queima desse tipo de combustível traz riscos imediatos para a população.

“A queima de combustíveis fósseis prejudica a saúde humana porque, além de jogar os gases do efeito estufa na atmosfera, são micropartículas da queima dos combustíveis fósseis que geram dezenas de milhares de mortes aqui no Brasil, principalmente nas cidades urbanas. Então, tem que ter uma mudança muito grande no uso de combustíveis fósseis, diminuir a poluição, diminuir as emissões - que é um desafio do Brasil como um todo - e aí buscar políticas de adaptação”, diz.

Como exemplo de locais que hoje se destacam pela sustentabilidade, o especialista cita Singapura, cidade-estado asiático que investe em vegetação urbana. Nobre explica que uma medida simples como essa melhora a qualidade de vida da população a partir do clima mais ameno, aumenta a umidade e diminui a poluição.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro