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Vitor Rocha
Publicado em 29 de novembro de 2024 às 20:49
A Bahia possui a 9ª maior taxa de mortalidade infantil do Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o levantamento divulgado nesta sexta-feira (29), em 2023, a cada mil nascimentos, cerca de 14,5 crianças com menos de 1 ano de idade foram a óbito no estado. No entanto, o problema não é restrito aos baianos, mas a uma disparidade econômica regional, uma vez que as unidades federativas do Norte-Nordeste ocupam as dez primeiras posições do ranking.
De acordo com a pesquisa, a Bahia teve uma redução de 0,6 em relação aos dados de 2022, quando a mortalidade constava como 15,1 a cada mil nascimentos. Ainda assim, a média do estado é maior que a do Brasil, que contabiliza 12,5 mortos na mesma categoria. Para efeito de comparação, o estado de Roraima leva o primeiro lugar, com uma taxa de 22,3, enquanto Santa Catarina fica em último, com 8,8.
O problema, segundo a pneumologista pediátrica e paliativista infantil Wendy Nozela, é de âmbito nacional e possui um fator socioeconômico. Ela explica que algumas mortes têm fatores incontornáveis, como anomalias genéticas, mas que a maioria dos casos pode ser evitada. “Na Europa, a média é de três. O problema é que as regiões do país são desiguais tanto na distribuição de leitos e de recursos como no acesso da população à educação, saúde e alimentação de qualidade”, declara.
O contexto racial brasileiro, que carrega marcas da escravidão, como enfatiza Umeru Bahia, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), também contribui para a morte dos pequenos. “O racismo estrutural estabelece severas restrições e péssimas condições sociais aos negros e indígenas, com agravamento de todas as mazelas e riscos sociais. O racismo institucional gera também o racismo ambiental que vulnerabiliza e impõe riscos iminentes à população vitimada”, reitera.
As causas para a morte de recém-nascidos têm mudado de perfil nos últimos anos, conforme aponta Rita Mira, chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Santa Izabel. Ela revela que, ao longo dos anos, a diarreia, desnutrição e desidratação têm sido substituídos por acidentes, falta de assistência no período perinatal e doenças infecciosas. “É importante que a prevenção seja feita por especialistas na infância, não médicos generalistas que não sabem das doenças e tratamentos específicos”, diz.
Apesar do alto índice, os baianos diminuíram a taxa em quase três vezes nos últimos 23 anos, seguindo uma tendência nacional. Em 2000, o estado era o 6º no ranking, com 40,8 mortes de crianças com menos de um ano a cada mil nascimentos. A mudança positiva ocorreu no Brasil todo, que tinha uma média de 28,1 óbitos.