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Tio relata o drama das buscas por jovem soterrado em Saramandaia: 'Só durmo quando ele aparecer'

Paulo Andrade, 18 anos, ainda não foi localizado pelo Corpo de Bombeiros

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 29 de novembro de 2024 às 05:43

Local das buscas por jovem é de difícil acesso Crédito: Paula Fróes/ CORREIO

Quando as fortes chuvas ocasionaram o desabamento de quatro casas em Saramandaia, na manhã da última quarta-feira (27), o auxiliar veterinário Adailton dos Santos, 43 anos, estava no trabalho. Por volta das 9h, o telefone tocou e uma notícia que parecia distante, restrita tão somente aos jornais e à televisão, não apenas teve como cenário a localidade em que ele vivia, como também envolveu três dos familiares mais próximos como protagonistas de um drama que até então não teve fim.

Desde que aquela ligação atrapalhou o turno de trabalho, Adailton se manteve firme para ajudar nas buscas dos soterrados em Saramandaia. Ele estava presente quando a irmã Diane Andrade, 33 anos, e o sobrinho Marcelo Heitor, seis anos, foram resgatados com vida. Ele também viu de perto o resgate do vizinho Adriano dos Santos, 30 anos. Ao CORREIO, ele relatou o desespero vivenciado nos últimos dias e a procura incansável pelo sobrinho Paulo Andrade, 18 anos, que ainda não foi localizado. Confira:

"Logo que recebi a ligação, a reação foi ir de imediato pedir liberação à chefia, pegar o carro e vir para cá. A angústia foi o trânsito para chegar. Quando cheguei, meus outros irmãos já estavam. Eu ouvi o choro do meu sobrinho [Marcelo Heitor], a fala da minha irmã e meu sobrinho de 18 anos [Paulo] tinha falado nos primeiros momentos, depois parou. Ele gritava e gemia de dor, segundo meu irmão. Eu não vi. Nós conseguimos resgatar a criança de seis anos e minha irmã Diane. O vizinho ao lado também, mas horas depois. Desde então, estamos na luta há mais de 24 horas para tirar meu outro sobrinho e nós acreditamos que ele vai sair com vida.

Nas buscas, o cenário é o pior possível. Uma calamidade. É um trabalho de formiguinha: a gente tira barro, chega barro. Tira escombro, chega escombro. Eu só tinha visto algo assim antes por televisão. Inclusive, já tinha visto aqui antes, quando um prédio desabou, mas não tivemos muito acesso. Eu vi bem pouco. Mas agora posso dizer que é muito difícil para quem está vivendo isso. Eu não consegui dormir na última noite e acredito que só durmo agora quando ele aparecer. Pelo menos, estou conseguindo me alimentar, mas porque preciso para continuar ajudando.

Ele era muito próximo de mim, praticamente foi criado comigo. Paulo parece gêmeo do meu filho, eles são idênticos. Tenho muitas histórias com ele, porque saíamos muito. Depois que ele começou a namorar, ele procurou mais o lado dele junto com a namorada, mas ainda assim conversávamos e trocávamos ideia. Éramos amigos mesmo. Inclusive, ele fez aniversário no dia 11 de novembro e reuniu todo mundo. Chamamos a galerinha dele e fizemos uma surpresa. Ficou todo mundo junto e comemorando, e agora vem essa tristeza.

Ainda creio que vai dar tudo certo. Estou metendo a mão na massa, revezando na ajuda e controlando as pessoas que estão entrando em confronto com a Defesa Civil e com o Corpo de Bombeiros. Tem muita gente que acha que não é desse jeito que a busca deveria ser, então eu estou fazendo o meio de campo. No final, sei que vai dar tudo certo".