Aceleradoras de Startups

Por Eduardo Lobo*

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  • Da Redação

Publicado em 18 de abril de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

Como definir uma Aceleradora? O próprio conceito de aceleradora está em constante evolução, à medida que surgem novos modelos, novos programas e novos paradigmas dentro desta nova economia em que vivemos em constante transformação. O termo ‘’aceleradora‘’ descreve um conjunto cada vez mais diversificado de programas, organizações e parcerias. De acordo com Miller e Bound (2011), as aceleradoras compartilham alguns traços comuns como: processo de inscrição aberto a todos, possível provisão de investimento pre-seed, um foco em pequenas equipes em vez de fundadores individuais, tempo limitado de suporte e apoio incluindo eventos programados e mentoria intensiva, classes de várias Startups em vez de classes individuais.

Assim como o termo Startups é bem recente, as Aceleradoras apareceram no cenário mundial apenas em 2005, com a fundação da Y Combinator por Paul Graham, desde então os empreendedores tem deixado as famosas garagens para trás e tem ganhado um grande apoio para o seu crescimento. As Aceleradores têm crescido no mesmo ritmo em que tem aparecido grandes cases de Startups que se tornam unicórnios (Startups que chegam rapidamente a um valuation de 1 bilhão de dólares), não por acaso as Aceleradoras se tornaram key players no ecossistema de Startups de todo o mundo. Elas surgiram para preencher uma lacuna que tornava o caminho de uma Startup, mesmo que de alto potencial, muito árduo e com poucas chances de sobrevivência, além de ter o acesso ao capital de risco muito mais complicado.

Empreendedores como Paul Graham enxergaram nesta lacuna uma oportunidade para apoiar essas Startups de grande potencial, através de programas de treinamento e mentoria que aceleram o crescimento dessas Startups e as aproximam de parcerias e investidores estratégicos para se tornarem grande players do mercado. Em troca deste apoio inicial recebem um equity de até 20% da Startups e quando ela se torna madura vendem uma parte ou todo este equity com lucro nos casos de sucesso e prejuízo nos casos de insucesso, porém o lucro realizado em alguns sucessos são tão grandes que compensam o risco e as perdas dos insucessos que geralmente são majoritários em quantidade, por isso, tem crescido muito em todo o mundo o número de aceleradoras.

Esse crescimento foi tão exponencial que em 2011 já existiam mais de 200 aceleradoras apenas nos EUA e Europa. Y Combinator tem se destacado desde então, ajudando mais de 500 Startups, entre elas Airbnb e Dropbox, e tendo parceria com um dos principais fundos de Venture Capital do mundo o SEQUOIA. Ainda hoje muito se fala da Califórnia com o Sillicon Valley, que foi o primeiro polo de tecnologia e empreendedorismo no mundo e continua sendo o mais famoso, porém não é mais o único e nem o maior, e existem ecossistemas de tecnologia e empreendedorismo muito desenvolvido em todo o mundo, com destaques para Israel, China, Berlim e Londres. Israel é líder mundial em Software de Cibersegurança e apenas na China existem hoje mais de 5.000 Incubadoras. A aceleradora Founders Space, por exemplo, é considerada como a melhor do mundo segundo a Entrepreneur e está sediada em Shangai na China.

Segundo o relatório Global Acelerator Report 2016 da Gust, uma das maiores plataformas para o fornecimento e gestão dos investimentos em fase inicial e que em 2016 já investiu mais de 206 milhões de dólares em 11.305 Startups e em 579 programas de aceleração apenas dentro do Gust, a maior parte dos investimentos estão concentrados nos EUA & Canadá seguido de Europa que representa metade dos investimentos do primeiro colocado. A América Latina fica em terceiro lugar com apenas 24 milhões de dólares. Já no número de Startups aceleradas existe um maior equilíbrio entre Europa em primeiro com 3.701 Startups, EUA & Canadá em segundo com 3.269 e novamente a América Latina fica em terceiro com apenas 1.795 Startups aceleradas. Neste mesmo relatório está consolidado 178 exits reportados por 77 aceleradoras.

Segundo este relatório elaborado pela Gust, as aceleradoras dependem cada vez menos de exits para sua operação, o número de exits caiu em todas as regiões do estudo de 2015 para 2016 fazendo com que a maioria das aceleradoras buscassem novos modelos de negócios para geração de receita: 90,4% das aceleradoras do relatório planejam aumentar suas receitas no médio a longo prazo, incorporando modelos de receita alternativos além dos exits, este incluem cobrança de mentoria, sublocação de escritórios, hospedagem de eventos e consultorias e trabalhos com grandes empresas.

No Brasil desenhou-se um cenário bem específico e as aceleradoras têm contribuído muito para o amadurecimento do ecossistema com um papel fundamental de conectar as Startups e empreendedores com o que ocorre de melhor em todo mundo, a primeira aceleradora do Brasil foi aberta apenas em 2012, sete anos após a primeira aceleradora do mundo, a aceleradora 21212 no Rio de Janeiro. Como no resto do mundo, o crescimento também foi vertiginoso; em Janeiro/2016 segundo um estudo da FGV, já existia no Brasil 41 aceleradoras em atividade, neste período, ainda segundo o estudo da FGV, aproximadamente de 1.100 Startups foram aceleradas por algum programa e receberam no total 51 milhões de reais em investimentos, que variaram entre R$ 45.000 a R$ 255.000 por Startup.

No Brasil existe uma concentração de Startups na região Sudeste, com 71% das startups brasileiras, sendo metade delas em São Paulo. O Nordeste abriga apenas 16% do total de startups no Brasil, a região Sul 10% e a Norte 3%. As aceleradoras que mais se destacam hoje no cenário nacional são a ACE e a StartupFarm, que já receberam prêmio de melhor aceleradora da América Latina e contam com programas próprios de aceleração e muitas parcerias estratégicas com grandes empresas e Governo, esse destaque e atuação forte das aceleradoras tem contribuído para render belos frutos no mercado brasileiro: o Brasil, que não tinha nenhum unicórnio, somou 03 até Março-2018, sendo eles 99 Táxis, PagSeguro e Nubank.

O governo brasileiro entrou forte no apoio a Startups e aceleradoras quando, em 2012, lançou o programa Startup Brasil, que muitos chamam de ‘’a bolha das aceleradoras’’. O programa fornecia R$200.000,00 em subvenção para empresas que passassem pelo processo seletivo e decidissem participar de um programa de aceleração das aceleradoras credenciadas pelo programa, portanto, o governo subsidiou o risco das aceleradoras, fazendo com que algumas delas fossem criadas unicamente com este objetivo, chegando a ter no Brasil até 50 entidades que se denominavam aceleradoras. O programa foi congelado em 2015 e um novo edital foi aberto agora em 2017-2018, onde existem 13 aceleradoras credenciadas: ACE, ACELERA CIMATEC (BAHIA), BAITA, CESA LABS (PERNAMBUCO), FABRIQ (AMAZONAS), FUMSOFT, JUMP (PERNAMBUCO), OUTSOURCE BRAZIL, TECHMALL, VENTIUR, WAVE (CEARÁ), WAYRA E WOW.

Números do programa, dados do site Startup Brasil:

Percebe-se que o movimento do crescimento de aceleradoras, apesar de ainda passarem por experiência e novos modelos de receita, está diretamente relacionada ao desenvolvimento de ecossistemas e comunidades empreendedoras em todo mundo, se tornando os principais HUBs de conhecimento e informações acerca de tudo que envolve empreender com inovação, geração de impacto e tecnologia de ponta. No final o principal trunfo das aceleradoras para que efetivamente acelerem Startups promissoras é a troca de experiências com que já empreendeu, as conexões com o mercado e investidores e a facilitação do acesso a informações relevantes, além da colaboração e cocriação.

Estar em um ambiente com uma grande diversidade de pessoas todas com propósitos distintos, porém compartilhando uma cultura comum de inovação e buscando impactar não só o mercado, mas a sociedade, e o mundo ao redor, pode realmente fazer a grande diferença na vida de uma Startup.

Ainda que a Startup fracasse como negócio, mesmo sendo apoiada por uma aceleradora, de qualquer maneira haverá um legado na mentalidade dos empreendedores que passaram por ela: Saber que podem tentar de novo com uma nova Startup, pois aprenderam uma premissa muito difundida em ecossistemas maduros: errar rápido e aprender mais rápido ainda, ou seja, o erro e o fracasso são encarados de uma forma que o mercado tradicional não está acostumado, e está premissa talvez seja o principal pilar para que sejam criados negócios de alto crescimento e alto impacto e que se tornam grandes players nessa nova economia em constante transformação.

* É Empreendedor serial e presidente da ABAS (Associação Baiana de Startups)

Referências e fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Aceleradora

http://blog.sementenegocios.com.br/o-futuro-das-aceleradoras/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Y_Combinator

http://programalemonade.com/global-accelerator-report-2016/

http://www.kaleydos.com.br/pesquisas-tracam-perfil-das-incubadoras-e-aceleradorasno-mundo/

http://gust.com/accelerator_reports/2016/global/

http://linktoleaders.com/as-10-melhores-aceleradoras-start-ups-do-mundo/

https://www.napratica.org.br/como-funciona-a-maior-aceleradora-da-america-latina/

https://www.napratica.org.br/brasil-abriga-41-dentre-200-aceleradoras-de-startupsmundo/

https://www.academia.edu/29406387/O_PANORAMA_DAS_ACELERADORAS_DE_STARTUPS_NO_BRASIL

https://pt.wikipedia.org/wiki/Start-up_Brasil

https://gust.com

https://acestartups.com.br

https://www.startupfarm.com.br