Câmera de shopping flagrou conversa de empresário que matou jogador e testemunhas

Encontro aconteceu dois dias após o crime

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  • Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 10:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Câmeras de segurança em um shopping de Curitiba flagraram uma conversa entre a família Brittes e três testemunhas do assassinato do jogador Daniel Freitas, dois dias após o crime. As imagens foram divulgadas pelo Fantástico, neste domingo (11).

As imagens de segurança mostram o momento em que a família chega e, em seguida, dois homens chegam. Depois, um terceiro homem se junta ao grupo. A conversa parece descontraída e em alguns momentos Cristina dá risada com as pessoas que estão na mesa.

Porém, em outros momentos ela sinaliza como se demonstrasse preocupação que outras pessoas ouvissem a conversa deles, e aponta a Edison que outras pessoas podem ouvir o que está sendo tratado.

De acordo com o delegado Amadeu Trevisan Araújo, nessa conversa a família propõe uma história para que seja contada por todos à polícia. "Eles deveriam fechar que Daniel saiu da casa e não voltou. E eles fechariam um elo naquela história e que se esse elo fosse quebrado, ele saberia quem foi", disse o delegado em entrevista ao Fantástico.

Uma testemunha contou que durante o aniversário de Allana, ele percebeu que havia uma movimentação no camarote. "O que eu senti assim é que quando ele saía do camarote, ela ia atrás e nada de mais. Ia atrás dele ou vice-versa", relatou. Edison estava próximo no momento em que isso acontecia, mas ele não reagia. 

Áudios A reportagem mostra ainda alguns áudios enviados por Daniel a um amigo. "Moleque, eu juro pra você que eu não tô muito bêbado. É que a situação é desesperadora. Eu não sei como é essa casa que eu vim parar aqui. Mas parece que a casa tem, sei lá, uma casa tem uma coroa dormindo, outra casa tem uma novinha dormindo, o namorado da novinha eu não sei onde tá, o marido da coroa eu não sei onde tá. Moleque, eu não sei o que eu faço, moleque. Me ajuda!", disse.

Já mensagens de WhatsApp anexadas ao processo mostram que Daniel comentou a noite da festa com um amigo. Ele contou que tinha seguido da boate para a casa para continuar a comemoração com Allana e os demais. Depois, mandou outra mensagem dizendo que iria "comer a mãe da aniversariante" e que "o pai está junto". Dezessete minutos depois, ele fala novamente com o amigo. "Comi ela, moleque", diz, enviando uma foto ao lado da mulher, que aparenta estar dormindo - pelo menos duas fotos foram enviadas.

Uma testemunha contou que ouviu gritos de mulher vindo de um quarto, pedindo para que ajudassem a "evitar uma tragédia". Ao chegar lá, já encontrou Daniel sendo enforcado e agredido por Juninho.

Também há prints de conversas de Allana com um amigo em comum que tinha com a Daniel e com a mãe e a tia dele - todos diálogos depois do crime e com informações diferentes. A suspeita diz nas conversas que não teve briga em sua casa e que Daniel saiu tranquilamente. Na segunda, dois dias após o crime, a tia pergunta sobre o jovem e Allana diz que ele saiu por volta de 8h e pouco. A tia quer saber se houve alguma desavença. "Claro que não, imagina. Era a minha casa. Ele só levantou e foi embora", responde a jovem. 

Em outra conversa, esta ainda no sábado, logo após o crime, Allana dá outra versão. O corpo de Daniel ainda não tinha sido achado e ele era considerado desaparecido. O amigo em comum quer saber se Daniel está na casa dela ainda.  "Oi, bebê, não nem vi a hora que ele foi embora", garante a jovem. O amigo pede que ela procure saber com quem ele saiu e, se tiver sido com alguma menina, mandar o número de telefone para que ele tente achar Daniel.  "Então, a menina com quem ele ficou tá aqui. Acordei e ela tava de PT no sofá", responde Allana. "Certeza que já aparece, deve estar com alguma gata", acrescenta, tentando tranquilizar.

Mesmo tom Allana adotou com a mãe de Daniel, já quando o corpo do jogador aguardava para ser identificado. “Se Deus quiser, não vai ser ele. Vamos ter fé. Vai dar tudo certo”. Em seguida, a mãe do rapaz manda um áudio dizendo que Daniel está morto. Allana se diz surpresa. Na segunda-feira (29), pede informações sobre o velório.

A jovem ainda afirma em outra conversa que sua festa de aniversário foi "perfeita". "Ficamos muito doidos, ressaca brava hoje. Era bebida que não acabava mais", disse. "Eu amei tudo, perfeito. Todo mundo amou, graças a Deus." 

Depois que a história veio à tona, Allana endossou o pai e afirmou que viu Daniel tentando estuprar sua mãe. "Descemos e, na hora que abrimos a porta, ele estava em cima da minha mãe tentando estuprar ela. Todo o mundo começou a querer fazer alguma coisa contra ele, porque minha mãe gritava, e ele não falava nada", diz. O advogado da família afirma que o jeito que Allana agiu, contando várias versões para acobertar o crime, é natural. "Um ato impensado e desesperado de uma filha tentando proteger o pai". Allana também chegou a dizer inicialmente que mal conhecia Daniel e que ele teria seguido da boate para sua casa sem ser convidado. Nas redes sociais, contudo, há uma foto dos dois juntos no aniversário dela do ano passado.

A família de Daniel contratou um advogado para representar seus interesses no caso e tentar afastar a acusação do assassino confesso de que o jogador tentou estuprar sua mulher. A polícia ainda investiga a versão e afirma que até o momento não há confirmação sequer se houve sexo, ainda que consensual, entre Daniel e Cristiana. Uma das fotos que Daniel mandou  (Foto: Reprodução) Cronologia do crime Sexta (26): Daniel chega a Curitiba. Ele vai a duas festas, inclusive o aniversário de Allana em boateSábado (27): A festa continua na casa da família de Allana, em São José. O crime aconteceu este dia. O corpo foi achado neste mesmo dia em um matagal.Segunda (29): Amigo reocnhece o corpo de DanielQuarta (31): Corpo de Daniel foi velado em Minas GeraisQuinta (1): Suspeito de matar Daniel é preso e confessa crime. Mulher e filha também foram presasSexta (2): Perícia é feita na casa onde Daniel foi espancado

Linha do tempo (com informações da TV Globo)21h30: Daniel chegou a Curitiba na sexta à noite, por volta das 21h30. Ele deixou as malas na casa de um amigo, com quem iria se hospedar, e saiu depois de um banho para uma festa, a primeira da noite.

00h: Por volta de meia-noite, ele e o amigo seguiram para o aniversário de Allana, em uma boate da cidade. Eles tinham convites para a festa, entregues pelo próprio pai da aniversariante.

05h40: O amigo de Daniel vai embora da boate. O jogador prefere ficar e diz que vai seguir para a casa de Allana, na Região Metropolitana, onde a festa seguiria

06h36: Daniel avisa ao amigo por mensagem que já estava na casa de Allana. Uma testemunha  contou à polícia que os convidados estavam ouvindo música e bebendo. Cristiana, que segundo a família não estava bem, foi a primeira a ir deitar. Outras pessoas também se recolheram. Ficaram na festa Daniel, Edison e outras oito pessoas

08h07: Daniel começou uma conversa com outro amigo. Ele contou que estava em uma festa, com várias pessoas dormindo. Por áudio, ele respondeu ao amigo, que perguntou se estava bêbado, e disse que "não muito". Ele falou também que tinha uma "coroa" na casa, que era a mãe da aniversariante, e que faria sexo com ela. Afirmou ainda que o pai estava junto. O amigo diz para ele se cuidar e que poderia ser expulso da casa. Daniel mandou uma foto ao lado de Cristiana, que aparenta estar dormindo. O amigo quer saber se ele fará sexo com ela acordada ou dormindo

 08h34: Daniel manda uma nova foto ao lado de Cristiana para o amigo e diz que fez sexo com ela. Depois, ele manda a seguinte mensagem, a última: "O que aparecer amanhã é nóis". O amigo quer saber o que isso quer dizer, mas Daniel não responde mais. Posteriormente, o amigo disse à polícia que ele, Daniel e outros dois colegas tinham um grupo de WhatsApp onde mandavam fotos das "conquistas" amorosas, geralmente quando a mulher estava dormindo

10h30: Corpo do jogador é encontrado, ainda sem identificação, em um matagal, com mutilações, marcas de faca e sinais de tortura. 

À noite: O amigo que hospedou Daniel fica preocupado porque ele não deu mais notícias e eles tinham um compromisso. Ele manda mensagem para Allana, que afirma que o jogador foi embora sozinho da casa dela. Este amigo foi quem reconheceu o corpo do jogador, dois dias depois.