Crédito fácil, rápido e caro: cheque-especial cresce 12,1%; linha está entre as mais caras

Cheque-especial é linha de crédito pré-aprovada pelos bancos e de uso imediato

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  • Priscila Natividade

Publicado em 23 de novembro de 2015 às 07:40

- Atualizado há um ano

Em tempos de crise, muita gente já chegou ao limite do aperto e, como a inflação não para de subir, lançaram mão do cheque-especial, uma linha de crédito pré-aprovada pelos bancos e de uso imediato pelos consumidores. 

A facilidade, contudo, esconde uma armadilha: os juros, que, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) chegou no mês de outubro a 10,36% ao mês ( 226,39% ao ano).

Com isso, uma dívida de R$ 1 mil pode mais que dobrar no período em um ano. Para não cair na armadilha, planejamento é essencial para que este tipo de empréstimo seja evitado. Mas como ninguém está livre de emergências, a receita para sair do cheque-especial é cortar gastos ou buscar um crédito mais barato para quitar a dívida o quanto antes. O designer Márcio Serafim viu a dívida com o cheque especial passar de R$ 400 para R$ 1,2 mil (Foto: Evandro Veiga)O dinheiro rápido e direto na conta acabou empurrando o designer Márcio Serafim para uma dívida que, ultimamente, só faz crescer. “Um belo dia o limite caiu lá  na conta e eu nem sabia. Pensei que poderia ser um extra, ou algum pagamento que tinha recebido. Mas não, o banco colocou no escuro e quando vi, a conta já estava negativa e eu com a corda no pescoço". 

Atualmente, a dívida de R$ 400 está em  R$ 1,2 mil. “Reconheço que usei o dinheiro, mas os juros são abusivos demais. É um limite que o banco insiste para que a gente use, mas eu nunca pedi”, diz.A taxa do cheque-especial é a segunda mais cara entre as linhas de crédito mais populares do Brasil, perde apenas para o rotativo do cartão de crédito (13,73% ao mês, ou 368,27% ao ano). “Mesmo sendo um crédito rápido, não dá para ignorar a taxa de juros e fazer do cheque-especial a extensão da sua renda. É um crédito de emergência. Usou hoje, pagou  amanhã”, fala a educadora financeira da DSOP, Meire Cardeal. Quem segue este conselho é a assistente de Recursos Humanos Lana Figueiredo, que às vezes se vê obrigada a entrar no cheque-especial. “Como não costumo parcelar minhas compras em muitas vezes, o valor ultrapassa o salário e aí o jeito é entrar no limite”, afirma. Mas os excessos do mês anterior a obrigam a economia maior no mês seguinte. “Reduzo os gastos com o cartão de crédito e fico só no essencial. Por mais tentador que pareça aquele limite ali disponível na sua conta bancária”, garante.Para não cair nestas “armadilhas”  do cheque-special, o também educador financeiro da DSOP Rodrigo Azevedo orienta que as pessoas revejam seu padrão de vida e de consumo, pois quando bem utilizado, o crédito pode ser uma ótima ferramenta. “Planejamento é essencial, assim como a mudança de comportamento em relação ao crédito para que aquilo não se transforme outra dívida”, fala. E se o débito já existe, o jeito é ir em busca de uma linha de crédito mais barata, com juros menores. “Amortize o cheque-especial com um crédito com taxas mais reduzidas, como o empréstimo pessoal, por exemplo. No entanto, é essencial rever todo o orçamento antes”, orienta. Neste caso, o especialista em finanças  ainda faz mais um alerta: “Não quite uma dívida já pensando em contrair outra. É um processo de reeducação - entender a dívida e tratar o problema na causa e não no efeito”, recomenda. Demanda por crédito deve crescer 30% já no início do anoA poupança zerada para cobrir as despesas do orçamento pode aumentar ainda mais a demanda por crédito, principalmente no início do ano. A projeção é da Associação Nacional das Empresas de Crédito (Aneps), que estima um crescimento de 30% na contratação de linhas de crédito para compensar o déficit no orçamento familiar.

“Com as finanças desequilibradas, todo mundo vai precisar de um socorro para  cobrir esse buraco”, assegura o presidente da Aneps, Edison Costa. “Logo no inicio de 2016, com as matrículas escolares e o IPVA, a demanda vai atingir um patamar mais expressivo”, acrescenta.

Ainda segundo ele, diferente do que aconteceu nos últimos anos, a contratação do crédito em 2015 é estimulada muito mais pela necessidade de suprir o orçamento do que para consumo. “A maioria das pessoas tem contratado o crédito por conta de um déficit orçamentário que precisa ser coberto”.

Já pensando nas despesas do início do ano, a professora Celeste Dias já renovou o empréstimo consignado. “Meu salário não está dando para cobrir as despesas, principalmente porque comprei um carro financiado e não posso atrasar as parcelas”. Para quem vai precisar de crédito como a professora, vale mais uma dica: “Neste momento é importante refazer as contas, entender a necessidade do empréstimo e buscar a menor taxa de juros possível”, ensina Edison Costa. “Financie o empréstimo dentro de um prazo adequado e com uma parcela que caiba no bolso”, aconselha ele.