Homenageado no Braskem, Antonio Pitanga faz discurso emocionante

"Hoje sou uma criança que durmo o sono dos justos porque a minha Bahia me reverencia", disse

  • D
  • Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2018 às 10:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Homenageado da 25ª edição do Prêmio Braskem de Teatro, o ator Antonio Pitanga, 79 anos, protagonizou um dos momentos mais emocionantes da cerimônia, realizada na noite desta quarta-feira (13), no Teatro Castro Alves. Depois de ser chamado ao palco com as expressão "o filho da Baía de Todos-os-Santos" , "rei na arte de atuar, "ícone do Cinema Novo", "bravo guerreiro do povo brasileiro" e "o Pantera Negra baiano", Pitanga iniciou seu discurso pedindo bençãos.  "Quero pedir a benção à todas as entidades, no dia de Santo Antônio, meu Ogum, que continuem me abençoando”, falou.

CONFIRA ESPECIAL DO PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO

Pitanga lembrou que Glauber Rocha o aconselhou a fazer teatro e estendeu o conselho às novas gerações: “O ator tem que fazer teatro, sua casa, seu pilar. Tudo começa pelo teatro", disse, ao falar das dificuldades de um jovem negro estudar teatro na década de 50.  O ator destacou ainda que sua carreira começou quando as artes cênicas não eram vistas com bons olhos pela sociedade. "Foi ela quem me deu consciência de raça, de gênero, de classe", frisou.

A questão racial permeou todo o seu discurso. "Será que os deuses do teatro, a fonte de Dionísio, não vem lá das Áfricas? Esse continente de 54 paises, de cultura tribais? E essa Bahia de  90% de população negra, essa Bahia que é pilar de uma cultura onde se bebe, come, canta, dança o negro? E o branco nem percebe isso?!", provocou. Ele ainda fez questão de mencionar nominalmente diversos artistas contemporâneos seus. "Imagine um baiano como tantos outros hoje, como os orixás, como as antidades. Hoje eu sou Mario Gusmao, sou Geraldo Del Rey, sou Sonia dos Humildes, Glauber Rocha, Roberto Pires, Othon Bastos, Helena Ignez, Martim Gonçalves,  tantos que passaram por nós", citou.

"Esse prêmio é uma revisitação à minha Bahia, ao meu povo, à minha família do teatro, das artes, da música, da literatura, do cinema, da capoeira. Neste templo sagrado, me chamam para ser homenageado em vida. Muito obrigado minha Bahia. Viva minha Bahia”, ressaltou o ator, bastante emocionado com a homenagem à sua carreira ainda em vida. "Hoje sou uma criança que durmo o sono dos justos porque a minha Bahia me reverencia", continuou.

Em entrevista ao CORREIO pouco antes da cerimônia, Antonio Pitanga falou que se sentia como uma árvore centenária. "Eu me torno uma árvore centenária com esse tipo de gesto, de carinho. Juntos, todos nós, somos colocados em uma homenagem a revisitar a história do cinema, das artes, não só do teatro. Vem um filme na minha cabeça. Vejo pessoas de várias idades bebendo na fonte do conhecimento. Eu sou humano, então estou balançado", comentou.