Jovens negros são expulsos com truculência por seguranças do Salvador Shopping

Ambos foram levados para a polícia; um foi liberado e o outro encaminhado para delegacia

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  • Da Redação

Publicado em 28 de dezembro de 2020 às 21:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Dois jovens negros foram retirados à força do Salvador Shopping por seguranças do estabelecimento por volta das 17h55 desta segunda-feira (28), no terceiro piso do local. Ambos foram alvos de uma abordagem truculenta. Segundo testemunhas, um deles recebeu um mata-leão e foi arrastado por dois funcionários do centro de compras enquanto gritava por socorro.

Segundo pessoas presentes no local, os jovens aparentavam ter entre 12 e 16 anos. Os dois foram levados para os corredores internos do shopping pelos seguranças, onde outra funcionária fazia a guarda na porta para impedir a entrada de quem acompanhava a situação.

Os meninos foram levados para a polícia, um deles foi liberado e outro encaminhado para a delegacia para apuração da ocorrência, segundo o Salvador Shopping.

Um casal que pôde acompanhar o processo de expulsão dos dois do local disse ter sido informado que o jovem levado pelas autoridades tem uma reclamação de violência no shopping em seu nome. Uma testemunha que não quis se identificar afirmou que o garoto foi levado em uma viatura da Polícia Militar, mas os outros presentes não souberam confirmar a informação.

“O casal nos contou que os meninos não estavam machucados, que eles estavam bem. Disseram que a abordagem policial manteve distância, conferiram o bolso deles, mas não de forma truculenta. Eles não tinham sinais de violência aparentes”, contou a estudante Júlia Magalhães, 23 anos, que acompanhou o desenrolar dos fatos.

Um dos meninos reagiu de forma mais dura à abordagem gritando muito e tentando fugir dos seguranças. Ele, inclusive, caiu no chão, conforme mostra um vídeo que circula nas redes sociais.

Os funcionários responderam com mais brutalidade, afirmaram os presentes, que contaram ainda que o outro jovem estava mais calmo. Ambos tentaram, de alguma forma, não ser levados pelos agentes de segurança.

Pelo menos seis pessoas esperaram no shopping até o final da expulsão para garantir que os jovens não seriam machucados e cobrar uma resposta do estabelecimento sobre a brutalidade da atuação dos seguranças. O grupo não prestou queixas na polícia nem abriu uma reclamação no Salvador Shopping sobre o caso.“Fiquei preocupada vendo essa situação de violência e racismo, por isso, fiquei esperando com outras pessoas para saber como estavam os meninos. Pedimos para ver eles na sala, mas os seguranças barraram a entrada. Depois de um tempo, um casal foi liberado para acompanhar a entrega dos meninos para a polícia”, relembrou Júlia.Outra testemunha que não quis se identificar contou que o casal não acompanhou a ação por inteiro, só tendo acesso aos jovens mais para o final da retirada forçada. 

Aos presentes, o Salvador Shopping afirmou que a ação era necessária porque os meninos se recusaram a deixar o estabelecimento. Em nota enviada ao CORREIO, o estabelecimento lamentou o ocorrido e disse que a conduta dos colaboradores envolvidos está em desacordo com as orientações e treinamentos periodicamente ministrados à equipe."O fato está sendo apurado internamente para a individualização das responsabilidades e aplicação das sanções cabíveis. Queremos reiterar que, em momento algum, concordamos com o que acontece nas imagens. O centro de compras reforça que vem dialogando com todos os órgãos competentes sobre o tema", concluiu o Salvador Shopping em nota.Para uma das testemunhas, um outro segurança contou que os meninos ameaçavam clientes do shopping enquanto vendiam revistas e outros objetos dentro do centro comercial. “Me disseram que eles abordavam os clientes e xingavam os que não compravam as coisas que eles vendiam. Mas nada justifica a forma como eles agiram”, relatou a testemunha.

Dois funcionários do shopping que acompanharam a ação relataram que os meninos já tinham sido vistos no local e que outras situações parecidas já tinham ocorrido por lá.