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Wendel de Novais
Publicado em 17 de março de 2021 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Quando se chega no interior baiano em lugares mais remotos de helicóptero, o roteiro é sempre o mesmo, não tem jeito. Ao redor da aeronave, se forma um amontoado de crianças e adolescentes com olhares curiosos e vidrados em cada detalhe daquela máquina voadora que só viam na televisão, nos filmes. Fascínio que não fica só no helicóptero, mas também em quem o conduz, que vira referência, praticamente uma estrela para os pequenos, que estão cheios de perguntas e dispostos a uma troca de experiências. Foi dessa abertura que surgiu o Livros Que Voam, projeto criado por pilotos da Casa Militar do Governador (CMG), que viram nesse momento de interação com os admiradores mirins do interior do estado a oportunidade perfeita para incentivar a leitura entregando livros para os que se aproximavam para ouvi-los.>
Mesmo com pouco tempo de existência, o Livros Que Voam, no Instagram como @livrosquevoam_oficial, já distribuiu 400 livros e tem mais 600 em mãos, que ainda não foram entregues por conta da situação da pandemia no estado. O alcance, no entanto, já gera frutos e deixa pais muito agradecidos, que gravaram depoimentos sobre ação, mas não se identificaram. "A gente fica muito feliz, eles chegaram em casa vibrando. Não temos muito, mas sabemos a importância dos livros. A leitura é um dos caminhos para melhorar o mundo", diz uma mãe que apoia tanto a ação que doou livros já lidos por seus filhos para o projeto.>
Assim como essa mãe, muitos outros responsáveis pelos pequenos vão até os pilotos para agradecer por entenderem o impacto que a leitura pode ter na vida de uma criança que vive em regiões mais remotas, em que o acesso a livros é mais complicado. Eduardo afirma que já perdeu a conta do número de pais que os procuram para dar um feedback positivo sobre a ação. "A gente tem tido cada momento bacana com os pais. Eles ficam muito contentes, agradecem. Os pais sabem a importância da ação. Uma mãe de Catu, por exemplo, viu a criança chegar em casa com um e trouxe mais 10 pra doar. O retorno é sempre muito positivo", fala. Eduardo conta que tem recebido feedback positivo dos pais das crianças contempladas pelo projeto (Foto: Paula Froés/CORREIO) De acordo com Eduardo, não são só os pais que demostram tanta alegria. As crianças e os adolescentes que ficam conversando com os pilotos também ficam empolgados com os livros e as histórias que podem decifrar mesmo dentro de casa. "Eles saem diferentes. Depois da gente contar tudo sobre o que a leitura pode fazer e compartilhar nossas vivências, eles olham para os livros de outra forma. Fico feliz demais porque a leitura me salvou. Eu também vim de bairro pobre, com pouco acesso às coisas, mas a educação transformou a minha vida", relata Eduardo, que é do bairro Alto das Pombas, de Salvador.>
Movimentação solidária>
Todo esse impacto só é possível graças a predisposição não só de Eduardo, mas de todos os pilotos da CMG que tiraram do próprio bolso o valor dos primeiros títulos distribuídos, da doação de muitas pessoas que já ajudam o projeto e do auxílio do Tenente Coronel Ivã Antônio dos Santos, que pensou a execução do Livros Que Voam com Eduardo e tem um papel fundamental na organização do projeto. De acordo com Dos Santos, sua participação é na logística para fazer com que a coisa ande. "Minha função é auxiliar na parte organizacional para que seja possível que isso seja realizado na prática. Operamos principalmente pelo Instagram para difundir o projeto e contar com a adesão de pessoas e empresas que acolham a nossa ideia. Tudo isso porque a ideia de Eduardo foi genial e faz um bem gigantesco não só para as crianças, como também para as famílias", declara. Ivã é fundamental para parte operacional do projeto (Foto: Paula Froés/CORREIO) A intenção dos organizadores é que, além de continuar com doações ao redor da Bahia, a prática possa se tornar comum em toda a aviação do Brasil, que viaja pelos quatro cantos do país. Já há, inclusive, a previsão de construção de um projeto para ser apresentado para as autoridades nacionais de aviação. Por enquanto, a perspectiva é que, ainda em solo baiano, mais livros possam ser arrecadados e distribuídos em toda missão do CMG. Quem quiser ajudar o Livros Que Voam, é só procurar o projeto pelo Instagram, no @livrosquevoam_oficial e entrar em contato por mensagem direta. Lá, todas informações sobre a logística para a entrega desses livros podem ser combinadas com os voluntários.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>