Luciana Khoury: guardiã do Velho Chico e da comida sem veneno

Por Flavia Azevedo

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 27 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Baiana, neta de avô sírio, 44 anos, casada, sem filhos, formada em Direito pela UFBA, pós-graduada em Direito Ambiental e Urbanístico pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul, mestranda em Direito, na UFBA. Atualmente, é promotora regional ambiental, em Paulo Afonso. Apaixonada por música, dança, viagens, literatura e por cantorias, entre amigos.  Luciana está no Ministério Público desde 2000 priorizando a atuação na área ambiental desde o início, quando esteve na promotoria de Lençóis. Antes de ser promotora de justiça, foi advogada na área de direitos humanos. Entre 1998 e 1999, atuou no GAPA (Grupo de Apoio de Prevenção à Aids da Bahia) onde aprimorou sua formação humanista no exercício do enfrentamento para a garantia dos direitos das pessoas que vivem com HIV.

Atualmente, são duas as causas principais da vida desse mulherão: A primeira, é a defesa do Rio São Francisco e das suas comunidades tradicionais. A segunda, é o combate ao uso de agrotóxicos, nesse tão permissivo país chamado Brasil.

A relação com o rio é ancestral. Foi em Juazeiro, na margem do Velho Chico, que os pais de Luciana se conheceram. O avô materno era juiz daquela comarca e o paterno passou a morar lá quando fugiu da guerra da Síria. Da família de origem, veio um vínculo profundo com o rio que acabou impactando no percurso profissional. A promotora idealizou e coordena o programa de proteção e fiscalização FPI (Fiscalização Preventiva Integrada), há 20 anos. O objetivo é, por meio de ações nas cidades por onde o São Francisco passa, proteger o rio e suas comunidades tradicionais contra degradações ambientais. Um trabalho em conjunto que acontece através do  Nusf (Núcleo de Defesa da Bacia do Rio São Francisco) - órgão do MP-BA - e conta com o apoio de mais de 30 órgãos e ONGS brasileiros. 

"Muitos resultados positivos vem sendo alcançados", Luciana comemora. Entre os exemplos recentes, a retirada de uma extração mineral em uma comunidade indígena, em Muquem do São Francisco. Além disso, a regularização de 40 casas de revendas de agrotóxicos em Juazeiro e  50 termos de ajustamento de conduta com piscicultores para regularização dos empreendimentos, na região. “Dar voz e vez ao povo do São Francisco é a minha missão. É a minha cachaça”, ela diz. Mas não é só isso.

[[publicidade]]

Luciana também coordena o Fórum Baiano de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, que realiza plenárias de dois em dois meses articulando órgãos, universidades e entidades da sociedade civil. Vinculado ao fórum nacional, tem 38 instituições parcerias que participam com o objetivo de informar a população e ao mesmo tempo adotar medidas estratégicas para enfrentamento dos impactos do uso dos agrotóxicos. Entre outras atividades, o fórum baiano elabora, neste momento, um dossiê sobre a situação que vivemos na Bahia

"Devemos perceber a necessidade de ter a sociedade conhecendo os problemas na saúde e no meio ambiente provocados pelos agrotóxicos. É muito importante valorizar a produção agroecológica e experiências exitosas sem veneno para que não tenhamos riscos para a população" diz a promotora que, por essas e outras, receberá a comenda Dois de Julho. Está é a condecoração mais importante da Assembleia Legislativa (AL), oferecida a baianos com contribuições relevantes ao Estado. A cerimônia será dia 1º de agosto, às 10h, no Plenário da AL, no CAB.