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Pesquisadores protestam contra corte de R$ 6 milhões em financiamento de projetos

Manifestantes aproveitaram o Dois de Julho e lançaram um manifesto

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  • Milena Hildete

Publicado em 2 de julho de 2018 às 17:14

 - Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho

Em cinco anos, as universidades e organizações de pesquisa científica do Brasil deixaram de receber R$ 6,7 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, de acordo com o  presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich. Contra o corte, professores e pesquisadores participaram de uma manifestação durante o desfile do Dois de Julho, em Salvador, no início da manhã desta segunda-feira (2).

Segundo Davidovich, as instituições recebiam R$ 10 milhões em 2013. "Hoje, nós recebemos R$ 3,3 mi, o que equivale a um terço do valor total. A falta de investimento prejudica a qualidade de vida da população" afirma ele.

Segundo o reitor da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), Silvio Soglia, o problema já começa a impactar  a pós-graduação, os editais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e os cursos de extensão  oferecidos pela instituição. “Tem dois anos que o Ministério da Educação não investe em programa para a pós-graduação e nos cursos de extensão”, diz. 

O protesto foi realizado pela Academia de Ciências da Bahia, organização fundada pelo ex-governador Roberto Santos, e reuniu cientistas baianos e representantes de oito universidades da Bahia. Entre elas, as universidades federais da Bahia (Ufba), do Recôncavo (UFRB), do Oeste (Ufob) e do Sul da Bahia (Ufsb); as estaduais da Bahia (Uneb), de Feira de Santana (Uefs), de Santa Cruz (Uesc) e do Sudoeste da Bahia (Uesb).

Manifesto No início do desfile, a Academia lançou um manifesto em defesa de maior apoio para as atividades científicas no país, particularmente na Bahia. O documento "Em Defesa da Ciência" enfatiza a situação de total desestímulo às atividades científicas no país e conclui com um alerta: "Nosso objetivo é, além de despertar na consciência da população o valor da ciência, da educação e da cultura, sobretudo alertar os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário sobre a necessidade de dar um fim à lamentável situação de penúria orçamentária que aflige esses setores em nosso país. Investir neles hoje é nossa única garantia de futuro".  Pesquisadores e alunos durante manifestação no Dois de Julho (Foto: Divulgação) O presidente do órgão, Jailton de Andrade, afirmou que é necessário ressaltar a importância da ciência para a sociedade e pontuar que “trata-se de uma atividade complexa e que não pode ser descontinuada. Requer, entre outros fatores, planejamento e financiamento adequados e de longo prazo”. 

Ainda segundo ele, há pelo menos cinco anos o setor vem sofrendo cortes orçamentários significativos e que comprometem o seu futuro no Brasil. “A situação é de penúria generalizada”, diz ele, complementando: “Se, por um lado, a maioria dos governos estaduais não cumpre os seus compromissos com o investimento em ciência e tecnologia, por outro lado o governo federal, além de não cumprir os repasses para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (FNDCT), tem imposto à área grandes cortes orçamentários”.

Ameaça O  presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu Moreira, afirmou que a falta de investimento na ciência traz constantes problemas para a sociedade. "Todo aparato de ciência e tecnologia do país está ameaçado. Quando se deixa de investir em ciência, todo mundo fica afetado, principalmente, quem precisa de saúde e educação. Queremos defender a ciência brasileira", afirmou.

Professora do curso de Saúde Coletiva da Ufba, Isabela Cardoso disse que os protestos são importantes para chamar a atenção da sociedade. "Reunir a universidade e outras instituições de ensino é importante para refletir em relação aos cortes que a educação vem sofrendo".

MEC A assessoria de comunicação do  Ministério da Educação (MEC) informou, por meio de nota, que não houve cortes para as universidades federais em 2018 e que o Ministério está garantindo o fluxo financeiro regular e sem atraso para todas as instituições. “Mesmo com as limitações orçamentárias que o país enfrenta, não é verdade que falte recurso para as universidades”, diz a nota. 

Mais protestos Dezenas de sindicatos e outros grupos também fizeram o trajeto segurando faixas de protesto por diferentes razões. 

A delegada do conselho de direitos Humanos, Barbara Trindade, aproveitou o desfile para chamar atenção da violência contra a mulher. "Eu vim aqui para participar do desfile e para pedir que as mulheres tomem consciência em relação a questões de violência. Não é normal apanhar, e esse crime precisa ser denunciado", falou. Grupos protestaram contra a violência (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Outro homem, que se identificou como Raul Seixas, foi ao desfile para protestar contra a corrupção. Levando uma mala cheia de dólares falsos, em referência aos R$ 51 milhões encontrados em um apartamento na Graça e atribuídos a Geddel Vieira Lima, o homem saiu pelas ruas pedindo por "menos roubalheira".

* Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier