Primeira variedade de algodão longo do país, adaptada ao cerrado, é lançada na Bahia Farm Show

Produto transgênico com fibra de alta qualidade e resistente a pragas foi apresentado em evento de agropecuária no Oeste baiano

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  • Priscila Natividade

Publicado em 1 de junho de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

Alta produtividade, fibra de qualidade superior, adaptação ao cerrado e resistência às principais lagartas que atacam o algodoeiro e ao herbicida glifosato são algumas das características da primeira variedade de algodão de fibra longa transgênica do Brasil, lançada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação Bahia durante a 13ª edição da Feira de Agronegócio Bahia Farm Show, que acontece até sábado (3), no município de Luís Eduardo Magalhães, Oeste do estado.

Outras duas espécies de algodão (BRS 432 B2RF e BRS 430 B2RF) também foram apresentadas para os agricultores, além da BRS 433 FL B2RF. As espécies chegam para aumentar a competitividade do setor ao suprir a demanda do mercado interno, visto que, atualmente, o Brasil precisa importar fibras mais longas de países como importada de países como o Egito, Estados Unidos e Peru para conseguir atender à indústria têxtil na fabricação de tecidos finos.

“Estas opções de cultivares com genética adaptada irão permitir que o produtor tenha uma produção de menor custo e maior rentabilidade para que isso possa aumentar o valor agregado da fibra cultivada no cerrado”, pontua o pesquisador líder do programa de melhoramento genético do algodoeiro na Embrapa, Camilo Morello.Foto: Sérgio Cobel/DivulgaçãoA cultivar BRS 433 FL B2RF possui comprimento de fibra superior a 32,5 mm com elevada resistência, o que a torna ideal para a fabricação de roupas. O comprimento médio das fibras atualmente disponíveis no mercado é em torno de 30 milímetros. A espécie conta com a tecnologia Bollgard II Roundup Ready Flex (B2RF, da Monsanto), que garante a transgenia da planta e permite sua adaptação genética, como explica ainda o pesquisador. “Uma planta transgênica possui genes cuja origem não é da própria espécie. No caso da cultivar BRS 433 FL B2RF, os genes que a originaram vem de uma bactéria chamada bacillus thuringiensis. Esse gene quando introduzido dentro da planta de algodão produz uma proteína que é tóxica a lagarta que ataca à lavoura”.

A produtividade em pluma foi testada na safra 2015/2016 nos estados de Goiás, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Piauí. A produtividade média é superior a 4.500 quilos (300 arrobas) de algodão em caroço por hectare e a produtividade máxima pode ultrapassar seis mil quilos (400 arrobas) de algodão em caroço por hectare. Em média, a variedade levou 10 anos para ser desenvolvida. “Desde os primeiros cruzamentos até chegar a uma variedade como esta há toda uma metodologia de seleção, introdução de transgenia até uma rede ampla de testes”, assegura o pesquisador da Embrapa.Foto: Priscila Natividade/CORREIOBiotecnologia no campoSegundo o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA), Júlio César Busato, a expectativa é que a nova variedade comece a ser plantada em algumas áreas do Oeste ainda no mês de junho, durante o Dia do campo do Algodão, promovido pela entidade. “Estamos trazendo novas tecnologias para a produção de algodão no cerrado, ao adaptar esta genética para o ambiente tropical. A expectativa é que isso represente um aumento na lucratividade dos produtores e um incremento da cultura do algodão na Bahia”, afirma.

Para o presidente da Fundação Bahia, Ademar Marçal, o maior diferencial da cultivar está na adaptação da planta às necessidades do produtor baiano. “Não adianta ter solo fértil e clima, se a gente não tem variedades que atendam ao produtor baiano. Há muito tempo não lançávamos uma nova variedade de algodão. Em 2019, a tendência é que a gente tenha muito mais linhagens interessantes”.

Só na Região Oeste, onde a área ocupa a segunda maior produção do país, a cadeia do de algodão responde pela geração de 40 mil postos de trabalho. Na última safra (2016/2017) que começa a ser colhida entre os meses de junho e julho, forma 190 mil hectares de área plantada com projeção de produtividade maior que 270% em comparação com a safra anterior. O algodão que sai do Oeste baiano é exportado para Indonésia e China e no mercado interno atende, principalmente, as fiações do Nordeste.