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Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2018 às 11:43
- Atualizado há 2 anos
Quatro em cada 10 paulistanos são contrários à demonstração de afeto, como beijos e abraços, entre homossexuais em locais públicos. Uma pesquisa inédita da Rede Nossa São Paulo, lançada hoje (22/5) mostra que quando o assunto é convivência íntima com casais do mesmo sexo, os moradores da capital paulista ainda apresentam resistência. A conclusão do levantamento é que o paulistano é mais favorável às questões ligadas aos LGBTs quando elas acontecem "longe" do entrevistado. Somente 22% dos moradores de São Paulo apoiam que pessoas do mesmo sexo demonstrem afeto, como beijos e abraços, em locais públicos. Já 43% são contrários e 30% não são a favor nem contra. O resultado é semelhante à demonstração de afeto na frente de familiares: 38% dos entrevistados rejeitam e 23% se declaram a favor. >
O estudo "Viver em São Paulo", com foco em diversidade sexual, revela ainda que são nos espaços e no transporte públicos que os paulistanos mais afirmam ter vivido ou presenciado casos de preconceito de gênero ou orientação sexual. Em espaços públicos, 51% relataram já ter visto ou vivido situações de homofobia - já no transporte público, 46%. >
Segundo o coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, não havia dados em relação à temática LGBT especificamente na cidade de São Paulo. Com o estudo, será possível criar ano a ano uma série histórica sobre a relação do paulistano com a população homossexual.>
Abrahão diz que a pesquisa aponta para uma "relativa hostilidade" da cidade aos LGBTs. Ele destaca as situações de preconceito no transporte público. >
"Se cinco em cada dez paulistanos já tiveram de algum maneira contato com situação de preconceito, isso significa seis milhões de pessoas. Serve de alerta que o transporte público seja um vetor que sempre apareça. Quando pesquisamos situações de assédio sexual com mulheres, o transporte público também surge como um problema do ponto de vista da segurança", afirmou.>
"O resultado mostra que precisamos de um transporte mais seguro e, para isso, podem ser feitas mais campanhas e mais fiscalização. Teria um impacto muito grande na cidade", avaliou>
Também quatro em cada dez paulistanos já vivenciaram ou presenciaram situações de preconceito de gênero ou orientação sexual em shoppings, bares, restaurantes, escolas, faculdades e comércios. O contato com todas as situações de homofobia investigadas é mais acentuado na região norte da cidade. >
Posição favorável>
Mais da metade dos moradores de São Paulo (54%) é favorável à criação de leis de incentivo à inclusão dos LGBTs no mercado de trabalho, a pessoas transexuais e travestis adotarem o nome social, ou seja, o nome pelo qual preferem ser chamados(as) (53% de favorabilidade) e à adoção de crianças por casais homossexuais (51% de favorabilidade).>
Com a maior rejeição pelo paulistano, está a criação de banheiros unissex ou sem demarcação de gênero. Enquanto 52% são contrários à ideia, somente 20% apoiam. >
Administração municipal>
Cerca de 3/4 dos consultados avaliam que a administração municipal tem feito pouco ou nada para combater a violência contra a população LGBT. >
Para 46% dos entrevistados, a Prefeitura de São Paulo tem feito muito pouco para combater esse tipo de violência e para 28% a Prefeitura não tem feito nada. Dos entrevistados, 8% afirmam que a gestão municipal tem feito muito para garantir a segurança da população e 18% não souberam ou preferiram não responder.>
"A avaliação da Prefeitura é baixa. Há uma sensação de que poderia estar sendo feito mais. Onde mais aparecem os preconceitos é nos espaços públicos. São lugares em que a Prefeitura está presente. É um campo que a Prefeitura poderia estar assumindo mais o papel", afirma o coordenador da Rede Nossa São Paulo. >
Índice de LGBTfobia >
Nesta edição da pesquisa "Viver em São Paulo", foi criado um índice para classificar a população paulistana em relação à variação da favorabilidade sobre frases ligadas à temática.>
O resultado final é uma escala que varia de 0 a 1. Sendo quanto mais próximo de 0, mais favorável é o respondente em relação aos temas LGBTs, e quanto mais próximo de 1 é o índice, mais contrário ele é. >
Na média, São Paulo alcançou o índice de 0,46 - o que representa que, de forma geral, que o paulistano é "timidamente mais favorável" às questões LGBT.>
"O índice está quase meio a meio, mostrando uma tênue tendência da população a ter maior aceitação. Ainda estamos no meio do processo, tendo que trabalhar essas questões. Existe muito a ser trabalhado para que possamos reduzir esses problemas", disse Abrahão. >
O perfil do grupo mais favorável a questões relacionadas à população LGBT é composto por mulheres, mais escolarizadas, da região oeste da cidade, de religiões diversas, com renda familiar de mais de cinco salários mínimos e com idade entre 25 e 43 anos. >
Já o perfil do grupo mais contrário a questões relacionadas à população LGBT é composto por homens, menos escolarizados, da região leste da cidade, evangélicos ou protestantes, com renda familiar de menos de dois salários mínimos e com mais de 55 anos>
Foram entrevistadas 800 pessoas. A pesquisa incluiu no perfil amostral a pergunta de autodeclaração sobre a orientação sexual dos entrevistados. O resultado aponta que 90% dos paulistanos se declaram heterossexuais, 3% homossexuais, 2% bissexuais e 5% não sabe ou não respondeu. >