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Millena Marques
Publicado em 8 de agosto de 2024 às 05:00
Aos 34 anos, 21 dedicados à canoagem, a baiana Valdenice Conceição, carinhosamente conhecida como ‘Neta Canoa’, entrou para história. Ela é a primeira mulher brasileira a garantir uma vaga na canoagem velocidade feminina em uma edição de Olimpíada. Natural de Itacaré, no litoral sul do estado, a canoísta estreou nos Jogos de Paris-2024 hoje, competindo na prova dos C1 200 metros. >
A vaga olímpica foi conquistada em abril deste ano, no Pan-Americano de Canoagem Velocidade, realizado em Sarasota, na Flórida, nos Estados Unidos. O feito histórico é resultado de um trabalho árduo e repleto de vitórias: Valdenice foi a primeira brasileira a ganhar uma medalha em canoagem velocidade nos Jogos Pan-Americanos de 2015, com o bronze no C1 200m. Dois anos depois, ela ganhou ouro na Copa do Mundo de Racice, na República Tcheca. >
O amor de Valdenice pela canoagem é antigo. Filha de pescadores, o contato com água faz parte da rotina da atleta desde a infância. Inspirada pelo irmão, Bitta, começou a remar aos 13 anos.>
“Foi quando meu irmão foi para os Jogos Pan e retornou campeão, foi uma alegria muito grande e isso me motivou muito. Todo mundo fez festa na cidade, e essa emoção me motivou a entrar no mundo da canoagem”, lembrou Valdenice. >
Com um irmão canoísta, um certo espírito de competição é cultivado dentro de casa. A rivalidade, no entanto, é tranquila. >
“Temos uma disputa saudável dentro de casa, de quem tem mais medalhas, mais competições, viagens, mas tudo para a história, para depois contarmos e darmos risada. Tenho uma torcida incrível em casa, meu marido, meus filhos, Ismael de 17 anos e Cristiano, de 12, que está ingressando na canoagem e ainda está escolhendo se vai competir na canoa ou no caiaque. Eles estão torcendo por mim. Somos uma família de canoístas”, brincou. >
A canoísta foi revelada pela Associação de Canoagem de Itacaré (ACI), mas treina no Associação Marauense de Canoagem (AMC), em Maraú, há seis anos. Chegou ao novo clube como uma estrela da modalidade e referência para os mais novos. “Ela já chegou aqui sendo campeã mundial. Nós só fortalecemos e continuamos acreditando no potencial dela. A ida aos Jogos Olímpicos nos deixou em êxtase”, disse a presidente do AMC, Yara Soledade. >
Para Yara, a vaga olímpica de Neta Canoa não só enriquece o clube, mas também se trata de uma questão de representatividade. “Neta é uma atleta olímpica, independente do resultado. A primeira mulher brasileira a conquistar essa vaga é negra e quilombola. É um sonho. Neta representa todas as mulheres, mães e atletas. É uma realização pessoal, não só para o clube ou para a federação”. >
Pela primeira vez na história, o número de mulheres na delegação brasileira para Olimpíada superou o total de homens: dos 276 atletas em Paris, 153 são mulheres, ou seja 55% do Time Brasil. A representatividade feminina foi celebrada por Valdenice. “É muito gratificante estar na Olimpíada e ver a igualdade no esporte acontecendo, especialmente para nós mulheres. O clima olímpico é único, tanto para os estreantes quanto para os medalhistas veteranos”, comentou. >
Valdenice já foi três vezes campeã mundial, tem 12 títulos nacionais, cinco Sul-Americanos, quatro Pan-Americanos e inúmeros campeonatos baianos. >
Além da atleta>
Neta Canoa não é só conhecida pelas conquistas inéditas para o país ou pelo potencial evidente enquanto canoísta. Ela reúne talento, carisma e doçura. Yara conta que o clube da AMC enche nos horários de treino de Valdenice. O público é composto especialmente por crianças. “Ela tem uma simpatia própria, está sempre aqui, ajudando e orientando os meninos”, relatou. >
Valdenice também é sinônimo de inspiração. “Neta está conosco em tudo que a gente precisa. Ela acaba sendo um pouco técnica das crianças também, sempre orientando os que estão chegando à base. Por ser uma atleta conhecida, possui uma voz potente entre nós”, finalizou Yara.>