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Celebração começou 8h, na Basílica da Conceição da Praia
Fernanda Santana
Publicado em 1 de janeiro de 2018 às 09:08
- Atualizado há um ano
De braços abertos e crucificado, Bom Jesus dos Navegantes recebeu centenas de fiéis que foram à Basílica da Conceição da Praia, no primeiro dia de 2018, agradecer pelo ano que passou, e pedir benções ao que nasceu. Os fiéis, tradicionalmente, acompanham o retorno do padroeiro, em procissão terrestre e depois marítima, à Igreja de Boa Viagem. Mas as paredes da igreja do Comércio não ouviram apenas orações antes da primeira missa do dia, às 8h, ministrada pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger. Ventilava pelos arredores a possibilidade de esvaziamento da celebração.
Moradora de Irará, no Centro Norte da Bahia, a gerente de vendas Aricleide Alves, 34 anos, deixou o município às 4h, com receio de que a basílica estivesse lotada, como presenciou em anos anteriores. O que viu foi o contrário. "Saí cedo de lá, achando que ia encontrar isso aqui lotado. Acabou não acontecendo. Quando cheguei aqui, até me assustei um pouco", contou.
Organizadores esperavam a ida de pelo menos 200 fiéis à igreja. O diretor da Irmandade organizadora dos festejos, Expedito Sacramento, 73, acreditava, no entanto, que o público estava reduzindo e não havia convicção de que o número fosse alcançado. Os alegados responsáveis pela mudança parecem ser únicos: os jovens.
"Eles têm sido atraídos por outras coisas, festas, enfim. O pessoal mais antigo está morrendo e, se não tiver jovem, a tendência é piorar", defende Expedito, acompanhado por outras dezenas de fiéis cujos comentários foram ouvidos pelo CORREIO.
A alagoense Romildes Reis, 30, se empenhou involuntariamente a reverter a situação. Foi à basílica acompanhada dos dois filhos, Rainara, 10, e João, 4, incentivá-los a frequentar a igreja e a celebrações como a desta segunda-feira."Gosto de trazer eles para a igreja, tem muito para mostrar pra eles. Eu vim também para agradecer e pedir para Bom Jesus abrir as portas do emprego", conta Romildes, que está desempregada.Rainara parece gostar do que vê. "Me sinto sortuda vendo a missa", diz a pesquena. Já João precisará de mais convencimento, não gosta de ir a missas. Célia Maria lamenta público reduzido (Foto: Fernanda Lima/CORREIO) Foi com melancolia que a aposentada Célia Maria Lima, 77, percebeu o distanciamento de fiéis. Para ela, que vai à basílica desde criança, dói enxergar o público reduzido em relação a anos anteriores. O motivo alegado por Célia, contudo, é outro. "As pessoas às vezes tem medo de vir aqui. Principalmente quem não tem carro e tem que vir andando. Eu vinha de táxi, mas mesmo assim acontece um medo. Acho que isso também pesa", diz.
Boa Viagem A faixa de areia da praia de Boa Viagem se tornou um altar itinerante pelo qual desfilou Bom Jesus dos Navegantes até a igreja. Nem mesmo sol e calor intensos perturbaram fiéis que, apinhados junto aos banhistas, ansiavam pela chegada do padroeiro. Do lado oposto da Baía, não havia espaço nem para o alegado esvaziamento.
A servidora pública Graça Fagundes, 55, foi uma das devotas mais emocionadas. Acompanhada de sete familiares, dizia a todo instante: “Que lindo, não acredito nisso”. A fiel presenciou a chegada do Bom Jesus em Boa Viagem, pouco antes de 12h30, o encontro do padroeiro com Nossa Senhora, e o retorno de ambos para a basílica, último momento antes do encerramento das atividades do dia.
Tamanha emoção não foi à toa. Pela primeira vez, a moradora do bairro da Liberdade decidiu esperar da areia a chegada da imagem na areia. "Acompanho há muitos e muitos anos essa festa, mas nunca vim aqui tão perto para ver esse momento. É mágico demais", conta.
A integrante da Irmandade que organiza os festejos Onorina Falcão, 65, viveu uma experiência diferente. Pela terceira vez, embarcou na galeota que trouxe o Bom Jesus. “É Maravilhoso. Uma emoção gigante, nem sei explicar”, relata. Para ela, não há o mínimo sinal de esvaziamento. “Esse ano mesmo eu estou achando melhor, uma maravilha, um monte de gente acompanhando do mar”, diz. Não há estimativa do número de embarcações que seguiram a Galeota.
Diante das manifestações de fé, restou, ao estreante na Irmandade José Carlos, 65, pedir para que os devotos não ultrapassassem a corda que delimitava a área de passagem do Bom Jesus. Muitas vezes, a súplica era vã. "Tem que ter um local para as imagens passarem. O público quer estar perto, mas não pode atrapalhar o ritual. O respeito tem que existir", desabafou.
Não apenas Gaguinho pede colaboração. Membro da Irmandade há 40 anos, Edson Oliveira, 70, apela para o respeito ao comentar as músicas que pagode e funk que, em elevado volume, competiam com os cânticos religiosos. "É claro que a igreja não pode proibir. Mas também é preciso consciência ", entrega.
As sombras das canções indesejadas pela igreja, no entanto, não ofuscaram o brilho da celebração em nome do Bom Jesus. Ressoava soberana a mensagem de dom Murilo Krieger, emitida da casa paroquial: “que Jesus volte fazendo tudo que ele pode fazer. Realizando as coisas boas que pode realizar”.
Procissão Os devotos de Bom Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Boa Viagem precisaram de esforço para carregar, em procissão terrestre, a imagem dos padroeiros. A celebração foi iniciada após a primeira missa do dia, presidida por dom Murilo Krieger, das 8h às 9h20.
As imagens seguiram da Basílica da Conceição da Praia para o cais do porto. Cada uma precisou do auxílio de pelo menos 10 devotos para chegar à Galeota Gratidão do Povo, que aguardava no cais. Os fiéis da Equipe da Praia, responsáveis pela tarefa, precisaram de equilíbrio e força para erguer ao céu o peso das imagens. Antes de embarcarem, os fiéis, em maior número do que na missa, rezaram uma ave-maria e um pai nosso em nome dos padroeiros.
A embarcação chegou pouco antes da 12h30 em Boa Viagem, onde encontrou a imagem de Nossa Senhora guardada na igreja. A imagem de Nossa Senhora da Conceição da Praia acompanhou o embarque e retornou para a Basílica da Conceição da Praia.
O servidor público Jailton Sena, 47, foi um dos carregadores da imagem de Nossa Senhora até o cais do porto. Não sabe explicar, senão com o poder da fé, como o grupo de homens consegue carregar em caminhada as imagens (a de Nossa Senhora chega a pesar 200 kg; a de Bom Jesus 300). "Só a força da fé consegue erguer esse peso. É uma alegria e emoção imensas", tenta definir.
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Confira mensagem de Dom Murilo Krieger:
Próximas festas populares: 11/1 - Lavagem do Bonfim (Cidade Baixa) 1/2 - Lavagem de Itapuã (Itapuã) 2/2 - Festa de Iemanjá (Rio Vermelho)
*Integrante da 12ª turma do Correio de Futuro