INCLUSÃO

Cine Imperial adapta sala de cinema para crianças no espectro autista

Há cerca de dois anos, projeto tem proporcionado aos pequenos a oportunidade de assistir filmes à sua maneira

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  • Elaine Sanoli

Publicado em 5 de maio de 2024 às 21:50

'Domingo Azul' no Shopping Center Lapa
'Domingo Azul' no Shopping Center Lapa Crédito: Ana Lucia Albuquerque/ CORREIO

Um domingo em família só é completo quando todo mundo consegue se divertir à sua maneira. Foi pensando em levar inclusão e acessibilidade para famílias e adolescentes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autistas (TEA) que o Cine Imperial do Shopping Center Lapa instituiu o 'Domingo Azul'. Neste domingo (5), 'Garfield - Fora de Casa' foi o filme escolhido para entreter os pequenos.

A proposta chamou a atenção de José Marcolino, 42. O policial militar viveu, pela primeira vez, a experiência de acompanhar o filho em uma sala de cinema. “A gente precisa de mais oportunidades de integração como essa. Ele está participando pela primeira vez por conta da sessão azul. Ele não consegue ir à sala de cinema por medo de escuro, por medo do excesso de barulho. Tudo isso incomoda muito”, relata o pai. José Marcolino Neto, 10, no início da sessão, precisou de um tempo a mais de adaptação à iluminação da sala, o que já havia sido pensado pela organização da ação para proporcionar um ambiente confortável para todos os espectadores.

'Domingo Azul' no Shopping Center Lapa
Sala de cinema teve iluminação e sonoridade pensadas para deixar todos confortáveis Crédito: Ana Lucia Albuquerque/ CORREIO

“A gente buscou alguns especialistas antes de sair a lei, e vimos que tinha que ser o som mais baixo, iluminação mais clarinha. Tem que ter toda uma adaptação para que eles fiquem melhores. Só que, além dessa adaptação técnica, a gente conversa com os pais para poder também respeitar a individualidade de cada um”, conta a gerente do empreendimento, Patrícia Santos.

Desde o dia 8 de abril deste ano, está em vigor na Bahia a lei 1.4661/2024, que obriga que os cinemas em funcionamento em todo o estado reservem, ao menos, uma sala para sessão mensal destinada a crianças e adolescentes com TEA. A legislação também estabelece regras que precisam ser seguidas para a realização das sessões, que devem ter ingressos vendidos para a criança com o transtorno e seu acompanhante.

Uma das idealizadoras do 'Domingo Azul', Gabriela Palma conta que o projeto nasceu há dois anos da intenção de criar um espaço de acolhimento, em que os portadores de TEA tivessem garantido o direito ao cinema e à experiência sensorial de assistir à um filme nas telonas. “O Domingo Azul é uma iniciativa crucial para promover a inclusão e acessibilidade para pessoas autistas. Ao oferecer uma sessão de cinema especialmente adaptada para suas necessidades sensoriais, estamos garantindo que todos possam desfrutar da experiência cinematográfica de forma plena e feliz”, explica.

Além da iluminação baixa, as salas contam com ar condicionado em temperaturas mais amenas, a retirada da exibição de trailers e propagandas, redução do volume das caixas de som, além de oferecer total liberdade para os pequenos andarem pela sala, oportunidade que foi bem aproveitada por quem estava na sessão. Eles subiam e desciam as escadas e brincavam tentando alcançar a telona. O Domingo Azul marcou um momento de diversão completo, sem todo o rigor das salas de cinema tradicionais. Em meio às confusões do gatinho mais preguiço das animações, os espectadores reagiam livremente ao filme: hora gargalhavam das trapalhas, hora batiam palmas para o ‘gorducho’ comilão.

“A inclusão em todas as esferas da sociedade é um direito da pessoa com deficiência e é dever de todos promover tal inclusão. As sessões adaptadas são uma forma de cumprimento dessa obrigação, oferecendo a possibilidade desse público acessar mais esta opção de lazer e cultura”, comenta a Rosiane Rodrigues, 42, mãe do Antônio, 4.

Também pela primeira levando o filho a uma sala de cinema, a advogada destaca o fato de ter sentido as necessidades e o direito do filho respeitados com a ação. “Nos sentimos muito acolhidos, desde a compra do ingresso e durante toda a programação. Pudemos ver as diferenças serem respeitadas”.

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo