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Da Redação
Publicado em 13 de agosto de 2012 às 08:47
- Atualizado há 2 anos
Victor Uchô[email protected]“Não rola um test-drive não, morena?”. A pergunta, partindo de um cliente mais atirado, pode até ser ouvida com certa frequência por vendedoras de concessionárias. Acontece que a morena em questão não vende carros. O que Gilmara Santos vende são artigos eróticos.Os jovens Emerson, Eliomar, Niele e Aline aprovam ideia da venda de produtos eróticos na hora da farra Ela é uma das promotoras do sex shop De Pernas Pro Ar, que desde outubro do ano passado vem, digamos assim, apimentando a rotina dos bares do Rio Vermelho, Imbuí e Parque Júlio César, na Pituba. Além de contar com uma loja em Lauro de Freitas, o sex shop criou, há dez meses, um inédito serviço móvel.Abordando clientes de mesa em mesa, as vendedoras às vezes são obrigadas a ouvir gracinhas como a do test-drive. “Temos que ter jogo de cintura. Algumas pessoas são divertidas, outras meio grosseiras. Quando ouço algo do tipo, digo para o cliente ir atrás de outra parceira para usar o produto. O que não posso é ficar de cara feia”, diz Gilmara, sem perder o bom humor.Aliás, bom humor é pré-requisito para trabalhar com Andréia Fróes, professora que, junto com o marido, abriu a loja há três anos. Mas, ciente de que nem todo mundo tem coragem de se aventurar num sex shop, resolveu partir para a venda explícita. “Nosso objetivo é quebrar o preconceito e desmistificar o sex shop, porque muita gente tem vergonha de simplesmente entrar nas lojas”, afirma.TécnicaCom a missão clara na mente, a empresária parte para o corpo a corpo. “Sex shop móvel, boa noite!”, diz Andréia, encostando numa mesa cheia de jovens no Largo de Dinha, Rio Vermelho. Ao primeiro sinal de receptividade, ela saca de sua cesta do prazer um gel comestível.Basta o engenheiro Hugo Gonçalves estender a mão para Andréia pingar algumas gotas do gel. “Primeiro você esfrega pra esquentar. Depois, lambe que esfria”, ensina a professora. Em meio às gozações dos amigos, Hugo confirma as sensações previstas e, imaginando o poder do produto na hora do vamo ver, termina investindo R$ 15 no gel.“Esse é o único lugar do Brasil onde já vi sex shop móvel. Normal é venderem pulseira, bijuteria. Já estamos aqui tomando uma cerveja, quebra o clima... ajuda a comprar. Deve ser bom passar isso no lugar certo”, projeta o engenheiro, para deleite de toda a mesa.Durante o tour noturno do sex shop móvel, o gel comestível é o produto mais vendido, mas tem ganhado forte concorrência de um spray que, aplicado aqui e ali, gera ligeiras vibrações nas áreas tão desejadas.Pelo menos essa foi a aposta do casal Diego Bastos, universitário, e Dani Ribeiro, professora de Educação Física, ao comprar o tal “vibrador líquido” no Imbuí. A expectativa era tanta que, antevendo a satisfação que se seguiria após o pagamento da conta, Dani chega a fazer graça para o repórter fotográfico Arisson Marinho: “Tira mais foto que tá excitando!”.Perto do casal, a vendedora Quele Mota expõe os artigos para um grupo. Atenta às orientações de uso das bolinhas que estouram na vagina, de um anel vibratório para o pênis e de um dado para jogos eróticos, Niele dos Santos vai fundo na questão interpessoal: “Estes produtos são importantes pra melhorar a relação. Ninguém mais quer brincar de dado. Só quer partir direto pros finalmentes!”.Concordando com a amiga, Aline Araújo tenta entender o funcionamento de um bullet (bala, em inglês), artefato de estímulo feminino. “Os homens têm que tratar bem as mulheres e esses produtos fazem parte”, diz ela. VergonhaJá o servidor público Diego Santana resume a empreitada de Andréia: “Se você tem medo de ir ao sex shop, o sex shop vai até você!”. Ele revela conhecer mulheres que, para entrar numa loja de artigos eróticos, pensam dezenas de vezes, temendo serem pegas com o corpo todo na botija. “Mulher tem mais vergonha, mas são produtos como qualquer outro”, avalia.Copo de cerveja em punho, Diego aproveita para lembrar daquele que talvez seja o maior trunfo do sex shop móvel. “Se você conhecer alguém no bar e elas passarem vendendo, basta comprar e sair direto pra usar. Não tem errada!”.Em que pese a simpatia das vendedoras, na noite em que o CORREIO acompanhou as abordagens nenhum cliente se interessou pelos famosos vibradores. Esses não ficam na cesta. São mantidos numa sacola e só aparecem pra quem demonstrar interesse. E aí, vai encarar?Vendas de quarta a domingo, até 1hSe você frequenta bares no Rio Vermelho, Imbuí ou no Júlio César, a qualquer momento pode ser abordado pelas mulheres com as cestinhas do prazer. Geralmente, elas atuam de quarta a domingo, das 21h à 1h. “E no outro dia acordo cedo para dar aula”, diz Andréia, que é pós-graduada em Educação Infantil e faz questão de dizer que o sex shop móvel não passa por mesas onde há crianças. Além da abordagem nos bares, a empresária e suas funcionárias também participam de eventos particulares e vão em busca de clientes no local de trabalho. “Tem gente que trabalha o dia inteiro e não tem tempo de sair pra procurar coisas deste tipo. Em concessionárias, por exemplo, onde trabalham muitas mulheres, quando a gente chega é uma festa”, conta Andréia. Seu marido, Jocimar Santos, acompanha as vendas, mas não participa das abordagens. “Elas têm mais jeito, foram treinadas para chegar nos clientes. A gente está conquistando espaço e tem gente querendo levar o serviço para outras cidades”, conclui.>