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Maysa Polcri
Publicado em 2 de junho de 2025 às 05:30
Até 2018, quem precisasse sacar dinheiro em Olindina, cidade de 22,6 mil habitantes localizada no nordeste da Bahia, tinha algumas opções. Três delas eram formais: duas agências bancárias e uma lotérica. As outras, são os 'pontos de saque', onde comerciantes representam os bancos de maneira informal. Daquele ano para cá, o Banco do Brasil fechou a unidade no município e a única agência que sobrou, do Bradesco, fechará as portas neste mês. A situação se repete em diversas regiões do interior, onde os moradores sentem na pele as consequências do abandono. >
Welinton Pinheiro retornou à cidade onde nasceu neste ano, e bastou apenas alguns dias para perceber a falta que um banco físico faz. Precisava sacar dinheiro para fazer um pagamento, e a única opção era uma lotérica com filas. E a previsão é que a situação fique ainda mais difícil em Olindina, onde a única agência bancária já anunciou o fechamento. >
"Me indicaram um ponto de saque, que funcionam assim: os moradores pagam alguma conta em determinado comércio da cidade. Aí chega uma outra pessoa que quer sacar, por exemplo, R$ 1 mil, e o ponto só tem R$ 500. É preciso esperar que entre mais R$ 500 de pagamentos para que o saque de R$ 1 mil seja autorizado", explica Welinton Pinheiro, que é natural de Olindina e vive em Salvador. A informalidade é o jeito que os moradores enfrentam para driblar as dificuldades. >
No município onde Welinton nasceu, o Bradesco orienta que os aposentados transfiram os pagamentos para a Caixa Econômica Federal - mas também não há unidades na cidade. "Temos só uma lotérica, que não tem estrutura nem capacidade para absorver essa demanda", diz. A cidade mais próxima que possui agência bancária é Itapicuru - localizada a 19 quilômetros de distância. É para lá que os pais de Welinton precisarão ir para ter o dinheiro da aposentadoria em mãos. >
Entre outubro de 2023 e março deste ano, o Bradesco fechou unidades, entre agências e pontos de atendimento, em 36 cidades da Bahia. A informação é do Sindicato dos Bancários da Bahia, que tem feito mobilizações para tentar mudar o rumo dessa história. Segundo o levantamento, o qual a reportagem teve acesso, ao menos três municípios ficaram sem agências porque o Bradesco era o único banco físico da cidade. São elas: Palmeiras, Rodelas e Ipecaetá. Tudo indica que Olindina será a próxima. >
Ronaldo Ornelas, um dos diretores do sindicato, explica que quando as agências são fechadas, os funcionários são realocados. Para ele, no entanto, é impossível que demissões não ocorram durante o processo. Mais de 50 trabalhadores foram demitidos no mesmo período. O diretor explica que em outubro de 2023, o Bradesco apresentou um plano de metas com o objetivo de reduzir custos e aumentar o lucro. >
"Os bancos entendem que podem oferecer o serviço digital e reduzir seus custos, assim como os bancos digitais fazem. Mas o impacto social disso não vem sendo observado. A empresa deve cuidar do bem-estar das pessoas onde ela atua. Será que ao fechar a única agência de uma cidade, a empresa está cuidando?", questiona Ronaldo Ornelas. Em Palmeiras, na região da Chapada Diamantina, o fechamento da agência do Bradesco provocou protestos em abril. A agência bancária mais próxima fica a 50 quilômetros de distância. >
Ronaldo Ornelas
Diretor do Sindicato dos Bancários da BahiaOrnelas ressalta que a população idosa, que muitas vezes têm dificuldade em acessar os serviços digitais, é a mais prejudicada. Em Olindina, 21% dos moradores têm acima de 55 anos. Outro problema é a baixa conexão à internet, que dificulta o acesso aos meios digitais e pagamentos via Pix, por exemplo. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Bradesco e do Banco do Brasil, através de e-mail, e aguarda retorno sobre os fechamentos na cidade. >
Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil encerraram em conjunto as atividades de 856 agências no Brasil apenas no ano passado. Desde 2014, foram mais de 5 mil endereços extintos. Os fechamentos foram puxados pelo Bradesco, que fechou 380 agências em 2024. O banco privado passa por reestruturação para se manter rentável. "A nossa base de clientes cresceu em 2,1 milhões em 2024, e 99% das nossas transações foram feitas pelo digital”, disse Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, em coletiva de imprensa em fevereiro deste ano. >
O porta-voz do banco tem razão. Dados mais recentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) revelam que, em 2023, sete a cada 10 transações bancárias foram feitas via celular no país. No ano passado, o Pix foi o meio de pagamento mais utilizado por brasileiros - foram 63,8 bilhões de transações só em 2024. Se de um lado a informatização ganha cada vez mais adeptos, correntistas 'tradicionais' ainda vão em busca das agências físicas. >
Para tentar equilibrar a demanda de moradores, funcionários e empresas, os tribunais de Justiça brasileiros começam a ser acionados. No Maranhão, uma decisão judicial determinou a suspensão do processo de encerramento de atividades do Bradesco em 16 municípios do estado, em abril. A determinação atende a um pedido do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) daquele estado. >
Na Bahia, uma reunião foi realizada entre representantes do Sindicato dos Bancários e o Procon-BA com o objetivo de tratar sobre o problema, em maio. O superintendente do Procon-BA, Tiago Venâncio, explicou que o órgão tem acompanhado as mobilizações e estuda tomar medidas contra os fechamentos das agências no interior do estado. Uma possibilidade é acionar o Ministério Público estadual. >
"Ainda não temos como manifestar uma possível manifestação antes de analisar todas as informações. Mas estamos fazendo essa análise para encaminhar ao Ministério Público para que ele também tenha ciência do que está ocorrendo e tomar medidas cabíveis", explica Tiago Venâncio. "Por mais que exista a informatização dos serviços, os consumidores não podem ficar desassistidos do serviço, principalmente no interior", completa. >
Enquanto as tratativas são feitas a portas fechadas, os moradores almejam não ficarem 'órfãos' das unidades bancárias. "Estamos falando de pessoas idosas, de áreas rurais e povoados distantes, que não têm como se deslocar, que não usam aplicativo de banco, que recebem pouco e agora ainda terão que lutar para conseguir acessar seu próprio dinheiro", afirma Welinton Pinheiro. >
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