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Larissa Almeida
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 05:00
Conhecida como um dos maiores complexos urbanos da América Latina, Cajazeiras é frequentemente chamada de bairro, mas é reconhecida pelos moradores como uma cidade. Por mais que tenha extensão até Cajazeiras XI, não tem uma sequência exata: os bairros Cajazeiras I, III e IX não existem. Oficialmente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o complexo de bairros inclui outros oito que não se chamam Cajazeiras, mas são considerados como pertencentes à grande área da comunidade cajazeirense. Em outras palavras, a localidade não segue nenhuma razão, mas se excede em senso de coletividade. >
“Apesar da divisão administrativa e geográfica, quem mora em qualquer parte costuma dizer com orgulho: sou cajazeirense. Cajazeiras é grande, diversa, mas se reconhece como uma comunidade única e cheia de orgulho”, afirma Wendell Muniz, comunicador responsável por uma página nas redes sociais que tem notícias focadas nas comunidades de Cajazeiras. >
Segundo o Censo Demográfico de 2022 do IBGE, Cajazeiras tem 153.519 moradores espalhados em 15 bairros. São eles: Águas Claras, Boca da Mata, Cajazeiras II, Cajazeiras IV, Cajazeiras V, Cajazeiras VI, Cajazeiras II, Cajazeiras III, Cajazeiras X, Cajazeiras XI, Fazenda Grande I, Fazenda Grande II, Fazenda Grande III, Fazenda Grande IV e Jaguaripe I. >
Somente as Cajazeiras têm 58.691 moradores, sendo que a XI é a mais populosa, com 15.764 habitantes. O bairro tem maior perfil residencial, mas conta com um comércio sólido, tendo como uma das principais referências a rede de mercados Atacadão. >
É em Cajazeiras X, no entanto, que o comércio se destaca pelo movimento na famosa Rótula da Feirinha. Lá, há uma das coisas que só se encontra no bairro: o amendoim da Barra Campo Verde, que vendeu 100 sacas no período junino e formou filas que quase tiraram o fôlego de Augustinho, o comerciante do estabelecimento. Ele explica que a origem do sucesso está no cultivo: >
“Eu trago o amendoim de Irará. Ele é plantado no solo arenoso e, por conta disso, a terra não adere e ele não escurece. O amendoim é branquinho, então quem compra não tem aquele trabalho de passar detergente ou limão, é só lavar e cozinhar. Além disso, ele tem um sabor adocicado no final. Eu comecei a trazer do sítio, os produtores de lá começaram a me vender e faz sucesso aqui há cinco anos”, conta Augustinho. >
Ainda na Rótula da Feirinha, a sopa de carne feita por Joseane Barbosa, 39 anos, é outro achado cajazeirense. “A sopa sai a partir das 16h e, pode estar parado como for, o pessoal vem tomar essa sopa. Cada unidade custa a partir de R$ 5 e costumo vender 50 sopas por dia. É a nossa única venda garantida aqui na barraca”, conta a comerciante, que também trabalha com venda de almoço e café. >
Cajazeiras ainda reúne outras peculiaridades completamente cajazeirenses. Confira abaixo 8 coisas que só existem em Cajacity: >
1) Pedra de Xangô >
Uma formação rochosa de 8 metros de altura e, aproximadamente, 30 metros de diâmetro é o símbolo sagrado e elemento cultural afro-brasileiro, tombada em 2017 como Patrimônio Cultural de Salvador, em Cajazeiras X. A pedra era usada como esconderijo por negros escravizados que fugiam das fazendas localizadas na região, durante o século XIX. >
Antes conhecida como Pedra do Buraco da Onça, e também como Pedra do Buraco do Tatu, a Pedra de Xangô foi vivência dos povos indígenas, com grande influência Tupinambá. Um jogo de ifá apontou Xangô como o orixá da formação rochosa, que é considerado o maior monumento orixá no Brasil e atrai turistas religiosos e adeptos de religiões de matrizes africanas durante todo o ano. >
2) Ladeirão da Oito >
Protagonista de histórias memoráveis e, frequentemente, traumáticas, vivenciadas por todos os condutores e passageiros de veículos que ousam percorrê-la, a ladeira da Estrada da Paciência, em Cajazeiras VIII, é o pavor de quem tem veículos longos ou que não aguentam o tranco diante de altas inclinações. >
De tão elevada, a ladeira ganhou o apelido de Ladeirão da Oito. O local acumula histórias de veículos que tiveram dificuldades para subir ou que tentaram, mas caíram no meio do caminho. Naturalmente, o ladeirão também já foi palco de acidentes. Em 2019, um caixão com defunto caiu do carro que subia a ladeira e deslizou. >
3) Rótula da Feirinha >
Ícone de Cajazeiras, a Rótula da Feirinha é o principal ponto de referência do complexo de bairros e uma das feiras mais famosas de Salvador. Ela está localizada no meio do comércio mais pujante de Cajazeiras X. >
Rótula da Feirinha, em Cajazeiras X
4) Amendoim de solo arenoso >
O amendoim da Barraca Campo Verde, trazido de Irará pelo comerciante Augustinho, é um dos alimentos que só se encontra em Cajazeiras. Ele é plantado em solo arenoso de Irará, no sertão baiano. Como a areia não adere à casca, o amendoim fica alvo e mais adocicado, sendo preferido pelas donas e donos de casa na hora de cozinhar. >
5) Campo da Pronaica >
Considerado o Wet’n Wilde de Cajazeiras, o Campo da Pronaica é o centro de eventos localizado em Cajazeiras X que reúne o complexo de bairros inteiro aos finais de semana. O local recebe shows, é palco de disputas esportivas, festas de época e até jantares e almoços entre a comunidade. Já foi visitado pela ex-presidente Dilma Rousseff e foi local de comemoração da vitória do baiano Davi Brito no BBB24. >
6) Baba das Nigrinhas >
Tradição de Cajazeiras VII, o Baba das Nigrinhas acontece todos os anos desde 1984 no Sábado de Aleluia. Como em um bloco fora de época, homens saem fantasiados de personagens quase sempre femininos e fazem um arrastão regado a música e álcool. >
7) Big Brother Cajazeiras (BBC) >
Criado durante a pandemia, o Big Brother Cajazeiras é uma réplica do Big Brother Brasil, seguindo as mesmas regras e cronogramas do programa homônimo. Na edição única ocorrida em 2022, um total de jogadores foram divididos em dois times, inicialmente. Entre as dinâmicas, teve prova de resistência, casa de vidro, paredão, mas tudo através do celular – as provas ocorriam na Arena Pronaica e Rótula da Feirinha. O prêmio foi de R$ 1 mil. >
8) Cajarriê >
O Cajarriê é um movimento cultural de samba junino, inspirado nos arrastões juninos que tiveram força em meados da década de 80, em Salvador. A festa consiste em sair na rua durante os festejos juninos, fazendo samba e visitando as casas vizinhas para tomar licor e comer as comidas típicas da época. Neste ano, o evento teve sua 11ª edição. >