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Larissa Almeida
Publicado em 18 de julho de 2025 às 06:00
À medida que o caminho da Estrada Velha fica para trás, os primeiros sinais de que se está em Cajazeiras podem ser notados através do movimento nas ruas, do shopping center na Fazenda Grande II – que faz parte do complexo urbano de Cajazeiras –, da concessionária de motos e, mais adiante, pela vivacidade do comércio na Rótula da Feirinha, que concentra nas imediações uma dinâmica econômica que não deve nada à Avenida Sete de Setembro, conhecida como o principal centro comercial de Salvador. >
Tendo de um lado a famosa loja O Fazendão e, do outro, pequenos comércios que incluem uma variedade de segmentos – moda, acessórios, assistência técnica, alimentos, lojas de cama, mesa e banho –, a Rótula da Feirinha fica na área central ofertando tudo que é possível encontrar na feira livre da Rua Joana Angélica. Lá, o comerciante Valdinei Santos, 37 anos, consegue prover o sustento da família vendendo frutas, mas nem sempre foi assim. >
“Quando eu comecei, Cajazeiras não tinha a dimensão que tem hoje. Mudou muito e agora eu posso dizer que aqui não fica atrás da Av. Sete em nada, porque tem tudo que lá tem, seja fruta, verdura ou loja. Eu consigo tudo que preciso aqui. Os preços da minha mercadoria são parecidos com os de lá, mas quando é mais caro compensa pelo transporte. O morador daqui já ganha a vantagem de não ter que se deslocar”, aponta. >
A assistente social Deise dos Santos, 40, é moradora de Cajazeiras desde criança e não esconde de ninguém que gosta de andar em busca de bons preços. Ela conta que frequenta tanto a Av. Sete quanto o comércio local, mas ultimamente tem sido bairrista diante da praticidade e variedade de serviços que o bairro oferta. >
“Compras da casa, vestimenta, coisas de armarinho. Tudo isso a gente consegue adquirir aqui. Hoje mesmo eu fui comprar organizadores para a minha biblioteca e para a sala que uso para fazer artesanato e encontrei de um tudo. Por isso, só vou na Av. Sete para comparar preços e quando quero coisas diferentes para o artesanato que não encontro no bairro”, relata. >
Em Cajazeiras X, uma das primeiras padarias do bairro foi fundada pelo comerciante Francisco Araújo, 61, que é testemunha ocular das mudanças do cenário local. “Quando cheguei aqui, quase não se via movimento nenhum de carros. Era uma tranquilidade que fazia ser possível dormir de portas abertas”, lembra. >
Ele indica que, nas últimas décadas, o bairro mudou de tal forma graças ao comércio que se tornou praticamente autossuficiente. A força da convicção é sinalizada através da escolha de palavras, quando usa o termo ‘cidade’ para se referir aos demais bairros de Salvador, como se Cajazeiras fosse mesmo Cajacity. Para ele, pelo menos, é. >
“Cajazeiras não deve nada a ninguém. Temos banco, que não tínhamos. Temos delegacia, sendo que antes a mais próxima era em Pau da Lima. Temos estação do Corpo de Bombeiros, hospital, maternidade, duas concessionárias de moto, grandes redes de farmácia e supermercado, além duas grandes lojas de autopeças”, elenca. >
Rótula da Feirinha, em Cajazeiras X
A expansão do comércio é compreendida por Clímaco Dias, geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), como reflexo da concentração de pessoas que vivem nos bairros de Cajazeiras – segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os 15 bairros que compõem o complexo urbano é moradia de 153.519 pessoas. Só as Cajazeiras contavam com 58.691 moradores em 2022, ano de publicação do censo. >
No passado, as Cajazeiras eram bairros planejados que, quando estavam em fase de conclusão, começaram a ser ocupados nas regiões mais altas e às margens do espaço urbanizado pela população de baixa renda e por uma classe média baixa. “Após a chegada da Petrobras, na década de 40, há uma migração de pessoas que não tinham como habitar outras áreas da cidade”, pontua Clímaco Dias. >
A força do comércio surge, então, como fruto de um aglomerado habitacional bastante populoso – hoje, Cajazeiras é considerado o 3º bairro mais populoso de Salvador. “Como o aglomerado concentrou muita gente, começou a concentrar serviços. Dos bairros populares de Salvador, Cajazeiras é o único que tem um shopping padrão, que não é apenas centro comercial. [...] Isso ocorre porque o bairro é planejado. Já havia estrutura para isso, logo a alta ocupação não causou um crescimento tão desordenado”, frisa o geógrafo. >
Além das lojas já mencionadas, Cajazeiras também ostenta um pequeno exemplar do Orixás Center, com estabelecimentos dedicados ao comércio de aluguel e vendas de vestidos para casamento, formatura e outras ocasiões formais. Para quem já está acostumado a comprar em lojas de alcance nacional, também não faltam opções: Lojas Americanas, Casas Bahia, O Boticário e Cacau Show são exemplos de locais ao longo do complexo urbano. >