Baiano Fábio Lago se destaca no papel do sensível e chamativo Nick

'A bicha lacrativa é um personagem desafiante', afirma o ator de Ilhéus

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 19 de novembro de 2017 às 06:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Raquel Cunha/TV Globo

Com roupas estampadas, megahair alourado, sobrancelha feita, unhas de pantera e trejeitos espetaculosos, o cabeleireiro Nick, o Nicácio de O Outro Lado do Paraíso, pode parecer familiar. A ‘bicha lacrativa’ da novela das 21h da TV Globo representa muitos homossexuais afeminados que fogem do padrão ‘gay discreto’ esperado por grande parte da sociedade. Desafia o estereótipo do  ‘macho alfa’, luta contra a homofobia e ainda enfrenta preconceitos na própria comunidade LGBT.  Dono do Star Beauty, o mais famoso salão de beleza de Palmas, o sensível e divertido Nick é o atual desafio na carreira do ator baiano Fábio Lago. Acostumado em incorporar papéis de mulherengos na televisão, ele vive pela primeira vez um personagem gay. Na trama, torna-se confidente da protagonista Clara (Bianca Bin), de quem será cúmplice no projeto de vingança. “Ele é alegre, alto-astral, tem muita cor e brilho, mas não é só purpurina. Sua sensibilidade é desafiante. Nick tem uma solidão, seus dramas e dores, além do universo pessoal interessante”, afirma Lago. Ele, que já foi temido pelo traficante Baiano, em Tropa de Elite, torce para seu personagem encontrar o tão sonhado príncipe encantado: “Vão se passar dez anos e estamos na expectativa das transformações”, diz.

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[[publicidade]] Enquanto elas não acontecem, seu desafio diário é fugir do clichê. “Ao mesmo tempo em que Nick é comum, é uma caricatura das figuras que a gente conhece. Fazer algo que não está feito é a minha motivação. Meu grande objetivo é deixá-lo humano. Tenho que colocar nele toda a bagagem que construí. Preciso passar veracidade para as pessoas. Enquanto  perceberem além da interpretação e  Nick for visto de forma humana, estou cumprindo meu papel”, fala.  (Foto: Raquel Cunha/TV Globo) Processo criativo Para construir o personagem, o ilheense se inspirou em amigos e familiares que marcaram sua vida. “São muitas referências de diversas pessoas que conviveram comigo.  Os gritos que Nick dá são inspiradas no meu primeiro diretor de teatro, Pedro Matos”, exemplifica o artista. Sua mãe, Dona Darcy, de 75 anos, que foi cabeleireira em Ilhéus durante 40 anos, também é referência. “Dela puxei o carinho com os clientes e o astral. Minha casa foi salão durante anos”, conta.  A referência estética foi um achado da figurinista Ellen Müller: Carlinhos Beauty, um dos cabeleireiros top de Brasília, serviu de inspiração para o cabelo, maquiagem e as roupas de Nick:“Ele é o glamour em pessoa. Nicácio gosta de luxo, mas é ‘bicha pobre’ e emergente. Fala errado e ama revistas de fofoca”A construção do personagem envolveu mudanças físicas. Fábio passou 14 horas colocando megahair, deixou as unhas crescerem e está fazendo a sobrancelha. “Hoje já me acostumei. O cabelo vai crescendo, o mega se distancia da raiz e fica mais confortável. Outro dia tirei e senti  falta... Não é que queira ficar com ele, mas a cabeça fica vazia. A adaptação foi meio difícil. No inicio incomodava demais para dormir. Como nunca tive unhas grandes, me aconselharam a usar sebo de carneiro para deixá-las mais rígidas. Hoje deixo o esmalte. Quem nunca teve unha grande, no começo arranha até coçando. Machuquei   a cara toda ajeitando o cabelo ”, conta. 

Processo de #caracterizaçãoNicacio pela maga @dayseteixeiracursos com @aurialexmota Neuma e Camila. 1ª prova.

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Seu processo criativo envolveu ainda levar Nicácio às ruas antes mesmo da novela ir ao ar, no último dia 23. Hoje, enquanto interpreta Nick, usa  unhas pintadas e cabelo solto quase diariamente.“As pessoas me olham confusas. Passei por situações discriminatórias, de me olharem torto e ignorarem. Senti na pele o preconceito, o olhar diferente só por causa dos trejeitos afeminados”, revela Lago. Afeminado O autor Walcyr Carrasco, inclusive, frequentemente cria gays afeminados  em suas novelas. Entre os mais populares, Visky (Rainer Cadete) de Verdades Secretas, Félix (Mateus Solano) de Amor à Vida e Cássio (Marco Pigossi) de Caras e Bocas. “Dar voz a um gay afeminado na teledramaturgia é importantíssimo. É representatividade e mais uma batalha. Por isso, dou meu tudo. Mas  só levo ao público. Walcyr é que cria”, avalia. Segundo ele,  tem muita gente na luta por  mudanças na sociedade. Aos poucos, estão aprendendo a lidar com as diferenças. “Mas não podemos estourar champanhe, porque quem é minoria é colocado a prova todos os dias. É preciso  perceber que a pluralidade é condicional à liberdade humana e não existe país livre sem respeito. Nas artes, estamos abrindo espaços. Eu, também como nordestino, tenho feito isso. Que a gente continue quebrando barreiras e abrindo portas”, pontua. Mesmo longe, Lago lembra das suas origens e vira e mexe está por aqui: “Sou apaixonado pela Bahia. Minha família mora em Ilhéus - onde sempre passo para matar a saudade do meu povo. Na década de 90, fiz minha carreira em Salvador. Comprei um apê no Canela e fico nessa ponte aérea Rio-Salvador. Quero fazer projetos em Salvador em breve. Tem muita gente boa. Agora meu foco é a novela”.

Figurino de Nick é inspirado no cabeleireiro Carlinhos Beauty (Foto: Divulgação) Está vendo essa figura risonha acima? Se lhe dissessem que é o Nick, de o Outro Lado do Paraíso, provavelmente você acreditaria. Mas é o falante Carlinhos Beauty, que é nordestino e já fazia sucesso em Brasília muito antes do Nicácio de Walcyr Carrasco abalar as telas da TV Globo.  Beauty é como o alter ego  de Carlos Alberto Araújo, 52 anos. Surgiu  seu salão de beleza foi inaugurado, há 21 anos. “Não conheço  Fábio Lago pessoalmente, mas sou fã. Estou muito feliz com essa homenagem. Todos estão comentando que Nick está igualzinho a mim. O cabelo, as roupas, etc. Gosto de luxo, uso um cifrão grandão, brilhante na orelha, tenho peças de onça e tigre. Sou aquilo ali mais elaborado”, conta ele, que  mora em um apê de dez cômodos, ama champanhe, diamantes e ouro. Também adora banho de banheira com pétalas de rosa.  (Foto: Acervo pessoal) Nasceu em Cabrobó,  em Pernambuco, e aos 11 anos, saiu da  Paraíba, onde morava,  para Brasília. Fez de tudo até ir trabalhar  na limpeza de um salão. Lá aprendeu o ofício de cabeleireiro. Desde então, já atendeu Maria Thereza Goulart, casada com o ex-presidente  João Goulart, além de personas como Xuxa e Luiza Brunet. Hoje frequentemente é visto na TV e em festas de Brasília, São Paulo e do Rio: “Lutei muito para as pessoas me respeitarem”.