Bioma recém-descoberto, corais da Amazônia estão sob risco

Eles estão localizados em uma área cobiçada por empresas petrolíferas. Campanha do Greenpeace coleta assinaturas para garantir a preservação das espécies ali encontradas

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  • Murilo Gitel

Publicado em 8 de setembro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Greenpeace

Recém-descobertos e já sob elevado risco. Assim são os corais da Amazônia, localizado nas áreas próximas à Foz do Rio Amazonas. A existência deles foi reportada pela primeira vez em abril de 2016, em um artigo publicado na revista científica  Science Advances. De acordo com os pesquisadores, os corais da Amazônia são como um novo bioma marinho, que vai do Brasil até a Guiana Francesa. Eles pretendem aprofundar os estudos sobre o tema e as novas espécies encontradas na região.

Porém, grandes empresas põem este importante ativo ambiental do Brasil em risco. Elas querem explorar petróleo na bacia da Foz do Rio do Amazonas. Até aqui, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tem resistido e rejeitou por três vezes a liberação da área para petroleiras. A última delas foi no dia 28 de agosto.

Como não há garantia de que essa resitência perdure - basta olhar a recente liberação de áreas até então protegidas para a exploraçao mineral em plena floresta  e em reservas indígenas -, uma campanha dirigida pelo Greenpeace, uma das maiores ONGS ambientalistas do mundo, coleta assinaturas para garantir a preservação dos corais da Amazônia. Até o momento, mais de 1.278.936 aderiram ao abaixa-assinado. O objetivo é pressionar as empresas Total (francesa), BP (britânica) e Queiroz Galvão (brasileira) a cancelarem seus planos de perfurar o fundo do mar na foz do Rio Amazonas. Ilustração de ONG aponta localização dos recifes O recife de corais, esponjas e rodolitos ocupa um espaço de 9,5 mil km² – uma área 20% maior que a região metropolitana de São Paulo.  “A atividade petrolífera ali significa trazer o risco iminente e constante de um derramamento. Isso é uma ameaça não apenas aos corais, mas a todo o ecossistema da Bacia da Foz do Amazonas. Vivem ali, por exemplo, o peixe-boi-marinho, o tracajá e a ariranha, espécies que já têm algum risco de extinção, segundo a lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) de 2014”, justifica o Greenpeace.As empresas afirmam o estudos encomendados por elas mostraram que não há ecossistemas recifais dentro da área dos blocos operados por ela. “As atividades de perfuração somente serão iniciadas após a Total receber a licença ambiental do Ibama, ainda em análise por este órgão”, afirmou a empresa francesa.

 Além do abaixo-assinado ( http://bit.ly/greenpeacecorais ), a campanha do Greenpeace pede aos simpatizantes dessa causa que enviem uma foto ou vídeo para demonstrar apoio aos Corais da Amazônia. Segundo a ONG, os três conteúdos mais criativos ganharão uma camiseta exclusiva da iniciativa. Basta postar a produção (de forma pública) com a hashtag #DefendaOsCorais nas redes sociais Facebook, Twitter ou Instagram.

Argumentos para a rejeição Por meio de despacho baseado em parecer técnico, a presidente do Ibama, Suely Araújo, listou dez pendências que deixaram de ser cumpridas pela empresa francesa, entre as quais esclarecimentos sobre a modelagem de dispersão de óleo em caso de vazamento e um projeto de monitoramento adequado.

“A modelagem de dispersão de óleo, por exemplo, não pode deixar qualquer dúvida sobre os possíveis impactos no banco de corais e na biodiversidade marinha de forma mais ampla”, escreveu Araújo.

O Ibama também alegou a falta de “tratativas internacionais relacionadas aos potenciais riscos transfronteiriços no licenciamento” para Guiana Francesa, Suriname, Guiana e Venezuela, além de alguns arquipélagos caribenhos”.

Ao final do parecer, Araújo alertou que é a terceira e última vez que o Ibama solicita informações complementares sobre o impacto ambiental: “Caso o empreendedor não atenda os pontos demandados pela equipe técnica mais uma vez, o processo de licenciamento será arquivado”.

Para o ativista do Greenpeace, Thiago Almeida, apesar de os blocos de exploração petrolífera das companhias não estarem exatamente em cima da área conhecida dos recifes, “a ameaça é justamente o que um possível vazamento poderia causar sobre eles, a costa e os mangues”.

Comunidades Almeida ressaltou que, no caso de um vazamento chegar à costa, diversas comunidades tradicionais também seriam afetadas, como pescadores, extrativistas, quilombolas e indígenas, “que dependem do meio ambiente, da saúde dos mares e da costa brasileira para sobreviver”.

O poço de exploração mais próximo do novo bioma descoberto pertence a Total e está a uma distância de 8 quilômetros. Na avaliação da ONG, a exploração de petróleo irá trazer o risco iminente de um vazamento no mar, que colocará em risco o bem-estar dos corais da Amazônia e dos animais que vivem ali e dependem desse ecossistema. “Um derramamento pode, até mesmo, alcançar a costa do Amapá e impactar quem vive lá”, alerta a ONG.

Outro lado Além de dizer que seus estudos não indicam a presença de recifes de corais nas áreas em que pretende explorar petróleo, a Total garantiu ainda que os poços serão perfurados em águas ultraprofundas, a mais de 1,9 mil metros de profundidade e a uma distância entre 120 e 188 km da costa do município do Oiapoque, no estado do Amapá. “O objetivo da atividade é identificar e avaliar a existência de reservas de petróleo e/ou  gás na área dos blocos. A partir da avaliação dos poços, outras atividades poderão ocorrer futuramente na área, sujeitas também a ações de licenciamento ambiental junto ao Ibama”.A BP, assim como a Total, alegou que a pesquisa realizada pela empresa não detectou nenhum sinal dos recifes na área de seu bloco de exploração. Segundo a empresa, “em todas suas operações de perfuração, o principal foco é com a prevenção de vazamentos de petróleo, aplicando as melhores práticas da indústria na segurança, no desenho dos poços, na perfuração e na proteção ao meio ambiente”.

Por sua vez, a direção da Queiroz Galvão informou que, para atender ao processo de licenciamento ambiental requerido pelo Ibama, a empresa realizou pesquisa que não apontou a presença de recifes na área de exploração. De acordo com a empresa, a eventual perfuração na área deverá ocorrer em 2019 e 2020.