Famílias de PMs descartam uso de suplementos químicos; curso foi suspenso

O irmão do soldado Luciano Fiuza, capitão da PM Ronalde Fiuza, descarta a possibilidade de o irmão ter ingerido qualquer substância estimulante antes do Teste de Habilidade Específica (THE)

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  • Bruno Wendel

Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 07:53

- Atualizado há um ano

Diante das mortes de dois policiais militares e a internação de outros dois, o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, determinou, ontem, a suspensão imediata do processo seletivo do Curso de Operações Policiais Especiais (Copes). “Será até o resultado da toxicologia e depois dos outros candidatos voltarem a fazer novos exames médicos, bem como termos os resultados das apurações”, disse Barbosa.O soldado da PM Luciano Fiuza, 29 anos, morreu, na noite de quarta-feira, no Hospital Aeroporto, dois dias depois de passar mal durante um exame físico do Copes, porta de entrada para o Batalhão da Polícia de Choque da Polícia Militar. Na terça-feira, morreu o soldado Manoel dos Reis Freitas Júnior, no mesmo hospital. Fiuza, que era lotado no 12º Batalhão (Camaçari), foi sepultado ontem com honras militares, no cemitério Campo Santo, na Federação. Freitas, que era natural de Valença e era lotado na 4ª Companhia Independente de Polícia Militar, em Macaúbas, na Chapada, foi sepultado em Valença, sua  cidade natal, na quarta-feira.Até o fechamento da edição, às 22h, o tenente Joserrise Mesquita de Barros estava internado em estado grave, porém estável, no Hospital São Rafael, segundo o Departamento de imprensa da Polícia Militar. Policiais militares comentavam, ontem à noite, nas redes sociais que ele estaria sedado, respirando por aparelhos e com rim e fígado comprometidos. A PM confirmou apenas que ele aguardava transplante de rim. Já o soldado Paulo David Capinam, 26, teve alta, ontem, do Hospital São Rafael.No exame, 67 policiais militares corriam 10 quilômetros em 60 minutos, de calça de fardamento e coturno. A prova, realizada no Batalhão de Choque, em Lauro de Freitas, era uma das etapas do Teste de Habilidade Específica (THE). As outras etapas incluem transposição de muro, subida no cabo vertical, transporte de carga, deslocamento em meio líquido, flutuação uniformizado e apneia na água.“Já tem inquérito militar e parentes e médicos serão ouvidos. O prazo da perícia vou saber pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT)”, declarou Barbosa. Segundo a assessoria de comunicação do DPT, a lei estabelece 10 dias para emissão dos laudos, com possibilidade de prorrogação, o que leva a uma média entre 15 e 30 dias, a depender do tipo de exames complementares solicitados.Ainda de acordo com Barbosa, o inquérito vai apurar se houve excesso tanto por parte dos candidatos – neste caso, se houve uso de substâncias química antes do exame - quanto ao suposto exagero no treinamento. “Vamos investigar todos os fatos, tanto da administração quanto as condutas individuais dos candidatos”, declarou o secretário da Segurança Pública.Imagem mostra treinamento em que policiais passaram malO diretor de comunicação da PM, capitão Marcelo Pitta, informou que a Polícia Militar está na fase de colher depoimentos. “Tem muita gente para ser ouvida e isso deve demandar tempo. Aguardamos também os laudos periciais”, disse.Segundo ele, dos 32 mil PMs na corporação hoje, 88  se candidataram para ingressar no Batalhão de Choque. No entanto, dez foram eliminados no exame médico, outros dez perderam no Teste de Aptidão Física (TAF) e um desistiu, restando apenas 67 para o THE. Ele explicou que o curso, que os policiais faziam, faz parte de um planejamento para a Copa do Mundo. “A Polícia Militar de todos os estados que vão sediar jogos tem a necessidade de um aporte na tropa que tem capacitação para atuar em situações de grande risco, manuseios de determinados artefatos e combate a riscos de ações terroristas”. O Copes, segundo Pitta, habilita o policial para esse tipo de ação. No ano passado, não houve nenhum curso. Em 2013, dois processos seletivos foram abertos: uma turma já foi formada e esta era a segunda.Cortejo acompanha corpo do soldado Fiuza,no cemitério Campo SantoEnterroHonras militares e lágrimas marcaram a despedida do soldado Fiuza, ontem, no Campo Santo. O caixão estava coberto com uma bandeira do Brasil e uma faixa cinza de jiu-jitsu. Três tiros foram disparados em homenagem ao militar no início do cortejo. De acordo com tio, José dos Santos, o soldado almejava entrar no Batalhão de Choque e estava se empenhando. “Ele deixou o curso de Direito para entrar na polícia e desejava chegar a outras patentes”, afirmou. A mãe do policial não quis falar com a imprensa. Colaboraram Alexandro Mota e Joice Vieira.Suplementos químicosO irmão do soldado Luciano Fiuza, capitão da PM Ronalde Fiuza,  descarta a possibilidade de o irmão ter ingerido qualquer substância estimulante antes do Teste de Habilidade Específica (THE). “Conversei com os que fizeram o THE junto com ele e ninguém apontou que meu irmão tivesse ingerido alguma substância, como mistura de energético com termogênico.  Além disso, a conduta do meu irmão não condiz com isso. Ele era contra  esse tipo de comportamento”, disse.Ele também descarta  o fato de ter havido excesso no THE. “Perguntei aos amigos dele e todos disseram que houve alongamento, houve reconhecimento e hidratação ao longo do percurso”. O irmão do soldado Freitas, o motorista Tony Moreno, também rejeitou a possibilidade de que o policial tivesse ingerido qualquer suplemento químico. “Estou certo de que ele não conhecia essas substâncias”, disse.

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