Médicos dizem que chance de Laís Souza voltar a andar é quase zero

Especialistas explicam quais serão os próximos passos da recuperação da ex-ginasta

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  • Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2014 às 14:54

- Atualizado há um ano

As possíveis sequelas que Laís Souza precisará enfrentar quando receber alta do Hospital Universitário de Miami ainda não são totalmente conhecidas pelos médicos que cuidam da ex-ginasta, mas o quadro não é nada animador. De acordo com especialistas em coluna, a jovem provavelmente não voltará a andar. Além disso, há a grande possibilidade de Laís também ter comprometimento nos movimentos das mãos.Foto: ReproduçãoEmbora a situação física da atleta seja desanimadora, os médicos que cuidam da jovem garantem que estão bastante otimistas quanto à recuperação da capacidade respiratória dela que, atualmente, só consegue respirar com o uso de aparelhos.Para Vinícius Benites, neurocirurgião e especialista em doenças da coluna da Universidade Federal de São Paulo, o quadro de Laís é grave e dificilmente a jovem não terá nenhum tipo de sequela em relação aos movimentos dos braços e pernas. “A lesão pode provocar dois problemas: o choque medular e a lesão medular. No choque, há um atordoamento das fibras nervosas e a pessoa perde os movimentos. Mas, em geral, em 24 horas eles retornam. Na lesão isso não acontece”, disse em entrevista ao iG, relembrando que Laís ainda não move os membros.

O médico disse ainda que é improvável qualquer reação por parte da jovem. “O tecido nervoso tem uma capacidade mínima de regeneração, quase desprezível nesse tipo de caso. A chance de ela ter alguma recuperação motora ou neurológica é, assim, mínima, próxima de zero”, lamentou.O ortopedista especializado em coluna do Hospital das Clínicas de São Paulo, Rogério Vidal, é mais enfático e acredita que Laís vai ficar tetraplégica. “Com a fratura da Laís, a coluna saiu do lugar, o que tecnicamente é chamado de luxação. Com esse deslocamento, houve uma compressão na medula e isso deve ter causado algum tipo de esmagamento nessa estrutura. Foi isso que causou a tetraplegia nesta paciente”, esclareceu. Foto: AFPO especialista explicou ainda que a lesão provavelmente será permanente, já que a ex-ginasta ainda não apresentou nenhuma melhora. “Normalmente espera uma melhora importante em até 72 horas. Depois disso, a chance de melhora é muito pequena. Provavelmente ela deve ficar com uma sequela importante. Se continuar como está hoje, ela perdeu os movimentos de braços e pernas. Pode acontecer de ter uma regressão, e na medicina a gente nunca é muito taxativo. Mas estatisticamente, a chance de ela ter uma regressão hoje, completa ou mesmo parcial, é pequena. É difícil mensurar, mas hoje ela teria uma chance de 2 ou 3% de uma recuperação total”, garantiu o médico.Outro fato atentado por Benites foi a velocidade com que Laís passou por cirurgias que normalmente são feitas apenas em pacientes com lesões muito graves, como traqueostomia, para ajudar na respiração, e gastrotomia, que faz com que o alimento seja levado diretamente ao estômago. A jovem foi operada com apenas dois dias de internada, o que sugere um quadro sem expectativa de reversão. 

“Quando a gente vê como foi conduzido o caso, não resta muita dúvida para mim, que sou especialista, que a lesão dela é completa. Falo isso, apesar de não ter visto a imagem, pela maneira que ela foi conduzida pelos médicos lá em Utah. De imediato os médicos já identificaram que a lesão era muito grave e eles não esperaram nada para já fazer as cirurgias de suporte. Se eles tivessem alguma dúvida, se pensassem que era outro tipo de lesão, eles não teriam feito essas cirurgias logo de cara. Pode-se esperar de sete a 10 dias para fazê-las”, disse Vinícius Benites.Se o quadro é muito desanimador em relação aos movimentos de Laís Souza, a respiração da jovem não deverá ficar comprometida. Foto: AFPRespiraçãoRogério Vidal, médico do Hospital das Clínicas, explicou por que a menina ainda usa aparelhos. “A nossa respiração é 60% controlada pelo diafragma e o restante pela musculatura de tórax e abdômen. Como toda essa musculatura dela não está funcionando, precisa respirar apenas pelo diafragma”, disse ele.Os médicos responsáveis pelo caso da ex-ginasta vão tentar tirar a respiração artificial aos poucos de Laís. Caso ela não consiga reagir sozinha, passará por uma cirurgia para colocar um marcapasso no diafragma.

Risco de MorteO caso de Laís é grave, mas o risco de morte é quase nulo. Os médicos responsáveis pela atleta explicaram que, pelo fato de a jovem ter corpo da atleta e ter hábitos saudáveis como boa alimentação e prática regulares de atividade física fortaleceram a resistência da paciente.Próximos passos da recuperaçãoPara Vidal, a recuperação de Laís será bastante lenta. “Ela trocou de fase de tratamento. Primeiro foi feita a estabilização pós-cirúrgica, que são sete ou dez dias. Como ela está sem os movimentos, entra uma nova fase, a readaptação do organismo em relação a essa realidade de ficar deitado. Depois que reaprendeu, a paciente é transferida para um centro de reabilitação. Aí será visto o que tem de movimentação, qual cadeira vai usar, se o movimento de ombros pode ajudar e como vai ajudar”, detalhou.O médico disse ainda que o fato de Laís conseguir suspender os ombros não é indício de uma possível recuperação no movimento dos membros superiores, já que "essa parte do corpo é controlada por uma região acima da que a jovem lesionou".A previsão é de que a ex-ginasta siga internada por pelo menos 60 dias, tempo considerado necessário para uma reabilitação, desde que haja monitoramento constante. “Esses pacientes desequilibram muito rapidamente. Uma hora ela está bem, e 12 horas depois aparece uma infecção que pede um antibiótico imediatamente”, disse o médico, alertando para os riscos que ela corre."Os riscos maiores são de infecção pulmonar, pelo comprometimento da parte respiratória, e urinária, já que a paciente fica deitada e, mesmo com sonda, pode haver um acúmulo de urina, o que gera problema. Em uma pessoa idosa ou já debilitada, o risco de infecção é muito maior. Ela está apta a responder bem a qualquer problema que possa apresentar, a qualquer doença. Ser atleta vai ajudá-la a suportar essas sequelas e riscos”, analisou Benites. Foto: ReproduçãoO acidenteLaís Souza sofreu um acidente quando esquiava com seu técnico Ryan Snow e a companheira Josi Santos no dia 28 de janeiro. A ex-ginasta, que estreou no esqui em junho do ano passado, caiu e se chocou contra uma árvore.A jovem sofreu uma lesão grave na coluna e passou por cirurgia, mas segue sem conseguir movimentar os braços e as pernas. A jovem segue respirando com ajuda de aparelhos e se comunica através de um tablet.[[saiba_mais]]