'Não fui eu que matei, foi Lúcifer', diz acusado de feminicídio em Pernambués

Ele escondeu o corpo da vítima debaixo da cama e deixou bilhete se desculpando

Publicado em 23 de outubro de 2017 às 20:28

- Atualizado há um ano

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O acusado foi apresentado na tarde desta segunda-feira, no DHPP (Foto: Milena Teixeira/CORREIO) A violência que atinge as mulheres em Salvador ressalta a importância do Mês Municipal de Combate ao Feminicídio. Na tarde desta segunda-feira (23), mais um homem foi indiciado pelo assassinato da companheira, no bairro de Pernambués, em Salvador. O caseiro Orlando de Jesus, 53 anos, matou a doméstica Maria Lucília Santos de Jesus, 45, com 10 facadas e escondeu o corpo da vítima debaixo de uma cama, na última quarta-feira (18). Orlando está detido no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba.

Conhecida na vizinhança como Lúcia, a vítima foi encontrada pelo irmão com lesões nas mãos, costas, braço e abdômen, já sem vida. Segundo a polícia, ela discutia com o marido quando recebeu vários golpes de uma faca tipo punhal. A doméstica ainda chegou a pedir socorro aos vizinhos. O caseiro foi até a porta e atendeu alguns deles, afirmando que Lúcia estava bem. Depois, arrumou a mochila para fugir.

De acordo com a delegada titular da 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central), Ana Cristina de Carvalho, vizinhos viram quando Orlando saiu com a mochila. Ele também deixou uma carta contando o que tinha feito e pedindo perdão aos familiares. "Relataram que foi uma discussão diferente, porque uma pessoa chegou a chamar na porta, mas ela não atendeu. A gente acredita que foi nesse tempo que ele se preparou para fugir. Ele ocultou o cadáver para facilitar a fuga", afirma a delegada. 

Os dois estavam casados há 25 anos e tinham dois filhos. O acusado estava desempregado e costumava beber frequentemente. Uma das filhas informou à polícia que Lúcia já tinha pedido a separação, mas o pai não aceitava o término. O relacionamento, segundo a polícia, era marcado por violências e agressões. Lúcia já tinha registrado diversas ocorrências contra o marido na Delegacia da Mulher (Deam). "Tem várias ocorrências de Deam dessa vítima e de outra companheira. Ele tem um perfil violento", completou Ana Cristina. Delegados apresentaram arma utilizada no crime (Foto: Milena Teixeira/CORREIO) Apesar das provas da investigação e dos depoimentos dos vizinhos, o caseiro diz que não tem culpa e atribui o crime a Lúcifer.“Eu jamais mataria a mulher que amo. Não fui eu, não. Foi Lúcifer que entrou dentro de mim. Foi ele”, alega. Fuga Depois do crime, ele fugiu para a Ilha de Itaparica e, em seguida, para Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo. A polícia recebeu informações sobre a fuga e foi a até a ilha, mas o acusado já tinha deixado o local. O caseiro só apareceu no sábado, acompanhado por um advogado.    Para o coordenador da Delegacia de Homicídios, Guilherme Machado, Orlando planejou o ato. "Ele já foi intencionado e não deu nenhuma possibilidade de defesa à vítima", afirmou o investigador. Se for condenado, o caseiro pode pegar de 12 a 30 anos de prisão. 

Feminicídio Até agosto de 2017, a Polícia Civil registrou cerca de 33 feminícidios no estado. No feriado de 12 de outubro, a reportagem do CORREIO acompanhou a repercussão de outro caso que chocou os ambulantes da Estação Mussurunga, no dia 12 de outubro. No local, Nelson Messias dos Santos, 48, matou a facadas a ex-cunhada, a ambulante Jacineide Alves Lima, 42, quando planejava matar a irmã dela, a também ambulante Eleni Alves Lima. Ele também estava inconformado com o fim do relacionamento. Após matar Jacineide, ele cometeu suicídio.