O gueto, a rua, a fé: conheça a história de 'O Canto da Cidade'

Série de matérias e vídeo-reportagens vai homenagear canções escolhidas pelos leitores como melhores dos últimos 30 anos de Carnaval

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  • Amanda Palma

Publicado em 21 de fevereiro de 2017 às 06:18

- Atualizado há um ano

Quinta mais votada pelos leitores como a melhor música de Carnaval dos últimos 30 anos, a história da canção O Canto da Cidade é a primeira a ser contada na série de matérias e vídeo-reportagens produzidas pelo CORREIO para homenagear a festa momesca deste ano, que tem como tema Cidade da Música, título concedido a Salvador pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em 2015.

O autor da primeira versão da música, o compositor Tote Gira, conta o processo de composição e adaptação da letra do sucesso, feita por Daniela Mercury, que marcou e continua a marcar os verões baianos. Confira no vídeo:

O autorPoucos sabem, mas a primeira versão do Canto da Cidade é de Tote Gira, 56. Nascido Antônio Jorge Souza dos Santos, o compositor passou a adotar o nome artístico aos 15, quando já figurava no cenário musical baiano, tocando em rodas de samba. Autor da música imortalizada na voz de Daniela Mercury, o compositor começou sua carreira precocemente aos 12 anos, quando já escrevia suas próprias letras.

A carreira de Tote como compositor foi impulsionada no início dos anos 90 após o Canto da Cidade, quando foi convidado a levar seu talento para a companhia Dance Brazil, sediada em Nova Iorque, na qual trabalhou por 20 anos escrevendo trilhas sonoras de espetáculos de dança. Foi por lá que o compositor gravou seu primeiro disco, o álbum Pivete, inspirado no livro Capitães de Areia, de Jorge Amado.

De lá para cá, Tote se especializou em vários instrumentos e tornou-se multi-instrumentista, com mais de 350 canções e 20 álbuns gravados dentro e fora do país.Tote é o compositor da música (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)Dessas, sua obra mais conhecida, sem dúvida, é O Canto da Cidade. Emocionado, ele conta que, no dia 8 de janeiro deste ano, ao interpretar a canção durante um projeto no Teatro Castro Alves (TCA), nem precisou cantá-la toda, foi só iniciar que o público levou.

“Isso me veio com satisfação e certificação. Não dá para explicar a sensação. Dá para dizer que a missão foi cumprida. Eu só agradeci a Deus e pedi que me permitisse repetir as mesmas doses por mais vezes para fazer mais gente sorrir na minha passagem por aqui”, comemora.

Entre outras canções compostas por ele estão a música Romance do Ilê, presente no disco Canto Negro (1988), um dos mais aclamados do grupo Ilê Aiyê. Outros destaques como a música Me Ama, feita para a banda Cheiro de Amor; Melô da Escolinha, gravada pelo Harmonia do Samba; A Mulher e o Assalariado, para a Banda Mel; Na Pisada do Negro, do Viola de Doze. Atualmente, o compositor estuda violão clássico e faz curso de formação em filosofia.

O seu álbum mais recente é o CD Clássicos do Gueto, que homenageia o empresário Clarindo Silva, figura conhecida da Bahia, dono do Restaurante Cantina da Lua, no Pelourinho, um dos pontos de encontro e referência da resistência cultural do bairro.

Assista ao clipe de O Canto da Cidade

Abaixo, conheça a letra original da canção:

A cor dessa cidade sou euO canto dessa cidade é meuO som que vem do tamborO canto que ecoouO chão, a praça e a cor bonitaO tom da pele na flor tem vidaEla é bonitaAê aê negro é SalvadorAê aê o verdadeiro amorNão diga que não me querNão diga que não quer maisEu sou o silêncio da noiteE o Sol da manhã Mil voltas o mundo tem, mas tem um ponto finalEu sou o primeiro que canta Eu sou o Carnaval