Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Durante mesa literária, ator se emociona ao ouvir depoimento de professora negra, moradora do Paraná
Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2017 às 16:11
- Atualizado há um ano
Em minoria na plateia, a professora negra Diva Guimarães, 77 anos, roubou a cena e fez o ator baiano Lázaro Ramos chorar nesta sexta-feira (28), durante a mesa A Pele Que Habito, na 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (RJ), que acontece até domingo.Quando o jornalista Robinson Borges abriu para as perguntas, Diva pediu a palavra e contou sobre o seu passado de sofrimento pelo fato de ser negra a uma plateia de maioria branca. Moradora do interior do Paraná - "do mato", como ela chamou -, quando criança, Diva foi para a escola, convidada por uma missão religiosa a estudar, mas, na verdade, "era para trabalhar", contou. Ao embargar a voz na plateia, no palco Lázaro suspirou e acabou chorando ao longo do depoimento emocionado da professora.(Foto: Divulgação/Flip)"Existia um rio - aquele maldito rio abençoado por Jesus -, diziam as freiras -, em que os brancos se banharam primeiro e os negros, por serem preguiçosos, entraram por último, para tomar banho. Era isso o que as freiras contavam pra gente, para explicar a diferença da cor da pele entre brancos e negros", disse Diva.Interrompida várias vezes por aplausos, a professora ainda falou sobre a rebeldia que tinha ao sofrer preconceito e sobre as dificuldades da mãe para manter os filhos na escola. Ela lavava roupas em troca de caderno e lápis. "Eu não queria mais estudar, e a minha mãe me dizia: 'Olhe bem para a sua mãe. Quer acabar assim, como eu'", perguntava a mãe. Ao ouvir isso, Diva afirmou que pegava os cadernos e corria para a escola.Após ouvi-la, o ator perguntou: "Quer matar a gente do coração, dona Diva". Lázaro, autor de Na Minha Pele, disse que o país atravessa uma crise civilizatória e que o investimento em uma educação pública de qualidade é uma das ações urgentes a serem tomadas. Além disso, lembrou da importância do resgate das relações afetivas: "Vamos espalhar afeto e nos deixar ser afetados pelo outro. Vamos ouvir mais". Assim como ocorreu nesta manhã.