Programa incentiva coleta seletiva com troca de lixo por desconto na conta de energia

Vale Luz da Coelba existe há dez anos e já ajudou a retirar do meio ambiente 1,3 toneladas de material reciclável

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  • Andreia Santana

Publicado em 21 de setembro de 2017 às 04:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Diminuir a quantidade de resíduos sólidos descartados no meio ambiente e, ao mesmo tempo, economizar na conta da energia elétrica. Para 4,1 mil famílias em Salvador e Região Metropolitana, a reciclagem se transformou em um bom negócio desde a implantação do Vale Luz, projeto que integra o Programa de Eficiência Energética da Coelba. Em dez anos, a iniciativa já concedeu cerca de R$ 300 mil em descontos e recolheu 1,3 mil toneladas de materiais recicláveis, em 32 comunidades da capital e de Guarajuba e Itacimirim, em Camaçari.

Uma gota no oceano, se forem levadas em conta as 79,9 milhões de toneladas de lixo produzidas anualmente no Brasil, segundo dados apresentados pelo especialista em resíduos sólidos Mateus Mendonça, durante o Fórum Agenda Bahia 2017.

A meta da concessionária de energia, no entanto, é aumentar a adesão da população ao Vale Luz a partir de um programa de conscientização sobre reciclagem que vai ser implantado a partir do ano que vem, antecipa a gerente de Eficiência Energética da Coelba, Ana Mascarenhas. A ideia, explica, é ampliar o programa motivando as pessoas a incorporarem a reciclagem ao seu cotidiano, como um compromisso com a sustentabilidade do planeta. 

“De tudo o que se joga fora em Salvador, pelo menos 35% poderia ser reaproveitado, mas menos de 2% é reciclado. A classe média, por exemplo, ainda não atinou para a reciclagem”, diz Ana Mascarenhas.

A gerente revela que o Vale Luz beneficia o meio ambiente tanto por impedir que o material reaproveitável vá atulhar os aterros sanitários, aumentando os problemas causados pelo acúmulo de lixo, quanto gera economia de energia, recurso que para ser gerado também tem um impacto ambiental. “O projeto se paga pela energia economizada, pois não é preciso produzir um produto novo se o antigo vai ser reciclado e isso é bom para o planeta”, detalha.

Além do ganho para o meio ambiente, as comunidades mais pobres, onde o Vale Luz começou, têm a vantagem da economia na conta de luz representada pela queda nas taxas de inadimplência. Segundo Ana Mascarenhas, depois da implantação, houve aumento da adimplência em torno de 20% entre as famílias que aderiram ao projeto. “Há ainda um fator de autoestima, porque com mais resíduos sendo reciclados, melhora a limpeza nas comunidades”, pondera a gerente.

Modelo Móvel

Mateus Mendonça, que é sócio-diretor da Giral Viveiro de Projetos, mantém o projeto Rua Lixo Zero, na Vila Madalena, em São Paulo, e atua há anos com cooperativas de recicladores, é consultor do programa Vale Luz para o Grupo Neoenergia, do qual a Coelba faz parte. Durante sua participação no Fórum Agenda Bahia deste ano, ele explicou que um dos principais desafios do projeto era facilitar o acesso das pessoas aos postos onde ocorre a troca do material reciclável pelo crédito na conta de energia elétrica.

“Existiam caminhões que iam até as comunidades e ficavam parados tentando atingir as metas do Programa de Eficiência Energética. A gente tinha esse desafio que era o caminhão ficar parado, até que percebemos que os veículos tinham de rodar. Daí foi criado um modelo móvel, de baixo custo. Hoje, o projeto funciona em modelo multimodal, tem os caminhões que vão até as comunidades, tem as tendas, tem os PEVs (Pontos de Entrega Voluntária)”, elenca Mateus.

Na capital baiana, os caminhões visitam 27 bairros da cidade, semanalmente. Além disso, há pontos de atendimento do Vale Luz no Salvador Shopping e Salvador Norte Shopping. Um aplicativo, o Vale Luz Cliente, pode ser baixado nas lojas da Apple e Google. Com a ferramenta, o cliente vê a localização e o status de funcionamento (aberto ou fechado) dos pontos de coleta, obtém informações sobre quais materiais podem ser trocados, os preços praticados por quilo de resíduo e também acompanha os créditos gerados e que serão abatidos na fatura de energia.

Cooperativas parceiras

Em Salvador, há duas cooperativas de recicladores que são parceiras do Vale Luz. Em Camaçari, tem mais uma. Alexssandro Campos, que faz parte da equipe que gerencia a Camapet (Cooperativa de Coleta Seletiva, Processamento de Plástico e Proteção Ambiental), criada em 1999 e parceira da Coelba desde o começo do Vale Luz, explica que o caminhão faz a entrega do material recolhido nas comunidades, uma vez por semana, na sede da entidade, no bairro de Massaranduba.

“Quando esse material chega, a gente faz a separação, pesa, contabiliza e gera o boleto para a Coelba conceder o desconto aos clientes da empresa. O restante do valor arrecadado com a venda dos resíduos para a indústria ajuda a manter a cooperativa. O importante desse programa, para nós, é que além do recurso obtido, ele é um importante instrumento de educação ambiental nas comunidades”, acredita Alexssandro Campos. 

Segundo ele, atualmente, a Camapet tem 26 recicladores cooperados, que retiram uma renda média de um salário mínimo mensal com a venda dos recicláveis. Alexssandro lembra ainda que incorporar a reciclagem à rotina é uma questão de comportamento do cidadão e que o trabalho de sensibilização precisa ser contínuo. Além disso, ele acrescenta que falta mais apoio às cooperativas. “A prefeitura precisa investir mais na educação ambiental e na estrutura de coleta seletiva na cidade”, opina.

Na região metropolitana, a Coopmarc (Cooperativa de Materiais Recicláveis de Camaçari), reúne 27 cooperados e é parceira do Vale Luz há dois anos, embora a entidade exista há 18. Jerônimo Bispo, responsável pela cooperativa, diz que o caminhão faz entregas dos resíduos recolhidos em Guarajuba e Itacimirim duas vezes por semana e que, em média, a entidade recebe de 600 a 800 quilos de recicláveis mensalmente. A maioria dos resíduos é papel e metal.

Para Jerônimo, uma das principais vantagens do projeto Vale Luz é a limpeza do meio ambiente e o processo de educação ambiental continuada, “que começa com o desconto financeiro, como um incentivo, e acaba se tornando um hábito. Além disso, o projeto permite o fomento à atividade dos cooperados”, acrescenta.