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Donaldson Gomes
Publicado em 11 de agosto de 2025 às 05:00
Conhecer bem a realidade da própria empresa, e fazê-la funcionar corretamente, é muito mais importante que a adoção de qualquer processo tecnológico, acredita Tauan Souza, coordenador de Negócios Inovadores e head de Startups no Sebrae Bahia. Por mais que os processos de inovação tenham o poder de transformar a realidade dos negócios, boas ideias são insuficientes para fazer uma empresa desajustada administrativa e financeiramente chegar ao sucesso. Nesta entrevista, explica como empresas de todos os portes podem utilizar as novas tecnologias e como elas podem ser inovadoras. No próximo dia 20, o CORREIO realiza a 16ª edição do fórum Agenda Bahia, que discutirá temas centrais para o desenvolvimento do país, como tecnologia e inovação. >
Quem é>
Tauan Souza é coordenador estadual de Negócios Inovadores e head de Startups do Sebrae Bahia e membro do Comitê Gestor do Polo Nacional de Startups. É formado como lead mentor pelo Venture Mentoring Service - MIT, mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano, Administrador e Turismólogo. Eterno aprendiz, atualmente interessado em inovação, futurismo, internacionalização e mentoring. Tem gosto pelo desenvolvimento sustentável, pelo propósito, pela cooperação, pela competitividade sadia e pelo trabalho.>
O empreendedorismo está intimamente ligado à inovação. Como trazer esta realidade para empresas de micro e pequeno portes?>
O primeiro ponto que tentamos levar, principalmente para micro e pequenos empreendedores, é de que há uma diferença muito importante entre inovar e usar tecnologia. São coisas diferentes, apesar de andarem juntas. A tecnologia é uma ferramenta, inovar é buscar novas formas de fazer uma coisa. Uma maneira diferente de buscar o cliente, ou vender algo, é inovação. Mudou produto, serviço, ou processo para ter mais rentabilidade, é inovação. As tecnologias ajudam a colocar em prática os planos de inovação, ajuda a viabilizar que se encontre um número maior de clientes e um público maior. O ideal é usar estas duas coisas diferentes. Se eu tenho uma pizzaria e em determinado momento uso a tecnologia do iFood para vender, o meu produto é o mesmo, mas estou usando uma tecnologia que nem foi criada por mim. >
Estes conceitos estão claros para o empreendedor?>
Ainda há uma dificuldade na cabeça do micro e do pequeno empreendedor, na cabeça de muita gente inovar é pegar uma ferramenta nova que está no mercado, pegar um Chat GPT e começar a utilizar sem nem mesmo saber como utilizar no negócio.>
Ainda existe a visão de que inovação é sinônimo de pesquisa e desenvolvimento?>
Sim, isso é algo muito forte. Aí a gente está falando já pesquisa mais intensa. Isso existe, faz parte deste universo, tem uma distância muito grande da realidade do pequeno empresário, mas está tudo bem porque não necessariamente ele vai precisar de uma solução tão complexa. Tem muita coisa simples de ser feita, de baixo custo ou até gratuita, mas não adianta aplicar uma ferramenta tecnológica se eu não sei o que vou fazer. Se eu não trocar a fiação elétrica da minha casa, não vai adiantar ter uma caixa com 500 ferramentas diferentes. Hoje temos uma febre, todo mundo indo para as IAs, mas muita gente nem sabe o que vai fazer lá. Sem saber o que vai fazer, a IA vai multiplicar o caos. Para aplicar as novas ferramentas bem, precisa ter os processos internos de gestão muito bem feitos, sua equipe precisa estar muito alinhada. >
A gente tem pessoas que se prepararam para empreender, mas também tem muita gente que empreende por conta da necessidade. Quais são os caminhos para transformar esse começo no início de uma história de sucesso?>
Eu compreendo perfeitamente os dois grupos. Um dos pontos essenciais do empreendedorismo é a resiliência, a capacidade de se manter firme. Parece fácil, mas o caminho é tortuoso, empreender está na moda, virou questão de status, mas a realidade é uma guerra diária, tanto para quem empreende por vocação, quanto para quem está no negócio por necessidade. O empreendedor precisa de estudo, entendimento sobre o negócio. Precisa ter, minimamente, a casa arrumada. Não adianta ter uma ideia inovadora, ser disruptivo e fazer um trabalho bacana de comunicação se o financeiro é ruim. Se não sei a diferença entre faturamento e lucro, ou que no final do dia preciso dar conta de alguns tributos. Sem um mínimo de conhecimento em gestão básica, dificilmente um empreendedor vai conseguir sobreviver a médio e longo prazo. Em um segundo momento, é preciso expor o empreendedor ao movimento da internacionalização. Antes isso era sinônimo de preparar ele para importar ou exportar, hoje é enxergar que o mercado digital é global, que o concorrente está ao lado, mas está do outro lado do mundo também. Está na China, nos Estados Unidos, em Taiwan, ou em Singapura. Seu concorrente está ao lado, mas também pode estar em qualquer lugar do mundo. Hoje o empreendedor concorre com todos os marketplaces, então ele pode utilizar essas ferramentas a favor também. Antes de pensar em inovação e tecnologia é preciso arrumar a casa. >
Chegar a este entendimento requer necessariamente um grande investimento?>
Tem muitas opções, caras, baratas e até gratuitas. Por exemplo, já existe uma infinidade de materiais de altíssimo nível escritos, tem ebooks disponíveis na internet, vídeos gratuitos no Youtube, que falam de transformação digital, de uma cultura de inovação, tem muita coisa disponível. Têm muitos cursos, o próprio Sebrae oferece bastante coisas. Tem uma gama de possibilidades. O mais importante é a aplicação, execução. A gente vê muita gente que se informa bastante, sabe o que precisa fazer, mas não começa a aplicar no negócio. A aplicação é muito importante, até porque o que funcionou no passado não necessariamente vai funcionar amanhã. Hoje é o morango do amor, amanhã isso pode não funcionar mais. O mercado sempre foi inconstante, mas demorava mais para mudar. Atualmente, a inconstância é uma certeza. Na dúvida, sempre teste coisas novas.>
O Agenda Bahia é uma realização do jornal Correio com patrocínio da Acelen, Sebrae, Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB e da Prefeitura Municipal de Salvador, apoio do Salvador Bahia Airport e Veracel, e parceria da Braskem. >