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Para além da diversidade, mais inclusão nas organizações privadas


 

  • Da Redação

Publicado em 18/12/2019 às 15:00:00
Atualizado em 20/04/2023 às 15:28:04
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As organizações são feitas por pessoas e fazem parte da sociedade. As organizações pensam. Há muito se fala sobre o papel das organizações na sociedade, pois a primeira não pode agir descolada da segunda e dos processos que atingem direta ou indiretamente a vida de cidadãos e cidadãs.

A discussão sobre a diversidade teve como marco, convencionado por alguns estudiosos, a década de 60, nos Estados Unidos e na Europa, a partir de diversos movimentos por direitos e liberdades: direitos civis dos negros, nos EUA; luta feminista pela autonomia das mulheres; o respeito aos homossexuais. Ainda não havia a sigla LGBTI+, quando houve a revolta de Stonewall em Nova Iorque. E foram tantos outros movimentos sociais no mundo que pressionaram os governos.

Nos anos de 1970, coletivos mais organizados mobilizaram-se. É criado no Brasil o Movimento Negro Unificado e o Somos, movimento homossexual. Naquele período, nos EUA, as empresas começaram a capacitar suas equipes sobre a diversidade. A partir de 80, nos EUA, a academia produz  diversos artigos sobre diversidade nasempresas. O tema passa a ser assunto de gestão. No Brasil, de forma mais efetiva, a discussão sobre o binômio diversidade e inclusão acontece diante das lutas pela democracia, e vai se aprofundar com a constituição de 1988.

Na década de 90, a globalização torna-se um imperativo. Empresas internacionalizaram-se. Produzir e vender para outras culturas, identidades e diversos povos é estratégia de deslocamento do capital no tempo e no espaço. As companhias americanas desenvolveram programas de diversidade em vários locais do mundo. A partir de 2000, período da sociedade em rede de Manuel Castells, muitos esperaram o fim mundo, mas este não acabou. A pauta da diversidade avança nas empresas, com a vinda das multinacionais para o Brasil. Juntam-se a isto, três acontecimentos: a publicação pelo Instituto Ethos de um relatório que dizia que: “As empresas podem e devem valorizar a diversidade”; o artigo da Professora Maria Tereza Leme Fleury: “Gerenciando a diversidade cultural - experiências de empresas brasileiras”; e a reportagem da revista Exame, publicada em sua capa, intitulada “O poder da diferença nos levaria a ter resultados melhores”. Estas publicações trouxeram a discussão para dentro das empresas, sendo a diversidade pensada como estratégia de negócio.

Nos últimos 6 anos, nunca se falou tanto em diversidade nas empresas. Diversidade é o conjunto de diferenças e semelhanças que definem as pessoas e as tornam únicas. É uma questão de fundo ético. Diz respeito à inclusão, dignidade, equidade e liberdade. Há a necessidade de aprofundamento sobre os desafios e as possibilidades da gestão da diversidade e da inclusão, para que as ações saiam do campo das imposições legais ou da mera propaganda, e tornem-se decisões conscientes de compromisso ético com as pessoas minorizadas e subrepresentadas.  Mesmo os negros e mulheres sendo maioria na sociedade brasileira, segundo o Instituto Ethos (2016), nos quadros funcionais os negros eram 35,7% e no quadro executivo apenas 4,7%.

As mulheres no quadro funcional representavam 35,5% e no quadro executivo somente 13,6%. Em relação às mulheres negras isso se aprofunda, pois são apenas 1,6% em quadros de gerência e apenas 0,4% em cargos executivos. Outro grupo, que ainda precisa de mais inclusão, mesmo com a legislação atual, são as pessoas com deficiência, pois eram 2,3% do quadro funcional e 0,6% do quadro executivo. Estes dados continuam referenciais atualmente. É importante que as empresas construam seus planejamentos estratégicos com objetivos, metas e indicadores responsabilizando gestores e avaliando resultados que reflitam, para além da diversidade, mais inclusão de negros, mulheres, pessoas com deficiências, LGBTI+, jovens e pessoas com mais de 50, que ainda são alijados dos processos de recrutamento, seleção e de ascensão nas organizações.

Para tanto, a Prefeitura do Salvador, por meio da Secretaria da Reparação, atua com o Programa Selo da Diversidade Étnico-Racial, que visa promover a reparação e a promoção da equidade racial e o respeito à diversidade no mercado de trabalho, orientando as empresas para pensarem novas políticas de recrutamento, seleção e revisão de normas e práticas da cultura organizacional; além de qualificar as equipes para atendimento a diversidade de clientes, no reconhecimento de vieses inconscientes e de como se manifestam nas nossas relações cotidianas todas as formas de preconceito e discriminação.

Com a orientação do prefeito ACM Neto, e sob a responsabilidade da secretária Ivete Alves do Sacramento, alcançamos a meta do planejamento estratégico com a formação de mais de 3.000 colaboradores e colaboradoras, desde a alta liderança às equipes operacionais, perpassando mais de 30 empresas participantes. No dia 10 de dezembro, renovamos o selo da diversidade étnico-racial às empresas que cumpriram seus planos e outorgamos esse reconhecimento a novas empresas, no total de 121 organizações, que assumiram com a cidade o compromisso de promover a equidade racial e o respeito à diversidade no ambiente organizacional e o de compreender a amplitude do mercado consumidor da capital, em que 68% da população negra consome alguns bilhões de reais. Estes números foram apresentados na Cerimônia de Outorga, e fazem parte da Pesquisa de Potencial de Consumo por Cor e Raça em Salvador, marco de entrega do planejamento da Secretaria da Reparação, realizada pela FARE Consultoria – Inteligência Corporativa. 

Leomar Borges é coordenador de Ações Transversais; Jaqueline Sobral é supervisora do Programa Selo da Diversidade Étnico-Racial

Conceitos e opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos autores

REFERÊNCIAS FARE Consultoria. Pesquisa Potencial de Consumo por cor e raça de Salvador,2019. Fleury, Maria Tereza Leme Gerenciando a diversidade cultural: experiências de empresas brasileiras. RAE - Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 40. Jul./Set. 2000. Instituto Ethos. Como as empresas podem (e devem) valorizar a diversidade. SP, 2000.  Rocha, Liliane. Como ser um Líder Inclusivo. São Paulo: Scortecci,2017 Sales, Ricardo. Aula aberta do MBA da Universidade La Salle. Rio Grande do Sul,2019. Voltolini, Ricardo. Guia Diversidade para empresas e boas práticas. São Paulo,2018.