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‘Minha consciência está livre’, diz velejador baiano preso em Cabo Verde


 

Rodrigo Dantas postou foto ao lado do pai e enviou mensagem de fim de ano aos amigos

  • Yasmin Garrido

Publicado em 31/12/2018 às 10:28:00
Atualizado em 23/05/2023 às 21:14:03
. Crédito: Foto: Reprodução

Um dos velejadores baianos presos em Cabo Verde desde 2017, Rodrigo Dantas aproveitou um momento de visita do pai para enviar mensagem de fim de ano a todos os amigos, familiares e aos que acompanham a história dele e dos demais brasileiros detidos no país africano.

Em imagem postada nas redes sociais na noite do último domingo (30), o baiano relembrou a trajetória desde a chegada em Cabo Verde, em agosto do ano passado, quando foi descoberta quase uma tonelada de cocaína no veleiro onde ele estava com mais três amigos, a prisão e a posterior liberdade condicional, além da condenação.

“Um ano que fui preso e um ano e quatro meses que cheguei em Cabo Verde (...) Um recurso do Ministério Público, alegando “perigo de fuga”, “risco de continuação de atividade criminosa”, “alarme social”, me botou na cadeia em 18/12/2017 (...) Tem sido um tempo muito difícil, de muito sofrimento, desgaste físico e emocional. Mas, apesar de tudo, tem sido um tempo de muito aprendizado, autoconhecimento e experiências únicas”, escreveu ele.

O pai de Rodrigo, João Dantas Netto, também compartilhou a imagem e o texto do filho nas redes sociais e pediu que os amigos mandassem mensagens de apoio a ele. “Hoje, por ser ser final de ano, foi permitido fazer fotografias na prisão. Aqueles que desejarem enviar alguma mensagem para ele [Rodrigo] poderá fazer diretamente no Instagram que vou imprimir e levar para ele”, disse.

Ainda na mensagem de fim de ano, Rodrigo afirmou que, nos quatro meses em que passou em liberdade na ilha africana conseguiu conhecer a Ilha de São Vicente, que, segundo ele, tem “praias lindas e ondas perfeitas”. Ele também contou que conseguiu trabalhar na marina da cidade, o que o fez se sentir “ainda mais em casa, perto do mar e dos barcos”.

O baiano agradeceu ao apoio dos amigos, brasileiros e cabo-verdianos, familiares e daqueles que, mesmo sem conhecê-lo, manifestaram qualquer tipo de apoio. No entanto, o agradecimento maior foi aos pais. “E a maior gratidão e amor aos verdadeiros guerreiros dessa batalha, meus heróis, que estiveram sempre presentes, que nunca falharam um dia sequer de visita, que não medem esforços e sempre fizeram todo o possível e impossível para vencerem essa luta”, declarou. Desenho feito por Rodrigo na cela em Cabo Verde (Foto: Reprodução) Cela compartilhada Em uma publicação em novembro, Rodrigo contou como é a vida encarcerado e deu detalhes da cela que divide com outros dois presos. O relato é acompanhado por um desenho feito por ele."Aos que não me conhecem, meu nome é Rodrigo Dantas, tenho 26 anos, sou aspirante à skipper profissional. Hoje, encontro-me restrito da minha liberdade ilha de São Vincente, na Cidade de Mindelo, e estou lutando para provar a minha inocência. Venho aqui mostrar minha atual realidade, um retrato frio da situação que me é imposta. Vivo em uma cela com mais dois detentos e apenas duas camas, revezamos a dormida no chão. Minha rotina se resume à 20 passos. 20 passos mesmo, do tipo passadas com os pés", disse."Acordo pela manhã, dou 2 passos para urinar em um balde (privada), que é recolhido uma vez ao dia, dou mais 2 passos e volto para a cama. À tarde uma portinhola se abre, em uma porta de ferro que não me dá circulação de ar ou visão para área externa, mais uma vez, dou 2 passos, recebo minha refeição e em mais 2 passos volto para a cama. No final do dia, com os passos que me restam, me dirijo à casa de banho, para me higienizar e logo após volto ao meu enclausuramento. O presídio é de segurança máxima, existem poucos dias em que são permitidos circulação no pátio com banhos de sol", continua o relato.

"Minha visão constante é uma porta de ferro fechada, mas ela não me impede de ter esperança e nem vai me calar", finalizou.

Prisão em Cabo Verde Rodrigo Dantas e Daniel Dantas foram contratados pela empresa Yatch Delivery Company para levar um veleiro, que estava sendo reformado em um estaleiro em Salvador, até a Ilha de Açores, em Portugal. O gaúcho Daniel Guerra, que também está preso, se juntou aos baianos em Natal, no Rio Grande do Norte.

O veleiro foi inspecionado no Brasil, em Salvador e Natal, sem irregularidades. Já em Cabo Verde, na África, uma tonelada de cocaína foi encontrada no piso de concreto e cimento da embarcação, quando foi realizada outra inspeção.

Rodrigo e Daniel foram condenados por tráfico internacional de drogas a 10 anos de prisão pela Justiça de Cabo Verde em março deste ano. Já em novembro, os pais entraram com pedido de prisão domiciliar, que será julgado pela segunda instância.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier