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Brasil x Bélgica em 2002: a derrota que os belgas não aceitaram


 

Único duelo em Copas ocorreu no ano do penta; para Felipão, foi o jogo mais difícil da campanha

  • Vitor Villar

Publicado em 06/07/2018 às 06:00:00
Atualizado em 18/04/2023 às 15:10:06
. Crédito: Robson Fernandes / Estadão Conteúdo

Hoje é dia de tentar dar mais um passo rumo ao hexa. Brasil e Bélgica se enfrentam nesta sexta-feira (6), às 15h (de Brasília), em Kazan, pelas quartas de final da Copa do Mundo. É o confronto da melhor defesa contra o melhor ataque do Mundial até então: os belgas marcaram 12 gols e a Seleção sofreu apenas um. Quem vencer estará na semifinal contra França ou Uruguai, que jogam às 11h, em Níjni Novgorod. Os uruguaios também sofreram só um gol na Rússia até então.

Brasil e Bélgica só se enfrentaram uma vez na história da Copa do Mundo. Para compensar, o duelo foi dos mais marcantes para ambos os países. Na visão dos brasileiros, porque aconteceu em 2002, ano do pentacampeonato. Para os belgas, por causa dos erros da arbitragem.

O confronto ocorreu pelas oitavas de final, em Kobe, no Japão. Era o dia 17 de junho, uma segunda-feira, às 8h30 no horário de Brasília. O Brasil venceu por 2x0, gols de Rivaldo, aos 22, e Ronaldo, aos 42 minutos do segundo tempo.

“O jogo contra a Bélgica foi o mais difícil para a gente na Copa do Mundo. Eles não tinham nada a perder. É diferente de jogar contra Inglaterra e Alemanha”, disse o então técnico Felipão à TV Globo, em documentário sobre os 15 anos do penta, lançado no ano passado.

A seleção belga vivia um momento muito diferente do atual. Seus jogadores nem de perto eram protagonistas das ligas mais valiosas do mundo, como são agora. Os belgas tinham mais espaço na vizinha Alemanha, e mesmo assim com poucos atletas atuando no mais alto nível.

O destaque era o meia Marc Wilmots, capitão daquela seleção e que fez história conquistando o título da Copa da Uefa (atual Liga Europa) pelo Schalke 04. Em 2002, porém, já tinha 33 anos e estava na reta final da carreira. Tanto que se aposentou no ano seguinte à Copa.

Ao lado de Wilmots jogava o atacante Émile Mpenza, então com 24 anos, também do Schalke 04. Mas a peça mais valiosa era um zagueiro: Daniel Van Buyten, que seria vendido mais tarde para o Bayern de Munique, onde atuaria até 2014 e se tornaria um dos melhores da sua posição.

O lance mais polêmico Foi de Wilmots o lance mais marcante do jogo – pelo menos, na visão dos belgas. Aos 35 minutos do 1º tempo, o meia subiu com Roque Júnior na área e cabeceou para abrir o placar. O árbitro jamaicano Peter Prendergast, no entanto, viu falta no zagueiro e anulou o gol. Na repetição pela TV, no entanto, vê-se claramente que o belga sequer tocou no brasileiro.

Wilmots nunca perdoou o erro. “O árbitro tomou uma decisão. Para mim não foi falta. A partir daí, nós da Bélgica nos sentimos prejudicados. É claro que não podemos dizer o que aconteceria depois, se o Brasil empataria, só que aquilo mudaria tudo. Nós jogamos muito contra o Brasil. O melhor deles em campo foi o goleiro”, disse o ex-meia em entrevista à TV Gazeta em 2018, lembrando da atuação destacada do palmeirense Marcos.

O gol coroaria o primeiro tempo da Bélgica, que foi superior ao Brasil. Na volta ao campo após o intervalo, o árbitro reconheceu o erro e pediu desculpas, segundo o próprio Wilmots. Na etapa final, Rivaldo achou um gol de fora da área e abriu o caminho para a vitória brasileira.

O curioso é que Wilmots, que desde 2004 trabalha como técnico, assumiu a seleção belga em 2012 e veio para a Copa de 2014, no Brasil. “Eu peço que esta geração esqueça o passado e tente fazer uma nova história, com muito entusiasmo. Em 2002, saí de uma Copa com um futebol de excelente nível”, disse o treinador durante o Mundial na casa dos seus algozes. Naquele ano, a Bélgica caiu diante da Argentina nas quartas de final, mesma fase atual.

Xerife atual também não perdoa A Bélgica reencontra o Brasil nesta sexta-feira. Expoente de liderança desta geração belga, o zagueiro Kompany também não perdoa até hoje o erro do árbitro naquela partida. Ele tinha 16 anos à época e assistia à partida como um jovem atleta de futebol.

“A primeira lembrança que tenho é o nome do árbitro: Peter Prendergast. Para que me lembre do nome de um árbitro, só pode ser um momento memorável. A única coisa que todos os belgas lembram é da cabeçada de Marc Wilmots e o que aconteceria se o gol não fosse anulado. É simplesmente isso. Não tenho outra lembrança deste jogo. Foi um grande momento para o futebol da Bélgica”, disse Kompany em entrevista na Rússia.