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Cabeça feita para a realeza africana na Bahia


 

Tranças e penteados revelam trajetória do povo preto na 9ª edição do Afro Fashion Day, que acontece em 25 de novembro

  • Mari Leal

Publicado em 06/11/2023 às 06:00:00
Valorizar os cabelos crespos é uma ferramenta de empoderamento. Crédito: Nara Gentil

No dia 25 de novembro, os modelos da passarela Afro Fashion Day 2023 levarão a Mãe África no corpo e na cabeça. Para a 9ª edição do projeto de moda do jornal CORREIO, o conceito de beleza do evento, que inclui cabelo e maquiagem, mergulhará nos aspectos e nas cores ancestrais/atuais em referência ao continente africano, com destaque para as tranças e penteados imponentes que dialogam com a trajetória da população negra desde a chegada às Américas.

Nos três blocos do desfile (Afro Realeza, Afro Etnia e Afrofuturismo), a forte mistura de cores e referências ao ouro e a prata, riquezas encontrada em abundância no território africano, vão se misturar a pinturas com referências tribais africanas usadas, inclusive nos tempos atuais, em festividades e manifestações religiosas.

Os cabelos e penteados são marcas essenciais da ancestralidade negra. Antes de serem traficados e arrancados de suas terras, a estética capilar já revelava origens, etnias, religiões e status social de africanos de várias etnias. Não à toa, já nos navios, as referências expressas pelos cabelos eram descontinuadas.

Nos dias atuais, apesar do avanço de um movimento histórico de aceitação e reconhecimento da beleza natural dos crespos, a questão dos cabelos ainda é um dos principais veículos de manifestação de preconceito racial.

Um dos primeiros discursos conhecidos que exaltou as características físicas do povo negro, associando-as à beleza, data de 1858, em Boston, nos EUA. O abolicionista John Swett Rock (1825-1866) lançou a base para a expressão até hoje utilizada: “black is beautiful”.

“Quando eu comparo o sistema muscular mais forte, a bela, rica cor, os traços largos e o cabelo graciosamente frisado do negro com a frágil organização física, a cor pálida, as feições finas e os cabelos lisos do branco, estou inclinado acreditar que, quando o homem branco foi criado, a natureza estava exausta”, disse Rock.

Black is beautiful

Em 1996, o movimento Black Power, nascido durante o processo de luta por direitos civis nos EUA, também deu aos cabelos crespos lugar central na estética negra. O cabelo black power virou símbolo da luta antirracista, de resistência e beleza.

“Acho sensacional as mulheres assumirem seus cabelos black power, suas tranças raiz, apliques, permanentes com definição de cachos”, comenta Dino Neto, maquiador profissional e coordenador da equipe de beleza do AFD 2023, ao comentar a diversidade de estilos associada ao empoderamento estético de negros e negras.

“É lindo ver as mulheres, tanto nas ruas quanto nos editoriais de moda, na televisão, dando um basta à ditadura do cabelo alisado com química”, completa. Para fazer a cabeça e todo o quesito beleza dos cerca de 70 modelos da edição 2023, a equipe de Dino contará com 13 pessoas, entre trancistas, manicures, cabeleireiro especializado em cabelos crespos e maquiadores.

O desfile Afro Fashion Day 2023 acontece no dia 25 de novembro, no Terreiro de Jesus. O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Vult, Bracell e will Bank, apoio do Shopping Barra, Salvador Bahia Airport e Wilson Sons e apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador.