Assine

Jornalista lança livro com entrevistas feitas ao longo de 30 anos de carreira


 

Marcus Gusmão reedita conversas com personalidades como João Ubaldo Ribeiro, Dias Gomes e Ernst Widmer

  • Mari Leal

Publicado em 01/11/2023 às 06:00:00

Um diálogo entre o passado e o presente. É assim que o jornalista e escritor baiano Marcus Gusmão define seu novo livro, Em Busca de Incertezas – Entrevistas em Páginas Amareladas. Um diálogo que vai além da reedição de entrevistas com personalidades do universo cultural, feitas e publicadas há três décadas nos jornais A Tarde, Jornal da Bahia e Tribuna da Bahia. Saem de cena grandes máquinas de escrever e entra o trabalho artesanal do livro cartonero, feito à mão.

Marcus Gusmão, autor de Em Busca de Incertezas . Crédito: Divulgação

O título da obra é inspirado em um trecho da conversa entre o Gusmão e o maestro e compositor suíço Ernst Widmer, uma das grandes figuras da Escola de Música da Ufba. Segundo Widmer, seu local de origem era carregado de certezas e a mudança para além Atlântico se justificava pelo desejo de viver o contrário, as incertezas.

Capa com imagem de Glauber Rocha criança. Crédito: Mari Leal/CORREIO

Além da conversa com o maestro, a seleção apresenta entrevistas com o dramaturgo Dias Gomes, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o cineasta cubano Santiago Alvarez, o poeta russo Levgueni Levtuchenko, Lúcia Rocha (mãe do cineasta Glauber Rocha), e os arquitetos João Filgueiras, o Lelé, e Lina Bo Bardi.

Às entrevistas, Marcus Gusmão somou seu comentários, nos quais relembra e revela as circunstâncias e curiosidades das conversas, e duas grandes reportagens sobre o Campo Grande e o Centro Histórico de Salvador. Há ainda textos atuais do poeta e jornalista Nilson Galvão, do cineasta e jornalista Josias Pires, do professor e jornalista Alberto Freire e do professor Gaudêncio Gaudério, amigos pessoais de Gusmão e principais incentivadores.

Clipagem da entrevista com Dias Gomes . Crédito: Divulgação

“Eu achava que as matérias não tinham esse valor todo. Mas, ao reler, tem uma coisa interessante que se chama tempo, que faz muita coisa fazer mais sentido”, conta Gusmão. Ele relembra, por exemplo, parte da conversa com João Ubaldo Ribeiro: “Ele fala de como lidava com o computador. Ele explica que o computador devolveu a ele a clássica da escrita. Cita um autor que só escrevia a lápis porque achava que a máquina cristalizava o texto. No computador, não. Ela é móvel”.

“As entrevistas trazem temas que eu considero extremamente atuais. Lelé, por exemplo, o arquiteto que concebeu as passarelas de Salvador, fala coisas fantásticas da cidade. Ele se diz um fracassado na vida, mas que tentou. Ele pensava de uma forma coletiva. Mais transporte público, menos carro na rua... uma discussão muito atual”, pondera Marcus.

Recorte de entrevista com João Ubaldo Ribeiro. Crédito: Divulgação

Casa oficina

Para dar vida a cada um dos exemplares do novo livro, Gusmão, que também é o criador da Licuri Livros Artesanais, praticamente transformou sua residência em oficina. Os livros cartoneros têm capa de papelão reutilizado e são costurados um a um. No processo de feitura de cada capa, furadeira, agulha, linhas e muita música (escolhidas pelos financiadores do projeto) foram fundamentais.

Os apoiadores foram convocados a enviar ao autor dicas de músicas, as quais embalariam a confecção do exemplar adquirido. A playlist do projeto já tem 182 músicas relacionadas.

“O livro cartonero é interessante porque pode ser moldado individualmente a cada pessoa. Cada livro é uma edição única”, explica Gusmão. “Nesse modelo, o domínio do livro é todo do autor, do começo ao fim. No tradicional, a produção de um livro é um processo longo, que depende de vários filtros e decisões que não estão nas mãos do autor, depende de uma editora”, compara.

O mergulho de Gusmão com a produção artesanal começou há cerca de quatro anos. “Eu comecei fazendo cadernos. Comprava no sebo enciclopédias velhas, tirava a capa e fazia cadernos pequenos. Um dia, o poeta Nelson Maca me convidou para uma palestra e fui apresentado ao livro cartonero, feito com papelão”, rememora. Gusmão utilizou a técnica recém-descoberta na publicação de seu primeiro livro, Licuri, e nunca mais parou, ministrando, inclusive, oficinas sobre o tema. Licuri vendeu 300 exemplares.

A primeira tiragem deste segundo livro tem 100 exemplares, numerados e personalizados com o nome do comprador. O projeto também conta com o trabalho do designer Mauro YBarros, que assumiu a missão de reproduzir a página tal qual a publicação original.

Em Busca de Incertezas será lançado nesta segunda-feira (6). Das 18 às 20, no Acarajé da Ana, na Rua Padre Daniel Lisboa, e das 20h30 às 22h no Espetinho do Bolero, na D. João VI, ambos no bairro de Brotas. O livro estará à venda a partir de terça-feira (7) na Casa Boqueirão, na Rua Chile, e na Livraria do Glauber, na Praça Castro Alves, por R$ 25.