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'Primeira boneca negra que tive fui eu que fiz', diz criadora de bebês reborn negros em Salvador

Entenda a febre dos bonecos realistas que viralizam e geram polêmica na internet

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 3 de maio de 2025 às 11:00

Isabela Néri coleciona e confecciona bebês reborn
Isabela Néri coleciona e confecciona bebês reborn Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Isabela Néri tem 31 anos e confecciona e coleciona bebês reborn negros em Salvador desde 2020. O termo é difícil de falar, mas se espalhou facilmente pelo mundo todo e se refere a bonecos com aparência realista. Eles viralizaram na internet e passaram a gerar polêmica na última semana. 

A artista se apaixonou pela arte quando ainda era criança, mas seus pais não tinham dinheiro nem para uma Barbie, quanto mais para um reborn, como ela mesma lembra. Em 2016, decidiu fazer a própria boneca, comprou os materiais, mas não levou adiante o plano.

Em 2020, durante a pandemia de covid-19 e em meio a problemas de saúde que preferiu não detalhar, retomou o projeto. Fez cursos online, assistiu a tutoriais na internet e assim nasceu a primeira obra de arte. Ela lembra que foi desencorajada por pessoas do meio, que disseram que ninguém ia querer comprar um reborn negro no Brasil.

“Foi o primeiro boneco negro que eu tive na vida. Segui em frente, mesmo comprovando na prática que os caucasianos são mais procurados do que os negros e que dá muito mais trabalho para fazer”, diz Isabela.

“Tinha gente que fazia mas não ficava tão bom quanto os caucasianos. É que não é só pintar de marrom. Tem que fazer os subtons de pele, as veias, a profundidade. Se uma camada dá errado, tem que começar tudo do zero, por isso muita gente não quer fazer”, explica.

Detalhes da arte reborn impressionam
Detalhes da arte reborn impressionam Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Processo

Isabela compartilha que compra o chamado kit, que contém o boneco de vinil em branco e desmontado, de fora do país, em lugares como o Canadá. Garante que o produto é feito por escultoras e ganha cópias autenticadas em fábricas para serem exportados. “Nesse caminho, pode acontecer a pirataria e é preciso ter cuidado porque ninguém sabe como essas cópias piratas são feitas, o material pode ser tóxico”, alerta.

Ela lava o kit e vai fazendo as camadas de pele com tinta a óleo. A cada camada, o material passa por um forno halogênio. Ao final, recebe uma camada de verniz. Em seguida, começa a aplicação do cabelo. Ele pode ser de fibra sintética, cabelo humano ou do tipo mohair, que é uma fibra natural capaz de simular o cabelo fino de um bebê recém-nascido. “Eu uso mais esse tipo, vem da Rússia e da Alemanha e eu vou aplicando fio a fio”, compartilha.

Por fim, acontece a montagem do bebê, com o encaixe das peças. Para ficar com o peso de um bebê de verdade, o boneco é preenchido com areia para artesanato e recebe um enchimento de fibra siliconada. O processo leva cerca de 45 dias. Quando é vendido, o reborn vai junto com o certificado de autenticação das peças e do produto final e simulações de certidão de nascimento, teste do pezinho e ultrassom.

Julgamento

Isabela conta que a maior parte de suas vendas é para adultos. “Tem gente que procura para comprar para as crianças, mas, quando vê que pode quebrar e que o preço é alto, desiste”, diz a artista, que vende os bebês reborn a partir de R$2 mil.

A ideia é que os bonecos, que foram criados nos Estados Unidos em 1990 para colecionadores, sejam realistas na aparência. Mas vídeos como o da influenciadora Carol Sweet, que simula o “parto” de um deles, sugerem que eles são tratados como bebês reais. Outros que usam Inteligência Artificial para fazer os bonecos se mexerem até assustam.

“É uma encenação para os conteúdos que são publicados nas redes. E tem gente que faz questão de não deixar isso claro para gerar polêmica porque quer viralizar a qualquer custo”, defende Isabela Néri.

Enquanto desenrola de um embrulho de pano um dos reborn que possui, brinca: “Isso é tratar como se fosse de verdade? Eu espero que ninguém guarde um bebê de verdade completamente enrolado em um pano e dentro de uma sacola fechada”. Ela acrescenta que, em casa, os bonecos ficam em um armário com um saco na cabeça para evitar o contato com a poeira e passam por uma limpeza com algodão com água e pincel a cada cinco meses.