Salvador testa ônibus elétrico no Centro Histórico e revive era dos bondes

A modernidade que reporta ao saudosismo de uma velha e nostálgica Salvador. Totalmente elétrico e de última geração, a capital baiana iniciou ontem um período de testes do mais novo programa de mobilidade no Centro Histórico: um ônibus moderno que circula entre a Praça da Sé e Campo Grande, que vai servir de projeto piloto para a expansão deste sistema que promete desafogar o trânsito no local e atrair mais gente para o Pelô. É também uma espécie de resgate aos primórdios do transporte público soteropolitano, os bondes, que faziam roteiros semelhantes. Inclusive o primeiro a circular, fundado há 176 anos, fez praticamente o mesmo roteiro desta novidade. A diferença é que, naquele ano de 1849, o primeiro ‘bonde’ não era elétrico, mas de tração animal.

Curiosamente, o primeiro bondinho a circular em Salvador era conhecido como gôndolas ou ‘ômnibus’, escrito assim mesmo, só mais tarde virando ônibus e depois buzão, os mesmos que circulam pela cidade. Mas na época era um bonde sobre trilhos, mas puxado por cavalos ou burros e fazia, no início, o roteiro da Sé ao Largo da Vitória. Este meio de transporte foi o principal de Salvador durante 20 anos, até a chegada do bonde elétrico.

“Os bondes movidos a tração animal, a vapor ou a eletricidade tiveram grande participação na expansão urbana que se deu em Salvador, facilitando a circulação de pessoas e mercadorias pela urbe e unindo a ela antigos arrabaldes, tais como Itapagipe, Barra, Rio Vermelho e, posteriormente, Amaralina”, escreveram Cybèle Celestino e Karina Matos de Araújo, no livro ‘Sobre arcos e bondes - Resgatando a memória urbana de Salvador’. Essa é a ideia. Durante um mês, o teste com o novo ônibus elétrico será justamente para ganhar terreno para algo maior: expandir o roteiro, aumentar a frota, sempre desbocando no Centro Histórico, atraindo turistas e requalificando o local, além de melhorar a mobilidade.

“A linha também reforça o conjunto de ações voltadas à valorização do Centro Histórico que vem sendo realizada pela Prefeitura, que incluem a requalificação do Elevador Lacerda, do Plano Inclinado Gonçalves, da Praça Maria Felipa no Mercado Modelo, da Casa da Música e de outros centros culturais e espaços públicos”, pontuou o secretário de Mobilidade da capital, Pablo Souza, que planeja este ‘bondinho’ moderno de forma permanente.

Os testes terão duração de 30 dias e integram uma ação do Fórum Baiano dos Secretários de Mobilidade. A iniciativa permite que diferentes municípios da Bahia avaliem o desempenho de veículos elétricos em variados tipos de relevo e condições de tráfego. Além de Salvador, participam do projeto as cidades de Jequié, Vitória da Conquista, Luís Eduardo Magalhães, Camaçari e Feira de Santana.

A linha funcionará de segunda a sexta-feira, das 7h às 20h, e aos sábados, das 7h às 13h, sem operação aos domingos. A tarifa será a mesma praticada no sistema municipal, no valor de R$ 5,60, com pagamento exclusivo por meio do bilhete eletrônico. Para atender os passageiros que ainda não possuem o cartão, uma equipe da Integra estará disponível no local para facilitar a emissão antes do embarque.

“Essa é uma linha importante para a acessibilidade dos baianos e também dos turistas. Nesse período de teste de 30 dias, a passagem é a mesma que já usamos normalmente, com integração, disponível para todos”, explicou a vice-prefeita e secretária de Cultura e Turismo (Secult), Ana Paula Matos. “O ônibus é 100% elétrico e estamos buscando estratégias para ampliar a acessibilidade em toda essa região. Em breve teremos outras novidades, talvez até a complementação da linha. Acredito que vai dar super certo, é só esperar e ver como será a receptividade das pessoas”.

Ana Paula destacou ainda que o projeto deve contribuir para tornar Salvador uma cidade mais inclusiva e conectada com seu patrimônio histórico. “Essa é uma região que realmente precisa de maior acessibilidade, e a gente vai conseguir construir uma Salvador mais acessível para todos. De qualquer bairro da cidade, é possível fazer a integração, chegar aqui, viver um pouco da nossa história e da nossa cultura, e voltar para casa ainda mais feliz. Isso vai ser importante para todo mundo”, completou.

Quem não conteve a emoção de viver este momento nostálgico e moderno foi Joilma Silva. Ela foi a primeira motorista a conduzir o ônibus elétrico que refaz o trajeto dos primórdios do transporte público da capital. “É uma honra não ser apenas a primeira, mas também ser a primeira mulher a inaugurar este feito. O ônibus é muito confortável, silencioso, muito bom para dirigir. Com certeza a população vai aprovar e teremos muito mais desses em Salvador”, conta Joilma.

Durante o período de teste, a linha E012 - Praça das Sé - Campo Grande terá seu ponto final na Rua das Vassouras. De lá, passará pela Praça da Sé, onde será instalado um ponto de ônibus provisório, Rua da Ajuda, Carlos Gomes, até o Largo do Campo Grande, retornando pela Avenida Sete de Setembro e Rua Chile.

O trajeto será atendido por um ônibus elétrico de 9 metros e dispõe de ar-condicionado elétrico, vidros com proteção contra raios UV e entradas USB distribuídas entre os balaústres e assentos.

Outro destaque é o piso nivelado e o sistema de ajoelhamento, que permite ao ônibus inclinar-se na direção da porta, tornando o embarque e o desembarque mais acessíveis para pessoas com mobilidade reduzida, idosos e responsáveis com carrinhos de bebê.