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Gabriel Amorim
Publicado em 12 de julho de 2019 às 05:13
- Atualizado há 2 anos
Pelo menos 150 famílias estão desabrigadas na cidade de Coronel João Sá, no Nordeste da Bahia, depois que a Barragem de Quati, que fica no povoado de Quati - no município vizinho de Pedro Alexandre - rompeu no final da manhã de desta quinta (11). Além dos desabrigados de Coronel João Sá, há 50 famílias atingidas pela enxurrada no Quati. Não houve vítimas, mas a prefeitura de Coronel João Sá estima um prejuízo de R$ 10 milhões.>
Ainda era início da manhã quando veio o alerta: a Barragem de Quati, localizada no povoado do Quati, município de Pedro Alexandre, no Nordeste da Bahia, havia transbordado após pelo menos cinco dias de chuvas intensas. Às 11h20, veio a confirmação: a estrutura, inaugurada em 2000 pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) para abastecimento de água de cidades da região, havia rompido.>
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Em pouco tempo, as ruas do Quati pareciam uma extensão do Rio do Peixe, onde fica a estrutura. A água que inundou o povoado, a 14 quilômetros da sede do município, afetou ainda mais a cidade vizinha de Coronel João Sá. Lá, além das 150 casas atingidas, outras dez desabaram. As cidades ficam na divisa com Sergipe.>
Em um vídeo que circulou nas redes sociais, um morador relatou a situação na cidade. “Aqui é o centro da cidade da Rua Velha. Olha onde se encontra a água, no joelho das crianças. Mas, graças a Deus, aqui não ficou ninguém. Já tiramos todo mundo. Todas as crianças, idosos”, comenta o cinegrafista amador. Animais também foram retirados.>
O prefeito de Coronel João Sá, Carlos Sobral, disse que a situação é atípica. “A barragem quebrou no meio, rompeu no meio. Temos vídeos que mostram o momento do rompimento. A própria Defesa Civil do estado diz que houve o rompimento”, afirmou.>
“Graças a Deus, não morreu ninguém. Só uma senhora de 70 anos que ficou ilhada e quase morre afogada, mas conseguimos resgatá-la”, disse o prefeito.>
Para ele, só foi possível evitar uma tragédia de maior proporção porque, assim que soube que havia risco de rompimento da barragem, por volta das 9h, ele convocou a equipe da prefeitura para ir às áreas de risco e tirar os moradores de suas casas.>
“Botei todos os secretários na rua avisando a população, diponibilizamos caminhões para recolher as coisas e escolas para o povo ficar abrigado. Se não tivéssemos evacuado as zonas de risco a tempo, muita gente teria morrido. Foram afetadas entre 100 e 150 famílias”, diz.>
As famílias que tiveram que deixar os imóveis estão sendo levadas para o Colégio Municipal e para as escolas Maria Dalva, Ruy Barbosa, Juracy Magalhães e Paraíso Infantil.>
Desabrigados Os desabrigados em Coronel João Sá somam ao menos 500 pessoas. No povoado do Quati, em Pedro Alexandre, vivem cerca de 50 famílias, segundo o prefeito, Pedro Gomes Filho.>
Inicialmente, algumas famílias resistiam em deixar suas casas. Segundo o prefeito de Coronel João Sá, foi necessário pedir o apoio policial.>
“Estamos dando alimentação, colchões e suprimentos. Pretendemos fazer uma campanha para arrecadar donativos para as vítimas, mas foi tudo tão corrido que ainda não tivemos tempo de organizar isso. O mais importante disso tudo e que sirva de exemplo é que, se evacuar a tempo, é possível poupar as vidas das pessoas”, disse Carlos Sobral.>
“As Defesas Civis de Pedro Alexandre e Coronel João Sá agiram em conjunto para retirar as famílias das casas. A água invadiu algumas residências, mas não houve destruição nem vítimas. Estão todos em local seguro”, informou, na quinta à tarde, a Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado (Sudec). À noite, no entanto, o órgão voltou atrás e disse que não houve rompimento.>
O órgão reconheceu que havia rachaduras na estrutura, mas diz que o excesso de chuvas na região provocou um “galgamento”, quando a água transborda a parede do açude. “Não há rompimento”, disse o superintendente-adjunto, Vitor Gantois. “Há rachaduras nas laterais, que ainda não conseguimos vistoriar”, completou.>
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), Luís Edmundo Campos, está acompanhando a situação em contato com a Sudec. “As imagens divulgadas não mostram o rompimento. Elas mostram um volume de água muito grande passando pela estrutura do sangradouro. Agora, uma barragem de terra transbordando tem um grande potencial de romper”, disse.>
Um trecho da rodovia BR-235 foi tomado pela água e lama e está intransitável. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) emitiu um alerta e informou que irá aguardar a “redução do nível da água para verificar possíveis danos à rodovia, recuperar em caráter emergencial e restabelecer a trafegabilidade o mais rápido possível”. A PRF não informou sobre desvios.>
De acordo com o secretário de Comunicação de Coronel João Sá, Waldomiro Júnior, as áreas mais atingidas foram as ruas do Galo, Santo Antonio, Beira Rio, Senhor do Bonfim, José Antonio dos Santos e o bairro da Barroquinha. Foi disponibilizado um telefone de emergência: (75) 99987-3419.>
“A área próxima ao rio é muito povoada, temos casas que ficam a 20 metros, 30 metros de distância do Rio do Peixe”, comenta o secretário. Ainda segundo ele, “a água já atingiu metade da altura de muitas casas” e há famílias que já perderam tudo. >
Apoio Equipes da Defesa Civil do estado, do Corpo de Bombeiros e do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) foram enviadas aos locais afetados. O governador Rui Costa visita nesta sexta-feira (12) as duas cidades. Em nota, ele manifestou solidariedade aos moradores da região.>
Segundo a Secretaria de Comunicação do governo, Rui Costa já entrou em contato com os prefeitos das duas cidades para oferecer a estrutura do estado nesse momento. Também serão enviados mantimentos e água mineral.>
Pedro Alexandre decreta situação de emergência Após o rompimento da barragem, o prefeito de Pedro Alexandre, Pedro Gomes Filho, decretou situação de emergência na cidade. O decreto, publicado na própria quinta no Diário Oficial, explica que as fortes chuvas que têm caído no município desde o domingo causaram inundações, enxurradas e alagamentos. O decreto também alerta que, por conta do mau tempo, tem sido impossível transitar por diversas estradas.>
O documento determina a suspensão das aulas da rede pública municipal, em razão dos danos causados nas estradas que impossibilitam o transporte dos alunos, por tempo indeterminado, e autoriza a mobilização de todos os órgãos municipais para atuarem sob a direção da coordenadoria municipal de proteção e defesa civil.>
Além disso, prevê mobilização para reabilitação do cenário e reconstrução/desobstrução de vias, além da convocação de voluntários para realização de campanhas de arrecadação.“Não temos como fazer nada com relação à barragem, porque nem trator chega lá. Hoje está uma chuva fina, mas desde a semana passada que estamos tendo chuvas pesadas, que ocasionaram essa situação”, disse o prefeito.>
População carente é a mais atingida nas cidades De acordo com o secretário municipal de Comunicação de Coronel João Sá, Waldomiro Júnior, as áreas mais afetadas são justamente aquelas que abrigam pessoas mais carentes. “A população mais afetada é a mais carente. São pessoas que construíram suas casas muito próximas do rio. Mas os moradores daqui são muito solidários e todo mundo tem ajudado”, afirmou.>
Como a situação nunca aconteceu, a gestão ainda estava na expectativa de que a água tomasse toda a cidade. “Estávamos em alerta, mas não sabemos o que vai acontecer a partir de agora”, analisou. Segundo Pedro Gomes Filho, prefeito de Pedro Alexandre, a barragem era de água salobra e muitos moradores costumavam pescar no local.>
Em nota, a ANA informou ter tomado conhecimento do “rompimento gradual da barragem Quati, em Pedro Alexandre, de usos múltiplos de água”, mas informou que a responsabilidade por fiscalizar a estrutura é do estado da Bahia.>
“Por se tratar de uma barragem em rio estadual, a fiscalização desse açude não compete à ANA, e sim à autoridade competente no estado da Bahia”, delimita o órgão federal, embora afirme que, guardadas as devidas proporções, acompanha a situação. Nesse caso, a atribuição é do Inema, que enviou técnicos ao local, mas não respondeu como a fiscalização vem sendo feita.>
*com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro>