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Carol Neves
Publicado em 27 de agosto de 2025 às 11:25
Sebastião Francisco de Abreu, de 72 anos, e Almezinda Maria da Fonseca de Abreu, de 70, morreram com menos de duas horas de diferença em São João del Rei, no interior de Minas Gerais. Casados há 43 anos, a forte ligação entre eles impressiona a família, que vê na proximidade das mortes a continuidade de um amor que ultrapassa o tempo. >
“Quando o coração do meu pai parou, parece que o da minha mãe também parou junto. Parece que ele saiu dali só para buscar ela”, disse Tiago Abreu, um dos dois filhos do casal, em entrevista ao portal G1.>
Sebastião enfrentava problemas de saúde desde o ano passado, quando passou por uma cirurgia após fraturar o fêmur. A recuperação foi longa e exigiu sessões constantes de fisioterapia. Nos últimos 40 dias, foi internado devido a uma infecção urinária que evoluiu para pneumonia, agravada por insuficiência cardíaca. Almezinda esteve ao lado dele durante todo o processo, recusando-se a deixar o hospital, mesmo com tentativas da família de revezar os cuidados. "Ele dizia que ela era a médica dele", contou Tiago.>
Na manhã de quarta-feira (20), o quadro de Sebastião piorou. Almezinda, abalada, chegou a enviar um áudio chorando para o filho, pedindo que fosse ao hospital. Ao chegar, Tiago encontrou a mãe também fragilizada. "Ela conhecia os procedimentos do hospital, já tinha visto outras pessoas partirem. Sabia o que estava por vir.">
Por insistência da família, Almezinda foi levada para descansar na casa de uma tia. Mas já deixava claro que não suportaria viver sem o companheiro. “Ela disse com todas as letras que ia encontrá-lo. Era como se ela já soubesse.”>
Sebastião morreu às 23h, na Santa Casa de São João del Rei. Cerca de uma hora e meia depois, a família recebeu a notícia de que Almezinda havia sofrido um ataque cardiogênico fulminante e também havia falecido. Ela nem chegou a saber da morte do marido. Para os filhos, a ligação entre os dois não permitiu que um seguisse sem o outro.>
No cemitério, os filhos decidiram enterrar os pais na mesma sepultura, mesmo que o plano inicial fosse colocá-los lado a lado em gavetas diferentes. “Não teve dúvida. Nunca foram separados. Nem deveriam ser agora.”>
O velório reuniu vizinhos, amigos, religiosos, crianças e moradores em situação de rua. Todos com histórias de carinho e admiração. “Eles viveram e morreram do jeito que escolheram: juntos, em paz, com fé. E deixaram um legado que a gente carrega com orgulho”, disse Tiago. Como forma de homenagem, o filho escreveu uma música para homenagear os pais.>