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Carol Neves
Publicado em 17 de julho de 2025 às 08:04
Após mais de duas décadas em tramitação, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (17), por 267 votos a 116, um projeto que flexibiliza significativamente as exigências do licenciamento ambiental no Brasil. A proposta agora segue para análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderá sancionar ou vetar partes do texto.>
O projeto, criticado por ambientalistas e apoiado por setores do agronegócio e da indústria, foi aprovado em meio a protestos dentro e fora do Parlamento. Organizações como o Observatório do Clima classificaram a aprovação como "o maior retrocesso ambiental legislativo desde a ditadura militar". O texto muda a forma como o país autoriza obras com potencial de causar impactos ao meio ambiente, incluindo grandes empreendimentos de mineração, infraestrutura e agropecuária.>
Entre os pontos mais polêmicos do projeto está a criação de uma Licença Ambiental Especial (LAE), destinada a obras classificadas como estratégicas pelo governo federal, mesmo que provoquem significativa degradação ambiental. Essa autorização poderá ser concedida em até um ano, mediante estudo de impacto, e valerá por cinco a dez anos. A decisão final sobre a concessão ficará a cargo do presidente da República, após consulta ao Conselho do Governo. Críticos apontam que isso permite um “tratamento político” ao invés de técnico no licenciamento, o que pode favorecer projetos de alto risco, como a exploração de petróleo na Margem Equatorial.>
O texto também amplia o uso da chamada autodeclaração, prática em que o próprio empreendedor informa dados sobre o projeto e obtém licença quase automática para atividades consideradas de baixo ou médio impacto. Essa modalidade já era aplicada em alguns estados, mas agora passa a valer em nível nacional. Especialistas temem que isso leve à proliferação de empreendimentos com baixa fiscalização e alto potencial de degradação ambiental.>
A proposta ainda dispensa o licenciamento ambiental para atividades como ampliação de rodovias, instalação de estações de tratamento de água e esgoto (até que sejam cumpridas as metas de universalização do saneamento) e pequenas barragens voltadas para abastecimento ou pecuária. No caso da mineração de grande porte ou alto risco, os deputados retiraram a exigência de seguir regras estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), transferindo essa competência para os estados.>
Outro ponto duramente criticado é a retirada do Ibama do processo de autorização para desmatamento da Mata Atlântica. A decisão ficará nas mãos de estados e municípios, eliminando trechos da atual Lei da Mata Atlântica que protegiam vegetações primárias e secundárias do bioma.>
Também preocupante, segundo organizações socioambientais, é a desconsideração de terras tradicionais ainda não homologadas no processo de licenciamento. Ou seja, comunidades indígenas e quilombolas que vivem em territórios não oficializados poderão ver suas áreas impactadas por empreendimentos licenciados sem consulta ou consentimento. >
Frente do Agro comemora>
Enquanto deputados da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) comemoraram a aprovação como avanço na desburocratização e melhoria do ambiente de negócios, o governo federal se mostrou dividido. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, é contra a proposta. Já as pastas de Agricultura e Minas e Energia apoiam o texto. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), orientou voto contrário.>
A votação foi marcada por tensão no plenário. A Polícia Legislativa precisou intervir após troca de ofensas entre os deputados Célia Xakriabá (Psol-MG) e Kim Kataguiri (União-SP), durante discussão sobre os impactos do projeto nas comunidades indígenas.>
O relator da proposta na Câmara, deputado Zé Vitor (PL-MG), defendeu o texto dizendo que ele não enfraquece o controle ambiental e garantiu que haverá análise de risco em todos os casos. "Não há um ponto sequer, e é covardia dizer isto para aqueles que estão lá fora, que trate de afrouxamento ou flexibilização das normas ambientais no país", afirmou, segundo o portal G1. Já a deputada Duda Salabert (PDT-MG) foi na direção oposta: "Esse projeto é uma tragédia, que vai abrir caminho para que os crimes que aconteceram em Mariana e Brumadinho se repliquem no Brasil".>
A Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) celebrou a medida, destacando que ela trará “segurança jurídica, previsibilidade regulatória e melhoria do ambiente de negócios”. Mas o Observatório do Clima já anunciou que a questão será judicializada. >