Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 8 de março de 2017 às 08:39
- Atualizado há 2 anos
A Justiça Federal no Rio aceitou nesta terça-feira, 7, denúncia sobre fraude na licitação das obras de ampliação da Marginal Tietê, em São Paulo, e tornou réus em mais uma ação penal o empresário Fernando Cavendish, da Delta Construções, e o operador Adir Assad, além de outras quatro pessoas. A denúncia aponta superfaturamento da obra em R$ 71,6 milhões, pago pela estatal Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) ao consórcio Nova Tietê, liderado pela Delta.>
A obra custou R$ 360 milhões. O valor inicial era de R$ 287 milhões. O custo foi ampliado por um aditivo considerado ilegal na acusação formal. Após o pagamento do aditivo, os valores seriam repassados para empresas de fachada, segundo os procuradores. A denúncia foi aceita pelo titular da 7ª Vara Federal Criminal, juiz Marcelo da Costa Bretas.>
As obras ocorreram entre 2009 e 2011, na gestão do hoje senador José Serra (PSDB-SP) no governo de São Paulo. À época da licitação, Paulo Vieira de Souza era diretor de engenharia da Dersa. >
Assad propôs um acordo de delação premiada à Lava Jato no qual afirma ter repassado cerca de R$ 100 milhões para Souza, entre 2007 e 2010, na gestão Serra em São Paulo, conforme informou o jornal "O Estado de S. Paulo". O operador de propinas admitiu ter usado suas empresas de fachada para lavar recursos de empreiteiras em obras viárias na capital e região metropolitana de São Paulo, entre elas as da Nova Marginal Tietê Souza não está entre os denunciados deste terça à Justiça. >
'Esquema nacional'O esquema alvo da nova ação penal foi denunciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo no início do ano passado. O caso foi encaminhado para o Rio, onde já há investigações sobre os envolvidos. "Vislumbra-se que os crimes apurados neste procedimento são, em tese, parte de um grandioso esquema de âmbito nacional, praticado por uma mesma organização criminosa", afirmou o juiz Bretas ao receber o processo de São Paulo.>
Inicialmente, o caso estava na 14ª Vara Criminal de São Paulo, mas foi enviado à 7ª Vara do Rio. A mudança na tramitação ocorreu porque os réus e os crimes são semelhantes aos da Operação Saqueador, deflagrada em junho do ano passado para apurar as suspeitas de lavagem de R$ 370 milhões em obras tocadas pela construtora Delta no Rio de Janeiro. O MPF no Rio reapresentou a denúncia.>
Além de Cavendish e Assad, foram denunciados Mauro Abbud, Marcello Abbud, Sandra Malago e Sonia Branco. Eles são acusados de fraude à licitação, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e associação criminosa.>
Apesar de citar a Dersa, que repassou R$ 360 milhões para a Delta referentes à obra, a denúncia não traz nenhuma acusação contra agentes públicos ou servidores do Estado de São Paulo.>
A licitação foi feita por um convênio realizado entre o Estado e a Prefeitura. Na época, o prefeito era o hoje ministro Gilberto Kassab (Comunicações).>
DefesasO advogado Miguel Pereira Neto, que representa Adir Assad, Mauro e Marcelo Abbud, afirmou por meio de nota que "se pronunciará posteriormente" porque "ainda não teve acesso à denúncia". A defesa de Cavendish não se posicionou. >
Kassab afirmou em nota que "a Prefeitura de São Paulo, por se tratar de obra de mobilidade urbana dentro dos limites do município, prestou apoio técnico e logístico pertinentes às suas atribuições legais desde o início até a conclusão das intervenções. Esse apoio compreendeu o monitoramento do trânsito, aprovação de adequações provisórias de tráfego e sinalizações necessárias durante a execução e, também, após o término das obras". Kassab ressalta que "não coube à Prefeitura a realização de licitações, fiscalização ou pagamentos". >
A Dersa afirmou que "até o presente momento, não tem conhecimento dos termos da suposta denúncia apresentada pelo MPF-RJ" e que "portanto, não tem o que manifestar sobre o assunto". O Estado procurou Serra por meio da assessoria do senador, mas ele não havia se manifestado até a conclusão desta edição. A reportagem não localizou Sandra Malagoe Sonia Branco.>