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Estadão
Publicado em 21 de outubro de 2024 às 18:01
Policiais militares foram filmados agredindo pessoas em um velório em Bauru, interior de São Paulo, na última sexta-feira, 18. A cerimônia estava sendo realizada para o enterro de dois jovens que morreram na quinta, 17. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, eles morreram em um confronto com a PM, na comunidade do Jardim Vitória.>
A SSP-SP não explicou os motivos da presença dos agentes no velório e informou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM) "para apurar a conduta dos policiais envolvidos e adotar todas as medidas cabíveis".>
A Ouvidoria da Polícia Militar lamentou o comportamento dos PMs e determinou a abertura de um procedimento para solicitar à Corregedoria da PM uma apuração rigorosa sobre o caso.>
Nas imagens, os agentes aparecem desferindo golpes de cassetetes e empurrando os familiares. Os policiais retiram à força um rapaz de camiseta branca, apesar dos protestos das pessoas. Ele seria o irmão de um dos jovens velados. Antes, uma mulher, também de branco, abraça o rapaz para tentar impedir a ação dos militares. Ela é arremessada com força e cai ao chão.>
Vanessa Mangile, advogada que representa as famílias dos rapazes velados, alega que a confusão começou porque os PMs estariam fazendo um patrulhamento em frente ao local da cerimônia fúnebre>
"Houve patrulhamento da polícia militar nas imediações do velório, bem como a parada de uma viatura em frente ao local, o que gerou indignação por parte dos familiares dos jovens alvejados na noite anterior", disse.>
A presença dos militares teria incomodado os parentes dos rapazes. "Iniciou-se uma discussão entre os agentes e os familiares, momento em que os policiais decidiram levar algumas pessoas para o plantão policial por desacato, sendo uma dessas pessoas o irmão de um dos jovens que estava sendo velado", acrescentou a defensora.>
Após as agressões, a defesa diz que acompanhou o registro da ocorrência e que registrou o abuso por parte dos PMs. "A defesa segue acompanhando as providências".>
Rapazes velados foram mortos por suposto confronto policial>
O velório era realizado para o enterro dos jovens Guilherme Alves, de 18 anos, e Luís Silvestre, de 21. Ambos morreram em um suposto confronto com a Polícia Militar na última quinta, 17, na Comunidade do Jardim Vitória.>
Conforme a SSP-SP, em nota, policiais militares faziam uma operação na Comunidade do Jardim Vitória "quando foram surpreendidos" pelos suspeitos, "que atiraram contra a equipe". Os PMs, então, teriam revidado. Guilherme e Luiz foram atingidos e ambos morreram no local. Junto com os suspeitos, diz o órgão, foram localizadas drogas e armas, que foram apreendidas.>
O caso foi registrado pela Delegacia Seccional de Bauru como morte decorrente de intervenção policial, tráfico de drogas, associação para o tráfico, localização/apreensão de objeto e tentativa de homicídio. "As diligências prosseguem pela Polícia Civil em conjunto com a Polícia Militar, por meio de Inquérito Policial Militar (IPM)", diz a pasta.>
O boletim de ocorrência, que o Estadão teve acesso, informa que os três policiais na operação chegaram a disparar 27 vezes contra os rapazes com fuzil. Um dos agentes teria disparado seis vezes, com um fuzil calibre 7.62; outro também efetuado seis disparos com outro fuzil calibre 7.62; e um terceiro militar disparado mais 15 vezes, com um fuzil calibre 5 56.>
Conforme consta no B.O, os rapazes teriam usado uma pistola calibre .765 e um revólver calibre .38 e estavam a 20 metros de distância. Os policiais teriam atingido Guilherme três vezes - no abdômen, outro no joelho e um no tórax - e Luiz, na cabeça. No relato, os dois homens suspeitos teriam disparado 12 vezes contra os PMs.>
Na versão da polícia, mesmo depois de serem atingidos, ambos continuaram atirando contra os agentes, que efetuaram novos disparos para neutralizá-los, desarmá-los e chamar o resgate. A dupla acabou morrendo no local.>
Ouvidoria da PM pede apuração ‘rigorosa’ sobre o caso>
A Ouvidoria da Polícia Militar lamentou o comportamento dos PMs e determinou a abertura de um procedimento para solicitar à Corregedoria da PM uma apuração rigorosa sobre o caso, informou o ouvidor Cláudio Silva ao Estadão.>
"Nossa posição é por uma investigação rigorosa tanto das mortes decorrentes de intervenção policial ocorridas na quinta-feira, além de que também seja feita uma investigação sobre as razões da presença da PM no velório", diz Silva.>
O corregedor afirma que foi informado de que a comunidade Jardim Vitória estava "tomada pela polícia em algo que muito parecia uma perseguição", e afirma que pretende ir a Bauru para visitar o comando local e ouvir os moradores da região.>
"Fiz contato pessoalmente com o Comandante Geral, que me informou estar determinando apuração rigorosa. Foi quando pedi ao mesmo para que determinasse que a PM local colaborasse para a retomada da paz na comunidade. O Comandante disse que daria a ordem", disse Claudio Silva.>