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Regras e planos de expansão: veja como funciona o RH do PCC

Setor de RH da facção foi desvendado a partir do conteúdo extraído dos celulares do traficante Michael Silva, o Neymar do PCC

  • Foto do(a) author(a) Perla Ribeiro
  • Perla Ribeiro

Publicado em 22 de outubro de 2025 às 16:43

Regras e planos de expansão: veja como funciona o RH do PCC
Regras e planos de expansão: veja como funciona o RH do PCC Crédito: Reprodução

Considerada a maior facção do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) tem uma espécie de Recursos Humanos (RH) que passa orientações sobre posicionamentos eleitorais, define regras para o mercado de drogas, planeja expansão territorial a outros estados, como o Rio, e financia o custo das “filiais”. Isso é o que revela as mensagens apreendidas em um inquérito sobre o PCC, na avaliação de investigadores. As informações são do jornal O Globo.

Conhecido internamente como “Sintonia Final do Resumo”, o “setor de RH” da facção foi desvendado a partir do conteúdo extraído dos celulares do traficante Michael Silva, o Neymar do PCC. De acordo com a apuração, o departamento atua na “manutenção da ordem, hierarquia e controle” dentro da quadrilha. Um dos métodos é um “tribunal” sobre a conduta dos filiados, além de ameaças a quem “de alguma forma entra em conflito com os interesses do PCC”, como comerciantes, políticos e moradores das áreas dominadas pelo bando.

A investigação aponta que o “RH do PCC” cuidava do cadastro dos membros, o que incluía o “protocolo de retorno”, quando um criminoso era perdoado e voltava a integrar a facção. Em umo diálogo de julho de 2024, por exemplo, Silva foi cobrado a fornecer um levantamento sobre suspeitos que haviam sido mortos, especificando o “vulgo” (apelido no crime), a “quebrada” (origem do criminoso) e “se foi polícia ou alguém sem identificação”. Os pagamentos a cada uma das “células”, como são conhecidas as divisões regionais do PCC, também passavam pela estrutura.

Além de tratar de questões internas, a “Sintonia” também atuava na expansão do PCC a outros estados, como o Rio. Em outra mensagem, um comparsa identificado como Orelha informa a Neymar do PCC que estava escondido no Complexo da Maré, na Zona Norte da capital fluminense. “Já conversei com o amigo do Rio. Estão no aguardo para fazer o remanejamento”, afirmou Orelha em 7 de julho de 2024. O chefe, então, lhe manda conversar com “a final”, provável referência à Sintonia Final, formada pela cúpula do PCC. Orelha acata a ordem e termina o diálogo com a frase: “Bora revolucionar o Rio”.

Alguns dias depois, Orelha avisou que já estava “com a sintonia no pente e pronto para trabalhar”. Para a Polícia Civil de São Paulo, o traficante foi enviado ao Rio com a missão de realizar transações em nome da facção. De acordo com as investigações, o contato do membro do PCC era com a facção Terceiro Comando Puro (TCP), que comanda parte da Maré e estaria se unindo à organização paulista para fazer frente ao Comando Vermelho (CV).

Ex-morador de um apartamento em Santa Cecília, no Centro de São Paulo, Michael Silva costumava circular em um veículo de luxo pelas comunidades de São Paulo distribuindo cestas de Natal durante as festas do fim do ano. Em uma rara imagem obtida pela polícia, ele aparece vestindo a camisa da seleção brasileira.

Silva era um dos responsáveis por enviar recados da cúpula da facção aos demais integrantes, segundo a Polícia Civil paulista. Em julho de 2024, o traficante tratou do quadro eleitoral daquele ano e informou que as diretrizes para 2026 ainda estavam em estudo. A mensagem afirmava que caberia a cada comunidade definir o candidato que mais lhe trouxesse vantagens, independentemente do partido ou orientação ideológica. “Vamos deixar a critério de cada um em suas comunidades apoiar aqueles que trazem maiores benefício para sua região, sabendo que as eleições trazem trabalho e renda para as comunidades”, dizia o texto.

No mesmo mês, foi divulgado outro comunicado com advertências sobre o que a facção considerava irregularidades no mercado de drogas, como a venda via delivery em locais onde já há bocas de fumo. “Viemos através desta conscientizar todos que estão vendendo drogas em pedaços e no delivery irregularmente nas comunidades onde já existe biqueiras. Estão chegando várias ideias na ‘sintonia’ com descontentamento de seus respectivos donos por tais práticas irregulares”, alertava a mensagem.

Quando foi preso, em agosto de 2024, os agentes apreenderam um carro, joias, uma balança de precisão e os “celulares sujos”, como ele mesmo costuma chamar os aparelhos registrados no nome de terceiros e usados para discutir o dia a dia do crime. Um mês antes da prisão, ele enviou uma mensagem a um subordinado mandando que ele destruísse três telefones e os lançasse no Rio Tietê.

Em julho deste ano, Michael Silva foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo pelos crimes de organização criminosa e tráfico de drogas, com o agravante de ocupar posição de liderança na facção. Procurada, a defesa afirma que ele é inocente, que a investigação é “desastrosa” e acumula “diversas nulidades, que serão arguidas em momento oportuno”.