FOLIA

Carnaval: 70% dos abadás são vendidos para turistas

Paulistas, cariocas e sergipanos lideram o ranking de foliões em blocos e camarotes

  • M
  • Millena Marques

Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 05:00

Bloco Camaleão divulga data da entrega dos abadás
Turistas representam 70% dos abadás vendidos Crédito: Divulgação

A relação de amor do empreendedor carioca Rodolfo Araújo, 41 anos, pelo Carnaval de Salvador começou de forma inesperada. Em 2012, quando visitava o estado pela primeira vez, o plano era fugir da folia momesca soteropolitana e curtir as belezas naturais do distrito turístico de Praia do Forte, na Região Metropolitana. No entanto, os encantos carnavalescos da capital baiana fisgaram o carioca, que, desde então, integra o grupo de turistas que curtem o Carnaval em blocos e camarotes. Historicamente, esse número representa cerca de 70% dos abadás vendidos, de acordo com a direção do Quero Abadá.

No primeiro ano de folia, há pouco mais de uma década, Rodolfo Araújo curtiu dois dias do Carnaval, com o bloco Voa Voa e Jammil. De lá para cá, o carioca esteve presente em todas as edições da festa, com exceção dos anos de 2021 e 2022, devido à pandemia da Covid-19. Desde 2018, o folião desce para avenida todos os dias, intercalando entre blocos e camarotes e, eventualmente, pipoca.

Os ingressos para o Carnaval de 2024 foram garantidos em novembro de 2023, na promoção da Black Friday: o Me Abraça, com Durval Lelys, para o domingo, e o Eva, para o sábado. “O Eva é um bloco maravilhoso, não fica estupidamente lotado, e o Me Abraça é por causa da guitarra do Durvalino, que é diferenciada”, diz.

Rodolfo Araújo e a companheira curtindo o Carnaval no bloco Me Abraça
Rodolfo Araújo e a companheira curtindo o Carnaval no bloco Me Abraça Crédito: Arquivo pessoal

No levantamento feito pela Quero Abadá, São Paulo, Rio de Janeiro e Sergipe lideram o ranking de estados que mais mandam turistas para curtir o Carnaval de Salvador em blocos e camarotes. Os estados representam, respectivamente, 15%, 11% e 7% dos clientes. Turistas estrangeiros representam 5% do total. A maior parte vem de países vizinhos como o Chile e o Uruguai.

Cerca de 270 quilômetros separam a cidade de Itabaianinha, no interior sergipano, de Salvador. De carro, a viagem é feita em quase quatro horas, tempo que não é um problema para os foliões sergipanos. A biomédica e influenciadora digital Cris Vitório, 25 anos, fez esse percurso pela primeira vez no ano passado, depois de crescer em um lar apaixonado por Bell Marques.

"O meu amor pelo Carnaval de Salvador começou desde pequena. Minha família ouve muito Bell Marques e, quando eu escutei, aquilo me cativou", diz a biomédica, ressaltando o sentimento de segurança e conforto ao curtir o Carnaval em blocos ou camarotes.

Cris Vitório no Carnaval 2023
Cris Vitório no Carnaval 2023 Crédito: Arquivo pessoal

Neste ano, a folia conta com um aperitivo ainda mais especial: as comemorações dos 10 anos de bloco Vumbora e dos 45 anos anos do tradicional Camaleão, ambos comandados por Bell Marques. "Estou ansiosa para buscar meus abadás me jogar nessa festa que eu amo. Sair no bloco Camaleão é a realização de um sonho", afirma. Cris garantiu abadás para o sábado de Vumbora e a terça-feira do Camaleão. No domingo, 11, a influenciadora ainda curtirá a folia em um dos camarotes do circuito Barra-Ondina.

De acordo com Milton Moura, professor titular de História da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a escolha por blocos e camarotes tem relação com segurança, conforto e a busca por um público específico. "A maioria dos turistas gosta dos blocos que têm um público jovem maior e pessoas consideradas mais bonitas, com exceção de outros blocos, que não são por definição de classe média, mas há uma imagem de beleza", diz.

O historiador define o Carnaval como a apoteose do mundo tropical, justificando o ponto alto do número de turistas na capital durante o verão. "O Carnaval é a culminância do verão. É como se fosse a apoteose do mundo tropical, feliz, um 'liberou geral', e muitos turistas vem para isso", afirma, ressaltando o fator viral que diz respeito ao status estabelecido nas redes sociais por causa da folia.

"A pessoa agrega o momento vivido no Carnaval ao charme dela. Isso viraliza na mesma hora, em diversas redes sociais", afirma.

Procura

A busca pelos abadás começa muito antes do Carnaval: mais precisamente uma semana depois da realização da festa, quando os ânimos ainda estão à flor da pele. “Nesse período, a gente tem aquele fervor das pessoas que foram à festa e gostaram. Iniciamos as vendas, e eles já compram”, diz o sócio-diretor da Quero Abadá, Vitor Villas Bôas.

Depois do mês de março, o movimento diminui e só volta no segundo semestre do ano. Mas é em janeiro que a busca aumenta consideravelmente. “Devido ao carnaval desse ano ser no início de fevereiro, vendemos muitos abadás no mês de dezembro. Mas é em janeiro que temos o maior crescimento nas vendas”, afirmou.

Alguns camarotes já estão esgotados. Entre eles o camarote Salvador, que vendeu todos os ingressos de sexta-feira (09) e do sábado (10) e o camarote Club, que não tem mais ingressos para a sexta-feira (09).

Entre os blocos, o bloco Camaleão, liderado por Bell Marques, já não possui ingressos para o domingo, 11 de janeiro, dia mais badalado pelos foliões. “Os blocos mais procurados são os de Bell Marques, Durval Lélis e Xanddy Harmonia, além dos blocos das divas: Ivete Sangalo e Cláudia Leitte, que são os artistas da Bahia com uma grande projeção nacional”, diz Villas Bôas.

Ainda conforme o diretor da Quero Abadá, os abadás para os outros dois dias de Camaleão, segunda (12) e terça-feira (14), costumam esgotar 10 dias antes do Carnaval. Enquanto a segunda-feira do bloco Coruja, sob o comando de Ivete Sangalo, esgota uma semana antes da festa, historicamente.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo