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Larissa Almeida
Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 13:00
Em fevereiro de 2024, o Afoxé Filhos de Gandhy completa 75 anos de história. Fundado em 1949, por um grupo de trabalhadores negros do cais do Porto de Salvador, o grupo musical nasceu inspirado pela filosofia de não-violência de Mahatma Gandhi e, até os dias atuais, tem como principal compromisso a propagação da paz, igualdade e resistência cultural. Com uma história de altos e baixos, o grupo chegou a não ter condições de desfilar durante dois anos (1974 e 1975) e passou por reformulações, expandindo sua atuação para além da arte ao investir em criação de espaços sócio educacionais. Entrelaçado com os preceitos candomblecistas, o Afoxé também se tornou uma potência e referência na cultura afro-brasileira, conectando o ritmo do agogô com os rituais tradicionais do candomblé, que abrem os caminhos para seus carnavais. >
O CORREIO preparou uma linha do tempo dos momentos mais emblemáticos do Afoxé Filhos de Gandhy. Confira abaixo: >
Por volta das 10h do dia 18 de fevereiro de 1949, os estivadores do porto de Salvador estavam sentados ao pé de uma mangueira perto da sede do sindicato da categoria, preocupados com a falta de trabalho nos portos e a política de arrocho salarial, gerada pela crise do pós-guerra. >
Inconformados com a impossibilidade de o bloco carnavalesco "Comendo Coentro" desfilar, Durval Marques da Silva, conhecido como "Vavá Madeira", sugeriu a ideia de colocar um bloco na rua, após assistir a um filme chamado Gunga Din. A proposta era gastar o mínimo possível usando lençóis brancos amarrados ao corpo, trança de cebola na cabeça e tamancos malandrinha. Os instrumentos foram feitos a partir de barricas. >
Os colegas de Vavá Madeira, como Hermes Agostinho dos Santos, o Soldado; Manoel José dos Santos, Guarda-Sol, Almir Passos Fialho, Mica e muitos outros participaram da fundação do bloco. >
Ainda em fevereiro de 1949, os Filhos de Gandhy desfilaram no Carnaval como cordão (bloco). No primeiro dia, saíram apenas 36 participantes, apesar de terem sido registrados mais de 100 inscritos. O nome do Afoxé foi sugerido por Vavá Madeira, que explicou para os colegas a importância do líder hindu Mohandas Karamchand Gandhi, o Mahatma, que havia sido assassinado em janeiro de 1948. Para evitar represálias, o fundador Almir Fialho deu a ideia de mudar a grafia do nome Gandhi e trocar o ‘i’ por ‘y’. >
No ano de 1951, o bloco se tornou Afoxé por introduzir músicas afro e de matrizes africanas. Também passou a admitir trabalhadores de outras classes, para além dos estivadores. >
Lanceiros e fuzileiros passam a ser responsáveis por fiscalizar e assegurar a ordem dentro da folia dos Filhos de Gandhy. O camelo maior e o elefante também são novos elementos de destaque após a mudança de bloco para Afoxé. >
Enfrentando problemas financeiros e administrativos, o Afoxé deixou de desfilar no Carnaval em 1974 e 1975, após 25 anos de desfiles ininterruptos. O grupo foi despejado de sua sede e todas as suas alegorias foram jogadas na rua. >
Após a ausência dos carnavais anteriores, o Mestre Camafeu de Oxóssi assumiu a presidência a pedido da Junta Governativa e foi passado a ele um Livro de Ouro para ajudar no custeio do carnaval. Assim, os Filhos de Gandhy saíram do Campo do Tejo, no bairro IAPI, com menos de 100 pessoas. >
A partir de 1976, a associação passou a contar com a participação de artistas como Gilberto Gil e Jorge Amado>
Em 1980, chega ao fim o processo de junta governativa e tem início o sistema de eleições, que tem Djalma Passos como primeira liderança eleita. >
Raimundo Queirós é adotado para representar o Afoxé em desfiles e viagens por todo o mundo, devido à sua incrível semelhança física com Mahatma Gandhi. >
A Associação Cultural, Recreativa e Carnavalesca Filhos de Gandhy , que funcionava no antigo Colégio Azevedo Fernandes, no Pelourinho, passa a ter sua sede localizada na Rua Gregório de Matos, após doação do Governo do Estado. O espaço, até os dias atuais, funciona o ano inteiro com a administração e quadra de ensaio. >
O Projeto Gandhy Erê é desenvolvido pela Diretoria Executiva com intuito de desenvolver ações de caráter preventivo e promocional dentro de um suporte sociocultural. >
Visando ampliar a relação e criar uma aproximação maior entre a instituição, associados, familiares e seus dependentes e a comunidade do Centro Histórico, o Centro Cultural Gandhy Mirim, é criado e passa a fomentar ações e atividades culturais, esportivas, de lazer e reforço escolar em um trabalho socioeducativo e profissionalizante, atendendo integrantes de comunidades carentes, crianças e adolescentes em situação de risco, numa integração social. >
No Carnaval de 2006, os Filhos de Gandhy desfilam com um turbante azul-marinho. A mudança é alvo de críticas e revolta dos velhos associados. Muitos deixam o Afoxé, insatisfeitos com a nova gestão. >
Em 2013, a quadra de ensaios do Afoxé é reformada e o espaço da sede é ampliado. >
O Afoxé Filhos de Gandhy, em 2014, reformula no seu quadro percussivo uma banda exclusiva para eventos de maior porte midiático. >
No ano de comemoração dos 70 anos, a diretoria resolve mudar a roupagem do ensaio geral, que passa a ser denominado Festival Cultural da Paz, e começa a ser realizado no Largo do Pelourinho, gratuito ao público.>
O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>