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É seguro usar banheiro químico no Carnaval? Entenda como funciona

Especialistas explicam riscos de encostar na cabine e indicam a melhor forma de usar os sanitários

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 10 de fevereiro de 2024 às 05:00

Banheiros químicos no circuito
Banheiros químicos no circuito Crédito: Marina Silva/CORREIO

O look não tem muito brilho. Em geral, vai ser possível encontrá-lo sempre usando as mesmas cores - laranja, azul ou verde. Vez ou outra, alguns surgem no circuito com um visual mais modernoso, com cobertura de metal. O aroma peculiar permite reconhecê-lo à distância, naquela mistura de sentimentos como alegria, desespero e até arrependimento por eventuais excessos. Se tem um folião cativo na folia, é ele: o banheiro químico.

Só este ano, serão cerca de 3,3 mil banheiros químicos e 90 sanitários contêiners disponíveis nos circuitos oficiais da folia, de acordo com a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb). Os mais tecnológicos, em estruturas metalizadas, são os do tipo contêiner, que podem chegar a comportar até 10 vasos sanitários, ter cuba de porcelana e até ar-condicionado.

Ainda assim, entre os foliões de carne e osso, são muitos os relatos de quem evita ao máximo ter que recorrer a essas estruturas. "Sei que é muito errado, mas evito beber muita água antes de sair. Mesmo que eu vá beber muita coisa na rua, a vontade é menor e tem distrações. Se deu vontade, vou atrás de algum trio, vou dançar para tentar esquecer", admite a publicitária Larissa Assis, 28 anos.

Se o ‘sufoco’ for maior, porém, ela diz que não tem como fugir dos banheiros químicos. Por isso, tenta ficar relativamente perto de uma área com sanitários quando sai para acompanhar a pipoca dos artistas que gosta. O banheiro público, porém, é descrito por Larissa como uma "prova de resistência". "Já fiz muito xixi em pé, xixi em garrafa, saco plástico... Tudo porque o medo de cair na sujeira era tremendo. Se estiver menstruada, é mais tenebroso ainda, por que é necessário papel. Então, costumo levar sempre pelo menos um pouco de casa".

Usar um banheiro compartilhado por centenas de pessoas pode mesmo trazer riscos à saúde. No entanto, há formas de minimizar esse risco e usá-los de forma menos vulnerável. De acordo com o presidente da Limpurb, Omar Gordilho, o objetivo da administração municipal ao disponibilizar os equipamentos é justamente que as pessoas evitem urinar nas ruas.

Limpeza

Ao contrário do sanitário de uma casa ou de um edifício, o banheiro químico tem uma caixa interna que faz com que a ligação com o esgoto não seja necessária. Assim, é como se a pessoa fizesse necessidades na própria caixa, de acordo com o diretor da empresa A Moderna Sany, Bruno Correia. A empresa é responsável por fornecer sanitários químicos para diferentes empreendimentos, como camarotes privados e de estruturas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.

"Você faz dentro do armazenamento, que é para onde vai a urina e as partes fecais. Tudo é armazenado dentro da caixa e depois um caminhão faz a sucção e a higienização da cabine, que é lavada com sabão", explica.

Depois dessa lavagem, as empresas colocam um produto do tipo de sachê. É um bactericida capaz evitar o mau cheiro. A frequência com que essa higienização acontece vai depender muito do fluxo de utilização. Se o sanitário está numa obra e apenas uma pessoa usa, por exemplo, é tranquilo fazer esse procedimento apenas uma vez na semana. "O produto que é colocado na caixa tem uma reação com as fezes. Ele tritura as fezes. Se você não colocar nenhum produto apropriado, o banheiro fica insuportável", diz Correia.

Essa limpeza só pode acontecer depois que o tanque é esvaziado e deve ser feita com equipamentos de alta pressão, de acordo com o biólogo e educador ambiental Paulo Gerson de Lima, professor da Universidade Potiguar e doutorando em Biotecnologia da Saúde. "Na parte superior dos banheiros químicos, há canos que ajudam a eliminar os vapores internos. Quando o vento sopra sobre a abertura do tubo de ventilação, cria-se uma espécie de vácuo. Os odores são ‘puxados’ para cima e para fora, evitando que eles se acumulem na própria unidade", explica.

No caso dos banheiros que ficam disponíveis na folia, a higienização é feita das 4h às 9h da manhã no caso daqueles que estão dentro dos circuitos, de acordo com o presidente da Limpurb, Omar Gordilho. Já os sanitários que ficam nas proximidades passam por essa operação até 11h. "Em cada bateria de sanitários existem prepostos atuando para realizar a manutenção constante da limpeza nesses locais e, uma vez por dia, todos os equipamentos são higienizados por sucção e lavagem", garante.

Capacidade

O número de banheiros disponíveis em um evento deve ser calculado levando em conta até a distribuição de bebidas no ambiente. Se trata-se de uma festa open bar, em que as bebidas são ilimitadas e gratuitas, por exemplo, é possível que as pessoas usem mais as cabines. Entre os sanitários disponíveis no circuito, a capacidade é de até 250 litros de dejetos, segundo a Limpurb.

"Os banheiros do tipo contêiner conseguem atender um público ainda maior, pois são diretamente ligados a rede de esgoto. Por isso, são instalados de forma estratégicas em pontos com maior concentração de público", afirma o presidente do órgão.

Se a quantidade de dejetos em um mesmo tanque for superior à capacidade deles - no caso, de 250 litros -, o banheiro vai transbordar, de acordo com o diretor de A Moderna Sany, Bruno Correia. "Se estiver cheio, o ideal é o responsável pelo evento isolar o banheiro. Geralmente, quando está muito cheio a pessoa acaba nem usando", explica.

O caminhão tanque que faz a sucção do material é levado para a estação de descarte da Embasa, que vai fazer o tratamento. Segundo a empresa, o esgoto entra na rede coletora e é direcionado para a estação de condicionamento prévio.

Comprar um banheiro químico dos mais simples, hoje, custa cerca de R$ 4 mil. A diária para aluguel, porém, fica em torno de R$ 100 a R$ 1000, dependendo da versão escolhida. A maioria das empresas oferece opções que variam entre static, luxo, super luxo e por aí vai. No super luxo, por exemplo, é possível usar a descarga sem ver os dejetos. Enquanto isso, a diária para alugar um contêiner com oito cabines fica entre R$ 6 mil e R$ 7 mil.

Sentar

As empresas costumam oferecer uma calculadora para estimar a quantidade mínima de sanitários de acordo com a duração de horas de um evento e o número de pessoas. Em um evento para 20 mil pessoas que dure 10 horas, por exemplo, é preciso ter pelo menos 376 banheiros.

Na experiência do diretor de A Moderna Sany, os banheiros feminnos acabam ficando mais sujos depois de uma festa. "Já fiz limpeza de banheiro feminino que tinha absorvente no teto e que a cabine estava toda ensanguentada. Tem gente que joga papel higiênico no vaso, em cima da cabine, no chão", lista.

Por isso, é importante evitar contaminação. O risco não é apenas relacionado ao assento, mas a outros pontos que também ficam propensos à sujeira, como aponta o biólogo Paulo Gerson de Lima, professor da Universidade Potiguar. "Itens como a tampa do vaso, a maçaneta da porta, as torneiras e até mesmo os sabonetes em barra podem estar tão contaminados quanto o próprio assento", alerta.

Usar o celular dentro da cabine também aumenta o potencial de contaminação, já que o contato com esses itens no banheiro pode levar microorganismos para a tela do aparelho. "É crucial adotar práticas higiênicas, como lavar cuidadosamente as mãos antes e depois do uso do banheiro, além da aplicação de álcool em gel", acrescenta, citando a doenças do tipo gastroenterite e hepatites.

Saúde

Por esses e outros motivos, sentar em um banheiro público não é indicado, como reforça a médica ginecologista Márcia Machado, professora da Universidade Federal da Bahia e conselheira do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb). "Por mais higienizado que esteja o o banheiro, existe uma acúmulo de fundos, bactérias e parasitas, pela alta frequência de pessoas".

No local, uma opção é fazer as necessidades sem encostar o corpo no vaso - seja em pé ou um tanto agachado. "As pessoas colocam o pé, o sapato, para se apoiar. Então são lugares que estão bastante estão contaminados".

A ginecologista explica que as maiores causas de infecção urinária estão ligadas a bactérias e fundos vaginais, no caso das mulheres. Por isso, a higienização é importante. Se for possível, a recomendação é lavar a região genital com sabonetes líquidos e neutros antes de ir para a festa. Depois da urina e das fezes, a pessoa deve secar a área.

"A gente recomenda que a pessoa leve um pacotinho com papel higiênico ou com lenços umedecidos. A gente não recomenda muito o uso dos lenços, mas eventualmente, no numa festa fora de casa, é importante a utilização dos lenços umedecidos, principalmente para o número dois (fezes)". Para o xixi, os lenços secos são mais recomendados, desde que sequem a região por completo.

Não é indicado passar mais do que quatro horas sem esvaziar a bexiga. Mais tempo do que isso sem fazer xixi significa que há riscos maiores de uma infecção. Beber muita água também é importante para evitar esses quadros "As pessoas ingerem bebida alcoólica, que desidrata a urina. Ela fica mais concentrada e pode ser mais arriscado a ter uma infecção urinária".

Usar fraldas ou absorventes para evitar ir ao banheiro não é indicado pela médica, porque favorece assaduras e proliferação de fungos. "As roupas também devem ser o mais folgadas e confortáveis possível. Como existe uma tendência usar roupas de Lycra justas, o ideal seria fazer essa higienização prévia e levar seu lencinho na bolsa".

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.