Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Possibilidade da presença de brancos tornou Ilê alvo de críticas

Bloco afro  foi acusado de 'racismo reverso' e de 'falso africano' por não permitir brancos nos desfiles carnavalescos

  • L
  • Larissa Almeida

Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 05:00

A top model britânica Naomi Campbell esteve em Salvador em 2008 e fez questão de se vestir com a indumentária do bloco afro. Na foto, ela posa ao lado do presidente Vovô
A top model britânica Naomi Campbell esteve em Salvador em 2008 e fez questão de se vestir com a indumentária do bloco afro. Na foto, ela posa ao lado do presidente Vovô Crédito: Antônio Queiroz/Arquivo Correio

Faltando menos de um mês para completar 50 anos de história, o bloco afro Ilê Aiyê se prepara para homenagear seus fundadores no Carnaval de Salvador 2024: Vovô e Popó, além de Mãe Hilda, líder espiritual que  abençoa os dois no tema e na trajetória . Em meio a agenda movimentada, Antônio Carlos dos Santos Vovô, presidente da agremiação e único homenageado vivo, conversou com a reportagem e mostrou ser inevitável visitar as memórias ao falar do aniversário bloco afro. Ele destaca que a resistência  sempre foi força propulsora para fundar e manter o  Ilê que, desde o início, enfrentou dificuldades, como a falta de aceitação popular e críticas contundentes da mídia na época da sua fundação.

“Quando saiu na imprensa a notícia de que haveria um bloco como o Ilê Aiyê, nós fomos muito hostilizados pela mídia. Fomos chamados de bloco racista, falso africano e de vermelho. Eles diziam que estávamos inventando, que na Bahia não existia racismo e nós que éramos racistas. Isso não bateu legal para a gente, mas ajudou a chamar atenção e, mais adiante, ajudou a nos fortalecer”, recorda.

A acusação de racismo se baseava no fato do bloco ser voltado exclusivamente para a população negra, sem admitir nem mesmo as tonalidades mais claras. Para sair no Ilê, o candidato tinha que dizer que era negro e não podia ter a pele clara, conforme conta Vovô. O método só se diferenciava dos outros blocos, frequentados por brancos, pela transparência e a inclusão daqueles que não residiam em áreas nobres. Isso porque, na década de 70, os negros e as pessoas de periferia que queriam sair nos blocos de mortalha eram barrados, sistematicamente, quando o único método de seleção era a apresentação de documento com foto e o endereço residencial.

Diante da desigualdade racial existente, os fundadores do Ilê e demais entusiastas do bairro da Liberdade se movimentaram para colocar o bloco na rua, no intuito de possibilitar que o povo negro também tivesse acesso à folia carnavalesca. É por isso que Vovô não se abala com a acusação da época. “Não tem esse negócio de racismo reverso. É racista quem tem poder para fazer racismo, quem tem poder aquisitivo”, ressalta.

Nos dias atuais, o bloco,  popular e muito mais aceito, é cobiçado por quem também deseja fazer parte do 'Mais Belo dos Belos'. A possibilidade dessa abertura, inclusive, chegou a ser cogitada em março de 2023, depois que o presidente da agremiação afirmou, em entrevista ao Blog do Marrom, do CORREIO, que pensava em flexibilizar as regras da entidade e permitir o desfile dos brancos neste Carnaval.

A fala causou polêmica e repercutiu entre personalidades e internautas. De um lado, houve questionamento ao anúncio por personalidades negras. Do outro, houve quem apoiasse e quem criticasse duramente a ideia. O ator Sulivã Bispo brincou com a personagem Koanza, mulher de forte identidade negra que interpreta nos palcos. “Me ligou chorando, ela está sem acreditar”, disse, ao saber da possibilidade de abrir o Ilê para pessoas brancas participarem.

A atriz e apresentadora Luana Xavier também se manifestou. “Acho bom tomar logo meu remédio de pressão, porque talvez a próxima notícia seja que mulheres não negras poderão concorrer à Deusa do Ilê”, escreveu, em referência ao concurso anual que elege a Deusa do Ébano, a rainha do Ilê, que surgiu justamente para enaltecer a mulher preta, sempre vetada em concursos de beleza de padrões eurocêntricos.

Por sua vez, a fundadora do bloco afro Ara Ketu Vera Lacerda defendeu a flexibilização. “Criei o Ara Ketu porque, na época, tentei fazer parte do Ilê e me disseram que eu não era negra o suficiente para poder desfilar. Então, criei um bloco onde todos que se identificam com as causas negras poderiam participar. Sou a favor dessa abertura. Fico feliz”, declarou na época.

Um internauta que aprovou a ideia logo que ela foi divulgada, destacou a importância da miscigenação. “Há anos, Menininha do Gantois abriu o terreiro para brancos e revolucionou o Candomblé. Espero que a decisão seja da mesma natureza que anos atrás”.

Após a avalanche de comentários, o Ilê desistiu da ideia. Na oportunidade, Vovô explicou que sua fala na entrevista ‘soou precipitada’. “Em respeito à luta e a tradição do Ilê, nestes 50 anos, ainda não é chegada a hora dessa abertura”, disse.

“Os brancos serão sempre bem-vindos nas festas, shows e ensaios do bloco. Mas o desfile do ‘Mais Belo dos Belos’ no Carnaval de Salvador tem a sua beleza no agrupamento festivo e exaltação de pessoas de pele preta e assim permanecerá sendo”, afirmou o Ilê em trecho da nota oficial.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro