Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Fernanda Varela
Publicado em 25 de junho de 2025 às 05:31
Nathálya Moreira dos Santos, 29 anos, mãe de duas meninas e feirante no Rio de Janeiro, viveu por mais de um ano com sinais que pareciam inofensivos: uma coceira persistente, fadiga constante, suor excessivo durante a noite. Chegou a pensar em alergia, estresse e até no ar-condicionado quebrado. O diagnóstico veio apenas em 2024: linfoma de Hodgkin em estágio 4.>
Nathálya Moreira
“Meu mundo desabou, eu só sabia chorar”, contou Nathálya em entrevista à revista Crescer. O primeiro sintoma, segundo ela, apareceu ainda em 2022. Era uma reação intensa ao consumir álcool. “Era algo que eu jamais imaginaria estar relacionado ao câncer. No começo, era só um incômodo forte, mas com o tempo foi piorando muito”, lembrou.>
A cada gole, surgiam dores de cabeça e desconforto no corpo. Embora incomum, esse é um sintoma presente em 2% a 5% dos casos de linfoma de Hodgkin, segundo dados do British Medical Journal. Com o tempo, outros sinais surgiram: cansaço extremo, coceiras, suor noturno e, por fim, caroços no pescoço. “Achei que fosse íngua. Ele aparecia e sumia, então não dei muita importância”, contou. Em julho de 2023, o linfonodo surgiu dolorido e quente. Foi o alerta definitivo.>
A tomografia revelou linfonodos aumentados também no pulmão. Após exames e biópsia, o diagnóstico veio em abril de 2024: linfoma de Hodgkin, estágio avançado. Em junho, começou a quimioterapia. “Me debilitou muito”, relatou. Atualmente, Nathálya faz imunoterapia e se prepara para um transplante autólogo de medula óssea, em que será sua própria doadora. “É um tratamento mais tranquilo, sem muitos efeitos colaterais”, disse.>
Filhas como apoio>
Mãe de Elisa, de 8 anos, e Isis, de 2, Nathálya só compartilhou a doença com a filha mais velha. “Contei para ela que a mamãe estava doente, que perderia os cabelos, iria muito ao hospital e poderia não estar bem para brincar. Pedi que ela rezasse para eu ser curada.” Elisa, que é autista, se interessou pelo assunto e passou a pesquisar sobre câncer. “O maior sonho dela é que eu seja curada. Às vezes, do nada, ela pergunta: ‘Mamãe, promete que você não vai morrer e me deixar?’”>
Já Isis ainda não entende o que está acontecendo. Mas, para Nathálya, as duas são sua principal motivação. “O diagnóstico me transformou por completo. Hoje, valorizo muito mais o tempo com minha família, aprendi a desacelerar, cuidar mais de mim antes de cuidar dos outros e levar a vida com mais leveza.”>
Câncer silencioso>
Nas redes sociais, Nathálya encontrou uma forma de desabafar e alertar outras pessoas. Um vídeo publicado no Instagram em que fala sobre os sintomas, já ultrapassou 2 milhões de visualizações. “O câncer é muito silencioso. Os sintomas passam despercebidos na correria do dia a dia. Muita gente não imagina que uma coceira ou cansaço podem ser sinais da doença. Quando o diagnóstico vem, muitas vezes já está em estágio avançado.”>
Por isso, ela concentra sua mensagem em adolescentes e jovens adultos, grupo mais afetado pelo linfoma de Hodgkin. “A maioria deles está nas redes sociais. E eu fico feliz em saber que estou levando informação para esse público. Eu queria ter tido essas informações antes. Tenho certeza que teria procurado ajuda mais cedo.”>
O que é o linfoma de Hodgkin>
O linfoma de Hodgkin é um tipo raro de câncer que atinge o sistema linfático, responsável pela defesa do organismo. O tumor é caracterizado pela presença das células de Reed-Sternberg, que se misturam às células normais de defesa. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil registrou cerca de 3.530 novos casos da doença em 2023.>
Os principais sintomas incluem:>
* Linfonodos aumentados, principalmente no pescoço, axilas ou virilha>
* Tosse, dor no peito ou falta de ar (caso o tumor atinja o tórax)>
* Febre, suor noturno e perda de peso (conhecidos como "sintomas B")>
* Coceira intensa e dor após ingestão de álcool (mais raro)>
O diagnóstico é feito por biópsia do linfonodo, exames de imagem e, em alguns casos, biópsia da medula óssea. O tratamento inclui quimioterapia, radioterapia e, em casos mais avançados, transplante de medula. Quando detectado precocemente, o linfoma de Hodgkin tem altas chances de cura.>