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Gabriela Cruz
Publicado em 17 de dezembro de 2016 às 08:30
- Atualizado há 2 anos
Grafiteiro, palestrante, empreendedor social... Ele já foi chamado de vários nomes, mas, hoje, se considera artevista. Paulista de 30 anos, Mundano é o idealizador do trabalho Pimp my Carroça, que visa reconhecer e valorizar os catadores de material reciclável, “verdadeiros heróis invisíveis das ruas de todo Brasil e do mundo”, diz. É dele, inclusive, a curadoria da exposição #Reciclos - A Arte da Reinvenção, em cartaz no Mercado Iaô. O evento, aliás, dará uma pausa depois da próxima edição, amanhã, voltando nos domingos a partir de 8 de janeiro.Por que o nome Mundano? >
Mundano vem do meu trabalho mais crítico. O nome é para falar um pouco sobre os prazeres mundanos e materiais que a sociedade impõe e que a gente, às vezes, fica cego e esquece dos verdadeiros valores importantes nessa vida. Mundano e o projeto Pimp My Carroça(Foto: Divulgação)Como é seu trabalho? Você é um grafiteiro?>
Hoje eu me considero um artevista. Já fui chamado de pichador, grafiteiro, empreendedor social, palestrante... Vários nomes. Mas, na verdade, o que importa é o trabalho que realizo usando o grafite em prol de gerar manifestações que causem impacto na população, principalmente no espaço público que o mais democrático e acessível a todos. Dentro disso, criei o projeto Pimp My Carroça que é uma grande intervenção urbana em formato de mutirão onde a gente reforma, reconhece e valoriza os catadores de materiais recicláveis - verdadeiros heróis invisíveis das ruas de todo Brasil e do mundo. O projeto se tornou colaborativo e hoje já passou por mais de 38 cidades, inclusive fora do Brasil. E como surgiu a ideia do Pimp my Carroça? >
Ele surgiu em 2012, de uma vontade que eu tinha de amplificar ainda mais o trabalho que eu já realizava desde 2007 com os catadores de materiais recicláveis. Era uma coisa que eu fazia sozinho, meu ativismo de pintar as carroças, aumentar a autoestima do catador, dar um pouco de voz para as questões que eles queriam levantar. Afinal, eles prestam um serviço público, né? Quando eles reciclam, estão fazendo limpeza pública, coleta seletiva e logística reversa dos materiais, e não são remunerados por isso. Quando eu o transformo em um movimento colaborativo, aberto, muitas habilidades são adicionadas com os voluntários de diferentes áreas. E foi assim que o projeto conseguiu circular o Brasil e o mundo, dando mais visibilidade e reconhecimento para os catadores. Qual a importância do grafite para a discussão de temas relevantes para a sociedade?>
O grafite é uma grande ferramenta de comunicação e de extrema importância na atual conjuntura do Brasil, uma vez que ela é uma arte livre, que vem sem perguntar e pode deixar uma mensagem de forma muito mais interessante, dialogando com a sociedade. O grande segredo do sucesso do grafite como essa ferramenta é por ele estar na rua, democrático. A gente que vive num país muito elitizado, onde cerca de 90% da população nunca foi em uma exposição de arte ou frequentou um museu. O grafite é uma forma de levar a arte para o cotidiano das pessoas. O grafite é uma grande ferramenta de comunicação e de extrema importância(Foto: Thiago Dezan/Divulgação)Como foi o processo para a exposição #Reciclos?>
Por conta dessa minha trajetória no universo do grafite, artístico, ativista e também com o trabalho com os catadores de materiais reciclados, fui convidado para ser o curador da exposição itinerante #Reciclos. Foi um desafio de um encontro que eu já tenho trabalhado que é o de usar a arte para gerar reflexões nas pessoas. Hoje em dia, a gente não tem que apenas reciclar mais, a gente também tem que mudar os nossos hábitos de consumo, procurar não gerar tanto lixo, tantos resíduos sólidos. A exposição tenta levar isso de um modo diferente, por isso procurei convidar artistas renomados internacionalmente, iniciantes e até catadores de materiais recicláveis para fazer parte desse projeto. Eu desafiei cada artista a trabalhar com um material específico e dar uma nova forma, para juntos levar uma informação sobre aquilo.>
Em que momento o Pimp my Carroça, os artistas da exposição, o Instituto Akatu, a Rede Educare e os outros parceiros envolvidos se encontram nesse processo para chegar à exposição?>
A Rede Educare foi a responsável por escrever o projeto, juntar os atores que são de fundamental importância e me convidou para ser o curador. O Instituto Akatu veio para agregar conteúdo. E assim a exposição está conseguindo levar arte e conteúdo para população de uma maneira diferente. Estamos muito felizes de ter a exposição montada no Mercado Iaô, que está recebendo uma quantidade de visitantes incrível e dando um feedback muito positivo. Espero que #Reciclos consiga envolver outros artistas de Salvador e que possa continuar nos ajudando a refletir sobre os nossos padrões de consumo. >