ESG: o mundo real bate à porta das corporações

Não se pode tratar de um tema tão complexo como a transição energética de forma superficial e com excessiva preocupação de marketing

Publicado em 24 de março de 2024 às 11:18

Entre 2020 e 2022, no auge das discussões sobre transição energética grandes corporações do setor de petróleo, mineração, química, montadoras de veículos, dentre outras, anunciaram ambiciosos planos de redução das emissões líquidas de gases de efeito estufa para chegarem à zero emissão.

Em pouco tempo, porém, a realidade falou alto e essas indústrias que “ganharam pontos” com a opinião pública e a comunidade da sustentabilidade/ESG, agora dão sinais de arrependimento e revisam suas metas e discursos.

Depois de a BP revisar suas metas e prazos para redução de emissões, dessa vez foi a Shell que viu suas vendas de energia renováveis não decolarem e um aumento na procura do gás e do gás liquefeito, a ponto de afirmar publicamente que está aí a principal fonte da energia da transição energética.

E mais, em relatório publicado no dia 14 de março, a Agência Internacional de Energia elevou sua previsão para a alta por demanda global por petróleo para este ano, revisando número anteriormente publicado.

Não se pode tratar de um tema tão complexo como a transição energética de forma superficial e com excessiva preocupação marketing.

De outro lado, a JBS tem sido alvo de severas críticas nos EUA após publicizar seu compromisso de zerar suas emissões até 2040 sem apresentar um plano viável para tal. A empresa já está sendo processada pela procuradoria-geral do Estado de Nova York e não conseguiu ter seus papeis listados na bolsa de Nova York, por conta do greenwashing.

A sociedade está atenta aos movimentos das empresas e os exagerados anúncios sobre suas ações de sustentabilidade realizados com pompa e circunstância serão os mais analisados e escrutinados.

Isso evidencia a importância que a adoção de uma agenda ESG é fundamental para as corporações, deixando claro que não há que se falar em investimento sem que a empresa demonstre que adota boas práticas de governança corporativa e que tenha uma atuação comprometida com a redução e mitigação dos impactos que causa ao meio ambiente e à sua cadeia de valor.

Os Ministérios Públicos Estadual e Federal têm utilizado os relatórios de sustentabilidade das empresas como importante instrumento de evidência de contradição entre discurso e prática quando há violações às normas ambientais.

E por falar em relatórios de sustentabilidade, a partir de 2026 as empresas com papeis listados serão obrigadas a fazer seus reportes evidenciando ao mesmo tempo os temas ESG e financeiros e, finalmente, esses documentos serão auditados.

Quem está pensando que ESG é somente mais um tema para discussões polarizadas vai ficar para trás. E não, o ESG não morreu, mas a superficialidade com que vem sendo tratado vai desaparecendo e dando lugar a análises criteriosas.

Augusto Cruz é sócio da AC Sustentabilidade