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Da Redação
Publicado em 21 de fevereiro de 2022 às 05:00
- Atualizado há um ano
A prefeitura de Salvador está substituindo professores especialistas das áreas de artes e educação física, por pedagogos, nos 1º e 2° anos do ensino fundamental. Profissionais formados em cursos de educação física e artes, da noite para o dia, viram seu valor ser desprezado de forma irresponsável e inconsequente, pela secretaria de educação do município.
Bem, Platão, no livro A República, considerava que os três pilares de formação do indivíduo eram o intelecto, o espírito, e a saúde física. Um equilíbrio que remete ao ditado: mente sã em corpo são.
Para essa formação, a pessoa seria educada através da filosofia – que, à época, compreendia um sentido amplo que ia das ciências às reflexões mais humanísticas –, e assim desenvolvia seu intelecto.
Para a saúde física, para um corpo são, a educação física.
E para a ligação entre corpo e mente, para formar no cidadão uma sensibilidade, uma elevação do espírito, as artes.
Uma pessoa com intelecto bem formado, mas sem saúde e sensibilidade, não poderia se transformar num cidadão importante para uma sociedade. Não poderia, não. Não pode. São três pilares que funcionam como um tripé. Qualquer das pernas que se retire, a estrutura humana desaba. Seja caindo doente pelas questões do corpo, seja doente internamente, à falta de sensibilidade e intelecto.
Não há nenhuma crítica que se faça aos problemas atuais (eternos?) da humanidade, que não passe por ao menos um dos três pilares da educação. É recorrente vermos como as redes sociais jogam uma lupa sobre esses problemas de forma instantânea.
Quanto à formação intelectual, discussões sobre nazismo e comunismo, sobre ditadura e liberdade de expressão, sobre direitos das minorias e financiamento público das artes, tudo isso mostra o quanto há um gigante déficit intelectual nas discussões, e opiniões embasadas em memes de zap e sites duvidosos valem tanto ou mais que a opinião de especialistas, estudiosos, cientistas e pesquisadores.
Relativo à educação física, a preocupação mundial cada vez maior com a saúde, os problemas de sedentarismo e doenças decorrentes disso, já são questões mais que suficientes para se entender que é preciso, desde a mais tenra idade, que as atividades físicas façam parte de um cotidiano.
Bem, entramos nas artes. A cultura é construída a partir de códigos próprios, diferentemente da natureza. Assim como aprendemos matemática, geografia e português, também aprendemos música, teatro, artes visuais. Não necessariamente para sermos artistas. Não aprendemos matemática para ser matemáticos, nem física para sermos físicos. E aí, claro, há uma discussão sobre como realmente se transmitir e se trocar conhecimentos sobre áreas exatas sem que seja maçante e desinteressante. Ou como levar mais a sério o ensino das artes; e para isso cursos de licenciatura passaram a ser criados, para uma melhor formação de professores de teatro, dança, artes visuais, por exemplo.
Sabemos de todo o déficit que temos na educação e formação de crianças. Professores ganhando mal, falta de equipamentos e locais adequados para atividades, evasão e dispersão na sala de aula. Em vez de melhorar as condições e formação dos docentes e das escolas, a prefeitura despreza especialistas fundamentais na formação do indivíduo.
É comum vermos qualquer um soltar o chavão: “o problema do país é a educação’, ou “a educação é que muda o país”.
Na prática, parece que ficarmos mais ignorantes, insensíveis e doentes é o verdadeiro projeto de nação.